Os Nomes das Estrelas
(Palestra do Mês)

Objecto de admiraçãoem todos os tempos, Orionte é, com a Ursa Maior e as Pleiades, das constelaçõesmais antigas. Com excepçãodo "carro" da Ursa Maior, o "cinturão de Orionte" é provavelmente o mais conhecido e o mais popular de todos os grupos estelares. O nosso povo chama-lhe "as 3 Marias" ou "os 3 Reis Magos". Nos antigos catálogos, Orionte é representado por um caçador brandindo um maço, enfrentando o Touro celeste.Tem aos pés a Lebre e seguem-nos o Cão Maior e o Cão Menor.

O nome Orion vem do sumério Uru-anna, a Luz do Céu, título do herói caldeu Tamuz, o filho do Sol, que se terá tornado no Adónis grego dos tempos clássicos. Cerca de 5000 anos a.C., o "cinturão" de Orionte começava a ser visível, de madrugada, no mês de Tamuz (Junho). Era também neste mês que se celebrava a morte de Adónis. Homero descreve Orionte como "o mais alto e belo dos homens" e esta descriçãoadapta-se também a Adónis. No panteão assírio-babilónio, as estrelas principais eram personificaçõesde deuses; a multidão de estrelas não classificadas constituia "o rebanho do céu", cujo pastor era a constelaçãode Orionte.

Na mitologia egípcia, as almas de Osíris e de Ísis haviam-se imortalizado em Orion e Sirius, respectivamente. No Zodíaco de Denderah, Orionte, símbolo do deus Sol Hórus, é representado num barco cercado de estrelas, seguido por outro barco conduzindo Sótis, a estrela Sirius.

Numa lenda grega, Diana, a deusa-Lua, apaixonou-se perdidamente pelo belo e hábil caçador, passando muito tempo com ele. Seu irmão Apolo, o deus-Sol, furioso ao vê-la negligenciar os seus deveres de caçdora, enviou um escorpião para matar Orion. O escorpião mordeu Orion, que caiu ferido mortalmente.Zeus para consolar Diana, colocou Orionte entre as estrelas. Assim a deusa-Lua pode vê-lo quando viaja no seu carro de prata. A base astronómica do mito é o facto de a constelaçãode Orion se pôr exactamente quando a constelaçãodo Escorpião nasce, tal como se este perseguisse o herói. Noutro encantador mito grego, é a deusa da madrugada, Aurora, "a dos róseos dedos" no dizer de Homero, que persegue Orionte com o seu amor. Orionte foge. No céu de Inverno, quando Orion se põe no mar a oeste, as suas estrelas desvanecem-se muito lentamente, ou seja, a madrugada tenta retê-lo para poder ficar mais tempo a seu lado. Ao desaparecer Orionte, a Aurora derrama lágrimas amargas, que podemos ver nas flores, na relva, nas árvores de manhã: as gotas de orvalho.

Como constelaçãode Inverno, Orion estava associado ao mau tempo. Eneias, refere-se-lhe, ao relatar a tempestade que o apanhou na costa de África no seu caminho para Itália. Políbio, o historiador grego (séc. II a.C.), atribue a perda da esquadra romana, durante a 1$$a Guerra Púnica, ao facto de terem navegado já depois do "nascimento de Orion". Também Camões a isso se refere nos Lusíadas, Canto X, 88: "E do Orionte o gesto turbulento".

Situado numa zona excepcionalmente rica em objectos celestes interessantes e acessíveis para as observações, Orion é a constelaçãopara onde se apontam em primeiro lugar todos os telescópios. Alguns dos mais conhecidos:

$\alpha$ Ori, Betelgeuse (o ombro do gigante) é uma supergigante vermelha; se ocupasse o lugar do nosso Sol, incluiria Marte no seu interior;

$\beta$ Ori, Rigel (a perna do gigante), mag=0,1, a estrela mais brilhante da constelação, é também uma gigante, mas branco-azulada;

$\gamma$ Ori, Belatrix (a guerreira, a estrela amazona), mag=1,6;

$\sigma$ Ori, 5h 39m -3$o$ mag=3,8 é um dos mais impressionantes sistemas estelares múlti-plos. Ao lado da principal orbitam 2 companheiras, assemelhando-se a um planeta com as suas luas;

-a célebre Nebulosa de Orion, M42, uma gigantesca nebulosa de gás e poeira; no coraçãodesta nebulosa pode admirar-se $\nu 1$ Ori, que observada com um pequeno telescópio mostra ser um grupo de 4 estrelas, o conhecido Trapézio;

-a sul da estrela $\zeta$ Ori, a estrela mais à esquerda do cinturão, podemos observar a nebulosa da Cabeça do Cavalo, uma nuvem escura de pó.

Dra. Alfredina do Campo