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Go forward to Fotografia Astronómica (III)
Os Nomes das Estrelas
(Palestra do Mês)
"Ensinai-me o nome das estrelas", pedia a
Marquesa de G. a Fontenelle na 1 noite dos seus
"Entretiens sur la pluralité des Mondes" -- a 1 obra
de divulgação astronómica (1686).
Um estranho encanto e mistério envolve os nomes das estrelas: Vindemiatrix, Polux, Procyon, Canopus, Albireo, Mizar... Como
apareceram? Que significam?
Pegando ao acaso numa publicação astronómica actual,
encontramos, para designar estrelas, expressões tão
variadas como, Sirius, 61 Cyg, RR Dor, SAO 2600, Goombridge
1800, PSR 1257+12b... Elas reflectem a sucessiva
complexidade da denominação estelar; é evidente que, com
os milhões de estrelas que os telescópios modernos nos revelam,
terá de haver um critério de identificação totalmente
diferente do dos primitivos astrónomos.
Virgílio (séc. I a.C.), diz que sem dúvida foram os
marinheiros que, pela 1 vez, sentiram a necessidade de
distinguir as estrelas "Então o timoneiro conta as estrelas e
dá-lhes nomes: estas são as Pleiades, estas as Hyades, aquelas
a Ursa, a brilhante filha do Liacon" (Geórgicas). Mas,
sem dúvida, variados foram os contributos. Os agricultores,
marinheiros e sacerdotes da Babilónia, Egipto e Grécia, muito
antes do nascimento de uma verdadeira astronomia, nomearam os
pontos luminosos mais evidentes que, de noite, enxameavam a abóbada
celeste.
Esses nomes, mais ainda que os das constelações, revelam-nos as
èpocas e as culturas passadas de que eles são testemunhas e
reflectem o fluir da astronomia ao longo da História. Assim,
aparecem-nos nomes clássicos, árabes ptolomaicos, árabes
tradicionais, e alguns, se bem que poucos, actuais. Para citar
apenas alguns exemplos:
- [(i)] Antares (o rival de Marte), Arcturus (o guardião da
Ursa), Capela (a cabrinha), Castor (um dos gémeos, filho de
Júpiter e de Leda) - são nomes gregos, que já aparecem no Catálogo de
Ptolomeu (cerca de 130 anos d.C.). Pertencem ao grupo dos clássicos.
Muitos deles aparecem mencionados na Bíblia e, Homero, Hesíodo, Tales, Eudóxio, Hiparco, bem como outros autores antigos, citam-nos. Estão ligados à mitologia grega e romana.
- [(ii)] Achernar (o fim do rio), Deneb (a cauda), Rigel (o pé), mais não são que a tradução literal da
descrição das estrelas na constelação respectiva, tal como Ptolomeu fez no seu catálogo de estrelas, incluido na sua obra, a
Syntasis mathemati-ca, que foi traduzida para o árabe no
séc. IX, ficando conhecida para sempre com o nome de Almagesto.
- [(iii)] Algol (o demónio) e Kochab (a estrela do
norte), são nomes próprios árabes que lembram a hegemonia
da astronomia islâmica durante todo o período da Idade Média.
- [(iv)] Mais recentes são: Mira (a maravilhosa),
nome dado por Hevelius à variável omega Ceti;
Piazzi, no seu Catálogo (1814), dá às estrelas
alpha e beta do Delfim os nomes de Sualocin
e Rotanev, inversão do nome do seu amigo napolitano
Nicolaus Venator.
- [(v)] para se guiarem no mar, os nossos navegadores precisaram "lá
no novo hemisfério" de novas estrelas; nomes, bem pouco
românticos aliás, foram por isso atribuidos a certas estrelas austrais.
Acrux, a alpha do Cruzeiro do Sul e
Atria, a alpha do Triângulo Austral
são disso exemplo; para a navegação espacial, aquando da preparação das missões Apolo, surgiram também: Dnoces
(iota UMa), Navi (gama Cas) e Regor
(gama Vel), inversão dos nomes próprios dos astronautas
Second E. White, Ivan Grissom e Roger Chaffee, mortos
em 1967.
- [(vi)] Hoje, apenas uma ou outra estrela, por alguma singularidade
que manifeste, recebe nome próprio: por exp, a Próxima ( alpha Centauri), a estrela conhecida mais próxima de nós e a
estrela de Barnard, a 1 estrela a suspeitar-se ter planetas.
O conhecimento da nomenclatura estelar, será, estamos certos, um
convite à contemplação do céu. Foi talvez ao observar a
abóbada celeste, que se colocaram ao homem os primeiros "porquês".
Como disse Platão (séc. IV a.C.) no Timeu: "Foram o dia e a noite, os meses, os períodos regulares das
estações, os equinócios, os solstícios, tudo coisas que observamos,
que originaram a invenção dos números, nos deram o conhecimento
do tempo, e permitiram especular sobre a natureza do Universo".
Dra. Alfredina do Campo