TERRA AFECTADA POR EXPLOSÃO ASTRONÓMICA

Esqueça o "Dia da Independência" ou a "Guerra dos Mundos". No passado mês de
Dezembro, uma explosão cósmica monstruosa mostrou que a Terra corre maior
perigo devido às ameaças reais do espaço do que devido às hipotéticas invasões
alienígenas.

A explosão de raios-gama, que por breves instantes ofuscou o brilho da Lua
Cheia, ocorreu no interior da Via Láctea. Embora à distância de 50 000 anos
luz, a explosão teve um efeito disruptivo na ionosfera da Terra. Se esta
explosão tivesse ocorrido num raio de 10 anos-luz da Terra, destruiria grande
parte da camada de ozono, provocando assim extinções devido ao aumento de
radiação.

Astronomicamente falando, esta explosão ocorreu no nosso quintal. Se tivesse
ocorrido na nossa sala de estar, estaríamos numa "situação complicada"!

Detectada a 27 de Dezembro de 2004, a explosão gigante proveio de uma estrela
de neutrões exótica e isolada, no interior da Via Láctea. Este evento
explosivo foi mais potente do que qualquer outro previamente registado na
nossa galáxia.

Para ver uma concepção artística da expansão da explosão de raios-gama
ocorrida na estrela de neutrões, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/explosao.jpg

Para os astrónomos, assim como para uma estrela-de-neutrões, este evento
poderá ser um daqueles que só ocorrem uma vez na vida. Tinha-se conhecimento
de apenas outras duas explosões gigantes nos últimos 35 anos, e o evento do
passado mês de Dezembro foi cem vezes mais potente.

O recém-lançado satélite Swift, da NASA, e o Very Large Array (VLA), foram
dois dos vários observatórios que observaram o evento, proveniente da estrela
de neutrões SGR 1806-20, localizada a cerca de 50 000 anos luz da Terra na
constelação de Sagitário.

As estrelas de neutrões formam-se a partir de estrelas colapsadas. Estas são
densas, altamente magnéticas, a sua velocidade de rotação é elevada e o seu
diâmetro é de apenas 20 quilómetros aproximadamente. Possuidora de um campo
magnético ultra-forte capaz de retirar informação de um cartão de crédito a
uma distância equivalente a metade da distância Terra-Lua, a SGR 1806-20 é uma
estrela de neutrões invulgar designada por "magnetoestrela"

Entre as várias estrelas de neutrões existentes na Via Láctea, são conhecidas
apenas 10 "magnetoestrelas". Felizmente, nenhum destes objectos se encontra
num local próximo da Terra. Uma explosão como esta que tivesse lugar num raio
de uns poucos biliões de quilómetros poderia realmente estragar o nosso dia.

O campo magnético poderoso da "magnetoestrela" gerou a explosão de raios-gama
num processo violento conhecido como "reconexão magnética", que liberta
grandes quantidades de energia. O mesmo processo, numa escala muito menor, dá
origem às espículas solares.

Esta erupção foi uma super-super-super espícula solar em termos de energia
libertada.

Com o auxílio do VLA e de outros três radio-telescópios, a equipa responsável
por esta descoberta detectou material ejectado pela explosão à velocidade de
três décimos da velocidade da luz. Esta velocidade extrema, juntamente com
uma visão próxima do evento, permitiu observar mudanças de brilho numa questão
de dias.

A descoberta de uma explosão de raios-gama tão próxima como esta, ofereceu aos
cientistas uma vantagem enorme, permitindo que estes a estudem com um detalhe
nunca antes conseguido. Pode-se de facto observar a estrutura resultante da
explosão, e ver a forma como varia de dia para dia. Essa combinação é
completamente sem precedentes.