"NOVAS OBSERVACÕES DE UMA GALÁXIA FORA DO VULGAR"
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Para além do inegável interesse científico que
representam, muitas das imagens que têm vindo a ser
obtidas com o telescópio VLT do ESO, desde que este
entrou em funcionamento há cerca de 1 ano, são também
de uma extrema beleza. Este é, por exemplo, o caso
das novas observacões da famosa galáxia espiral
Messier 104, mais conhecida pelo "Sombrero" (o chapéu
mexicano) devido à sua forma particular.
Os astrónomos Peter Barthel e Mark Neeser, do
Instituto Kapteyn (Holanda), combinaram três imagens
obtidas usando diferentes filtros na câmara FORS1,
montada naquele telescópio, para assim obter uma
belíssima imagem a cores da galáxia do "Sombrero".
Dada a distância a que se encontra esta galáxia
(ver abaixo), a sua imagem cabe perfeitamente no
campo de visão da câmara FORS1 (um quadrado de
6.8 minutos de arco* de lado). Estes novos dados
revelam uma grande quantidade de pormenores, desde
as intrincadas estruturas existentes na faixa de
gás que se encontra no plano equatorial da galáxia,
até às variadas galáxias situadas muito para lá
de Messier 104 - que por isso aparentam um tamanho
francamente inferior mas cujo brilho se detecta
ainda através das regiões mais periféricas e menos
densas desta galáxia.
O "Sombrero" está localizado na constelação da Virgem,
a uma distância de cerca de 50 milhões de anos-luz.
A resolução da nova imagem é de, aproximadamente,
0.7 segundos de arco no plano da câmara, o que
corresponde a 170 anos-luz, se considerarmos a
distância que nos separa daquela galáxia.
A Messier 104 é o centésimo quarto objecto do famoso
catálogo de nebulosas compilado pelo astrónomo francês
Charles Messier (1730 - 1817). Embora não a tenha
incluído nas duas primeiras edicões (que continham
45 objectos em 1774 e 103 em 1781), Messier acabou
por a anotar à mão, pouco depois, na sua cópia pessoal,
descrevendo-a como uma "nebulosa muito pouco brilhante".
A velocidade de afastamento desta galáxia relativamente
à Terra, estimada em cerca de 1000 quilómetros por
segundo, foi inicialmente medida pelo astrónomo
americano Vesto M. Slipher no Observatório de Lowell
em 1912; este investigador foi também o primeiro a
detectar o movimento de rotação daquela galáxia.
O "Sombrero" é particularmente notável pelo seu
bulbo central que domina a estrutura da galáxia,
sendo este composto pricipalmente por estrelas
evoluídas, e pelo seu disco, visto de lado, que é
formado por estrelas, gás e partículas de poeira de
estrutura intrincada. A complexidade destas poeiras
revela-se nitidamente em contraste com o núcleo
brilhante da galáxia mas também nas faixas escuras
em que se distribui ao longo do disco galáctico.
Estas zonas encontram-se obscurecidas devido ao facto
de os grãos de poeira absorverem a luz emitida pela
galáxia e a irradiarem posteriormente em comprimentos
de onda maiores (por exemplo no infra-vermelho).
A imagem obtida com o VLT mostra ainda uma quantidade
de pequenos objectos de luminosidade fraca e difusa
espalhadas pelo halo da Messier 104. A maior parte
destes sistemas são enxames globulares de estrelas,
isto é, aglomerados de estrelas com uma história
comum, do mesmo tipo daqueles que se encontram na
nossa propria Galáxia (a Via Láctea).
Cálculos e medicões efectuados pelos cientistas
revelam um aumento considerável na razão entre a
massa e a luminosidade da galáxia à medida que nos
aproximamos do núcleo de Messier 104. Também as
velocidade das estrelas são notóriamente maiores na
zona central daquela galáxia. Estas são indicacões
da possível presença de um corpo extremamente maciço
no centro do "Sombrero": um buraco negro cuja massa
se estima ser 109 vezes a massa do Sol!
Vale a pena ver a imagem do "Sombrero" em:
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2000/phot-07-00.html
Algumas características da galáxia do "Sombrero":
Coordenadas:
ascensão recta: 12h 39m 59.4s (equinócio 2000)
declinação: -11graus 37minutos 23segundos (equinócio 2000)
A sua magnitude visual é de 8.98.
Diâmetros: 8.7 minutos de arco por 3.5 minutos de arco
A constelação da Virgem, que indica a direcção em que
se pode observar Messier 104, é bem visível no céu de
Março, estando praticamente no zénite às 23h do dia 16
deste mês.
*1 minuto de arco é a distância compreendida num ângulo
cuja abertura é 1 minuto, ou seja, a 60ésima parte do grau.