CASSINI-HUYGENS: A EXPLORAÇÃO DE SATURNO E DAS SUAS LUAS

A missão internacional Cassini-Huygens está prestes a começar uma viagem
inesquecível de exploração do planeta Saturno, dos seus anéis e das 31 luas
que fazem dele um Sistema Solar em miniatura. Depois de uma viagem de sete
anos pelo espaço interplanetário, a Cassini-Huygens entra em órbita de
Saturno às 2:36 de amanhã, 1 de Julho.

A manobra de inserção em órbita é o ponto mais delicado da missão desde o
lançamento. Durante 96 minutos será ligado o motor principal, de modo a
reduzir a velocidade e permitir a captura suave da sonda pelo campo
gravítico de Saturno, que ganhará assim o seu primeiro satélite artificial.

Desde o lançamento em 15 de Outubro de 1997, a mais sofisticada sonda
planetária de sempre já percorreu 3500 milhões de km. Com um custo estimado
de 3000 milhões de dólares, tem a participação de 260 cientistas, a maioria
americanos, mas também de 16 países europeus. Na realidade trata-se de duas
sondas. A NASA construiu o orbitador Cassini, que contém 12 instrumentos
científicos e ficará em órbita de Saturno durante os próximos quatro anos. A
Agência Espacial Europeia forneceu o módulo Huygens, uma sonda de entrada
com seis instrumentos que mergulhará na atmosfera de Titã, a maior lua de
Saturno, em Janeiro de 2005.

O nome da missão é uma homenagem a dois astrónomos que deixaram parte do seu
legado científico ligado a Saturno e Titã: o franco-italiano Jean-Dominique
Cassini (1625-1712) e o holandês Christiaan Huygens (1629-1695). Huygens
dispunha das melhores lunetas da sua época, e com uma delas conseguiu
descobrir Titã em 1655 e interpretar correctamente a forma de Saturno,
supondo a presença dos anéis. Cassini era astrónomo do rei Luís XIV de
França quando descobriu quatro das luas de Saturno: Jápeto, Reia, Tétis e
Dione. Em 1675 viu que os anéis de Saturno se encontravam separados por uma
zona escura, a que hoje chamamos a Divisão de Cassini.

Saturno é o segundo maior planeta do Sistema Solar. É um gigante gasoso, o
menos denso do Sistema Solar, composto principalmente por hidrogénio. Contém
também numerosos compostos residuais, como o metano. A atmosfera tem uma
circulação tempestuosa, com ventos de velocidades muito diferentes a
diferentes latitudes, atingindo 1400 km/h sobre o equador. A interacção do
fluxo de partículas carregadas do vento solar com o campo magnético de
Saturno dá origem à magnetosfera e produz auroras nas regiões polares. O
sistema de luas de Saturno contém alguns objectos peculiares: Jápeto, que
tem dum lado a superfície mais escura do Sistema Solar e do outro reflecte
50% da luz que recebe do Sol, Mimas, um pequeno satélite que tem uma cratera
que mede quase um terço do diâmetro, ou toda uma série de luas irregulares
que foram capturadas tardiamente pelo campo gravitacional de Saturno. Mas o
que mais chama a atenção são os magníficos anéis, formados por miríades de
pedaços de gelo e rocha com tamanhos variados.

Titã é todo um mundo por direito próprio. Maior que Mercúrio ou a Lua,
contém a maior superfície do Sistema Solar ainda por explorar, e é o único
satélite a possuir uma atmosfera densa e um clima característico. Além da
Terra, é o único objecto do Sistema Solar com uma atmosfera constituída
maioritariamente por azoto, e dar-nos-á pistas preciosas sobre a evolução da
atmosfera primitiva terrestre, antes do aparecimento da vida. Durante os
próximos quatro anos serão realizados 45 sobrevoos de Titã com o objectivo
de estudar a composição da sua atmosfera, a sua meteorologia e a estrutura
interna.

O planetólogo Maarten Roos-Serote, do OAL, faz parte da equipa do
instrumento VIMS e é um dos cientistas envolvidos na missão Cassini. VIMS é
o acrónimo de Visible and Infrared Mapping Spectrometer, um instrumento
concebido para captar ao mesmo tempo imagens e espectros em luz visível e
infra-vermelha, e permitirá cartografar a temperatura e a composição das
atmosferas de Saturno e Titã.