HUBBLE DESCOBRE UM MUNDO GELADO PARA LÁ DE PLUTÃO
Astrónomos descobriram um corpo distante que parece ser o maior objecto
do cinturão de Kuiper, um corpo com metade do tamanho de Plutão que levanta
novas questões sobre a definição de planeta. O cinturão de Kuiper é constituído
por inúmeros pequenos objectos em órbitas em torno do Sol para além da órbita de
Neptuno, dos quais Plutão é um dos maiores. Por esta razão os objectos do
cinturão de Kuiper também se chamam objectos trans-neptunianos.
O referido objecto, 2002 LM60, apelidado informalmente de Quaoar, foi
descoberto em Junho em imagens obtidas pelo telescópio Oschin de 1,2 metros do
Observatório Palomar na California.
Depois da descoberta, os astrónomos pesquisaram os arquivos de vários
observatórios e encontraram Quaoar em imagens que datam de 1982, o que lhes
permitiu calcular a órbita do objecto. Descobriram então que Quaoar efectua
uma órbita quase circular à distância de 43 unidades astronómicas (6,5 mil
milhões de km) do Sol, isto é, mais de 1,5 mil milhões de km mais distante do
que a posição que Plutão ocupa actualmente.
Posteriormente, foram obtidas imagens do telescópio espacial Hubble. Tais
observações, efectuadas em Julho e Agosto passados e utilizando a nova câmera do
Hubble, permitiram concluir que o objecto tem um diâmetro aparente de 40
milisegundos de arco, correspondente a um diâmetro real de 1300 km. Isto torna
Quaoar o maior objecto encontrado no cinturão de Kuiper, uma zona de objectos
gelados que se extende por milhares de milhões de km para lá da órbita de
Neptuno.
O maior objecto do cinturão de Kuiper (OCK) até então descoberto era
2001 KX76, com um diâmetro estimado entre 960 e 1270 km. Estima-se que dois
outros OCK, Varuna e 2002 AW197, tenham um diâmetro de 900 km.
A descoberta de objectos trans-neptunianos de grandes dimensões como Quaoar
acontece numa altura em que a comunidade astronómica reconsidera o facto de
Plutão ser ou não um planeta. A descoberta de vários destes objectos,
fazendo estes parte duma população superior a 500 OCK descobertos na última
década, fez com que alguns astrónomos questionem o facto de Plutão - embora
ainda maior do que qualquer outro OCK - deva ser considerado um OCK ou um
planeta.
Não há dúvida de que a descoberta de Quaoar vem prejudicar o caso dos
que defendem que Plutão é um planeta pois alguns astrónomos defendem que se
Plutão tivesse sido descoberto hoje, ninguém sequer consideraria a hipótese
de lhe chamar planeta, visto que ele é visivelmente um objecto do cinturão
de Kuiper.
Por outro lado, outros astrónomos chamam à atenção de que Plutão é bastante
diferente de outros OCK. É significativamente maior do que qualquer OCK, com um
diâmetro de 2300 km. Isto faz com que Quaoar seja mais semelhante ao asteróide
Ceres do que a Plutão (em termos de tamanho, visto que o asteróide mede 933 km
de diâmetro). Também defendem que, embora vários OCK possuam luas, somente
Plutão tem uma lua de grandes dimensões Charon, sendo esta maior do que quase
todos os outros OCK. O albedo de Plutão, isto é, a sua taxa de reflexão, é
bastante mais elevada do que a de Quaoar ou a de outros OCK, sugerindo assim que
o planeta está sujeito a processos que mantêm os gelos à sua superfície sempre
frescos.
A maior parte das descobertas de objectos transneptunianos de grandes
dimensões efectuadas recentemente sugerem que existe uma vasta continuidade de
tamanhos de objectos do sistema solar, em vez de uma abrupta descontinuidade
entre grandes planetas e pequenos asteróides e OCK. A União Astronómica
Internacional (UAI) tem-se recusado nos últimos anos a tomar em mãos quer a
questão da reclassificação de Plutão quer a questão da melhor definição das
características de um planeta.
Devido ao facto de Quaoar só ter sido descoberto recentemente, a UAI
ainda não aprovou formalmente o seu nome, sendo que o objecto ainda é
formalmente conhecido por 2002 LM60. A origem do nome Quaoar deve-se à tribo
Tongva que vivia na área de Los Angeles: o nome tem que ver com o deus da
criação que "desceu dos céus; e, após transformar o caos em ordem, colocou
o mundo nas costas de sete gigantes. Ele criou então os animais inferiores,
e depois a humanidade."