A estrela, a anã e o planeta
Uma equipa internacional de astrofísicos descobriu uma pequena estrela anã a
orbitar uma outra estrela semelhante ao Sol. Esta última era já conhecida por possuir um planeta em órbita.
Esta descoberta pode ajudar a compreender melhor as condições em que se podem formar sistemas planetários.
A estrela HD3651 e a sua pequena companheira agora descoberta, a HD3651B. As outras pequenas estrelas na imagem são estrelas de fundo, não associadas ao sistema agora descoberto. Cortesia do ESO.
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Ao longo da última década os astrofísicos têm descoberto centenas de planetas extra-solares, a orbitar estrelas semelhantes ao nosso Sol. Na maioria dos casos estes planetas orbitam estrelas simples. No entanto, alguns planetas descobertos encontram-se em sistemas binários de estrelas. Embora as duas estrelas estejam em geral muito distantes uma da outra (o planeta orbita apenas uma delas), um hipotético habitante de um desses mundos poderia sem dúvida observar um céu com dois "sóis".
Em primeira análise, a existência de planetas em sistemas múltiplos de estrelas poderia não ser inesperada, já que a maioria das estrelas que vemos no céu são elas próprias sistemas binários. No entanto, a presença de uma estrela companheira pode influenciar, ou mesmo impedir, o processo de formação dos planetas. Por exemplo, se uma estrela tiver uma companheira próxima, o disco de gás e poeira onde os planetas se formam (quando a estrela é ainda jovem) pode ser destruído, impedindo que o material se condense dando origem a um sistema planetário.
Agora, uma nova descoberta realizada por uma equipa internacional de astrofísicos trouxe mais dados sobre esta questão. Utilizando o telescópio UKIRT de 3.8-m, no Hawaii, e o telescópio NTT (ESO, La Silla, Chile) os investigadores descobriram que a estrela HD3651, uma estrela para a qual foi descoberto em 2003 um planeta em órbita, possui uma pequena estrela companheira (denominada de HD3651B). Esta pequena estrela encontra-se 16 vezes mais distante da HD3651 do que Neptuno dista do Sol, e é uma das estrelas menos brilhantes descobertas até hoje. Segundo os cálculos dos astrofísicos, a HD3651B é uma estrela de tipo anã-castanha, e deverá ter apenas entre 20 e 60 vezes a massa de Júpiter (entre 2 e 6 centésimas da massa do Sol). A HD3651, é por si uma estrela semelhante ao nosso Sol que se encontra a aproximadamente 36 anos-luz da Terra, e pode ser observada na direcção da constelação de peixes.
Neste caso, o planeta que orbita a HD3651 encontra-se muito mais perto da estrela do que a estrela companheira, o que explica que este se tenha podido formar. No entanto, é interessante observar que planetas e anãs castanhas se podem formar em simultâneo em torno de estrelas semelhantes ao Sol.
Nuno Santos
CAAUL/OAL
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A formação de uma galáxia
Novas observações do Telescópio Espacial Hubble revelam o crescimento de uma galáxia de grande massa, à medida que galáxias mais pequenas vão colidindo com ela e sendo absorvidas. Esta é a melhor visualização até hoje obtida de um processo que se crê estar na origem da formação de galáxias de grande massa no Universo.
A complexidade da galáxia MRC 1138-262, rodeada de galáxias satélite presas no seu abraço derradeiro. Esta imagem do Hubble revela, em flagrante, a formação de uma galáxia de grande massa no seio de um proto-enxame de galáxias, agregando galáxias mais pequenas e crescendo à medida que as absorve. Cortesia: ESA, NASA, George Miley e Roderik Overzier (Observatório de Leiden, Países Baixos).
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Pensa-se que a formação de galáxias no Universo se processa, fundamentalmente, num cenário hierárquico de formação de galáxias grandes a partir da aglomeração de galáxias mais pequenas. Embora o processo de colisão entre galáxias tenha sido observado numerosas vezes, e pareça ser mais frequente no Universo primitivo, o modo como este crescimento galáctico se dá é ainda essencialmente desconhecido. As observações do Hubble agora publicadas mostram precisamente este processo a desenrolar-se.
A rádio galáxia MRC 1138-262, denominada pelos autores da investigação de galáxia "teia de aranha", era já conhecida como uma galáxia gigante com um super buraco negro activo no seu interior (revelado pela emissão rádio), a cerca de 10.6 mil milhões de anos-luz de distância. Sabia-se também que esta galáxia se encontrava rodeada de outras galáxias, um proto-enxame de galáxias em formação.
Com o recurso ao Telescópio Espacial Hubble, os astrónomos efectuaram uma observação muito profunda de toda a zona envolvente da MRC 1138, capaz de revelar toda a "acção" que se encontra a decorrer nas vizinhanças da galáxia. O resultado foi elucidativo: as galáxias que rodeiam a MRC 1138, até mais de 100,000 anos-luz de distância, apresentam sinais morfológicos (aparência alongada) indicativos de forte atracção gravitacional da galáxia massiva. As cores ópticas destas galáxias "mosca" (porque apanhadas na teia, segundo os próprios autores...) são indicativas de formação estelar apreciável (várias vezes a formação estelar observada na Via-Láctea), o que seria de esperar se estas galáxias se movimentam rapidamente, capturadas pela gigantesca MRC 1138,no ambiente denso do proto-enxame em formação.
Este é o ambiente ideal para testar os modelos teóricos da formação de galáxias de grande massa. A complexidade da estrutura que engloba a MRC 1138, agora observada com um detalhe sem precedentes, concorda qualitativamente com as previsões de tais modelos, mas a presença das galáxias alongadas acima referida é ainda motivo de surpresa por parte dos investigadores.
José Afonso
CAAUL/OAL
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