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3 de Outubro de 2005

Portugal na rota de um Eclipse solar anular

  No próximo dia 3 de Outubro, Portugal estará na rota de um eclipse do Sol anular, cuja linha central passará pelas regiões do Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, avançando depois para Espanha e África. Os observadores que, na manhã desse dia, se encontrarem num local abrangido por uma faixa com largura máxima de 138 quilómetros, representada na figura 2, poderão, se usufruírem de céu limpo ou pouco nublado, testemunhar a passagem da Lua em frente ao Sol, que, no entanto, não chegará a ocultá-lo completamente. No máximo do eclipse, ver-se-á um anel luminoso a rodear o disco negro da Lua (fig. 1) - e daí a designação de "eclipse anular". Os observadores espalhados pelo resto do território de Portugal poderão testemunhar um eclipse parcial.

Observar o eclipse em segurança

  A observação solar acarreta sempre riscos. Os danos da observação directa do Sol não se resumem à imediata sensação de ofuscação. A fixação do olhar no Sol acarreta, de facto, a queima da retina, que é irreversível. Nunca olhe directamente para o Sol, a não ser com óculos especialmente concebidos para o efeito e homologados pelas autoridades sanitárias (tenha em atenção que óculos guardados de ocasiões anteriores, e.g. trânsito de vénus do ano passado, podem estar danificados e não conferir a necessária protecção). Independentemente da marca ou qualidade das lentes, não utilize óculos escuros vulgares. Rejeite totalmente soluções populares, mas perigosas, como o uso de radiografias, películas fotográficas ou vidros escuros. Tenha em atenção que, mesmo com grande parte do disco solar ocultado, a quantidade de radiação que chega aos olhos do observador é sempre suficiente para provocar danos. Se utilizar binóculos, telescópios ou câmaras, empregue filtros apropriados, devidamente acoplados à objectiva ou à extremidade do tubo óptico que recebe a luz, e nunca entre os olhos e as oculares! Uma opção mais segura consiste em projectar a imagem do Sol numa superfície branca, o que também permite efectuar observações colectivas. Em lojas especializadas poderão ser adquiridos solarscopes (também designados venuscopes), dispositivos de observação solar por projecção, especialmente adequados a contextos didácticos. Para mais informações sobre observação solar segura, consulte http://www.oal.ul.pt/vt2004 (secção "Segurança").

  Os eclipses já foram tema destas páginas centrais (v. O Observatório de Nov. 2003), mas convém recuperar o essencial do seu mecanismo. Para que se dê um eclipse solar ou lunar, é necessário que o Sol, a Terra e Lua se encontrem perfeitamente alinhados, ou quase. Quando essa condição é satisfeita na configuração Sol-Lua-Terra, a sombra da Lua é projectada sobre a Terra, ocorrendo então um eclipse solar. Na configuração Sol-Terra-Lua, é a Lua que passa pela sombra da Terra, ocorrendo então um eclipse lunar. Ao contrário do que se verifica nos eclipses solares, em que só os observadores posicionados numa faixa restrita da superfície terrestre podem testemunhar a ocultação do Sol pela Lua, um eclipse lunar é visível para todos os observadores que se encontram do lado da Terra em que é de noite.
  A Lua demora 27.3 dias a percorrer a sua órbita em torno da Terra, pelo que seria de esperar a ocorrência mensal de um eclipse lunar e de um eclipse solar, separados por um intervalo de 13.6 dias. No entanto, como os planos orbitais da Terra e da Lua fazem entre si um ângulo de 5º, só em certas circunstâncias se concretiza o alinhamento dos três corpos, o que faz com que, em vez de 24 eclipses por ano, ocorram apenas, no mínimo, dois solares, e no máximo um conjunto de sete (incluindo solares e lunares).
  Os eclipses totais do Sol dão-se devido à proximidade das dimensões angulares que a Lua e o Sol apresentam aos observadores na Terra, e que são da ordem de 30 minutos de arco (meio grau). É isso que permite que a Lua oculte totalmente o Sol. No entanto, como a órbita da Lua é elíptica, pode acontecer que um alinhamento dos três corpos se dê numa ocasião em que o astro se encontre no ponto mais afastado da sua órbita (apogeu) ou nas suas proximidades. Nesse caso, sendo o tamanho angular da Lua ligeiramente menor, não chega a ocultar totalmente o Sol, e dá-se então um eclipse anular, como o que terá lugar no dia 3 de Outubro.
  O último eclipse anular testemunhado em Portugal Continental deu-se em 1912; o próximo terá lugar em 2028. Perfila-se assim uma oportunidade a não perder. Resta escolher uma boa localização (tenha em atenção que no começo do eclipse o Sol ainda estará a altura baixa, pelo que deve ir para um sítio com horizonte desimpedido) e, como sempre, ter esperança de que as nuvens não comprometam o espectáculo. E, obviamente, não esquecer os procedimentos de segurança (v. caixa), para que a contemplação de um dos mais belos fenómenos astronómicos não se traduza em danos irreversíveis na visão.



(a) Tempo Legal (b) Diâmetro do Sol = 1

(a) Tempo Legal (b) Diâmetro do Sol = 1

Fig. 2 - Faixa de anularidade do eclipse de 3/Outubro/2005 em Portugal (adaptação de um mapa disponível em http://sunearth.gsfc.nasa.gov/eclipse).

Fig 1 - Aspecto de um eclipse anular, por altura da sua fase maior.
Para mais informações, consultar o sítio do OAL, www.oal.ul.pt, secção "Almanaques" - "Dados de 2005".


Alfredina do Campo
Pedro Raposo
OAL
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