Em Agosto de 1989, a Agência Espacial Europeia (ESA) lançou o satélite Hipparcos (High Precision Paralax Collecting Satellite) com o objectivo de realizar a medição das posições de milhões de estrelas com uma precisão nunca antes atingida. O nome deste satélite teve origem em Hipparchus de Nicea, um matemático, filósofo e astrónomo do século II A.C. que catalogou a posição de 1080 estrelas. Não foi ele o primeiro homem a dedicar-se à astrometria, mas foi este um dos primeiros catálogos de posições de um conjunto apreciável de estrelas.
A missão do satélite Hipparcos consistia em obter posições extremamente precisas para alguns milhões de estrelas. Durante cerca de três anos e meio foi exactamente isto que o satélite fez, a partir dos mesmos princípios que os astrónomos usam na superfície terrestre (a paralaxe, o desvio aparente das estrelas mais próximas relativamente a um fundo longínquo à medida que a Terra se move em torno do Sol) mas sem a perturbação que a atmosfera do nosso planeta introduz. O satélite possuia ainda aparelhos que lhe permitia registar o brilho das estrelas cuja posição se pretendia medir. Os resultados foram de uma qualidade incomparável, face ao que se tinha obtido anteriormente e o processamento da enorme quantidade de dados obtidos constituiu um dos maiores desafios computacionais de sempre.
Como "alvos" principais da missão encontravam-se 118000 estrelas (gigantes, anãs, estrelas de raios-X, variáveis e sistemas binários) até uma magnitude limite de 12.5, escolhidas por mais de 200 cientistas para determinar distâncias, luminosidades, massas, tamanhos e idades. Planeava-se obter para cada uma destas estrelas a respectiva posição com uma precisão de 0.002 segundos de arco (mais ou menos o tamanho angular de um homem na superfície da Lua se observado da Terra). Mas viria a ser conseguida uma precisão ainda maior: 0.001 . A fotometria (medição do brilho) destas estrelas também foi muito precisa, com um erro típico de apenas 0.002 magnitudes. Os dados referentes a estas 118000 estrelas foram reunidos num dos catálogos resultantes desta missão, o catálogo Hipparcos.
Mas o satélite realizou muitas mais observações. Se bem que com uma precisão ligeiramente inferior à das observações dos alvos primários (0.025 para a astrometria e 0.06 para a fotometria), foi elaborado um segundo catálogo - o catálogo Tycho - com informação sobre 1 milhão de estrelas! A quantidade de estrelas incluidas neste catálogo teve de ser limitada a este número, pois a quantidade de dados era tão elevada e o seu processamento tão exigente que um número superior atrasaria a publicação não só deste catálogo como também do catálogo Hipparcos (ainda assim, demorou mais de 2 anos após o termo da missão para completar estes catálogos). Neste momento, com meios computacionais mais rápidos e com a experiência adquirida, prepara-se uma segunda versão do catálogo Tycho, com o mesmo tipo de informação, mas desta vez para cerca de 3 milhões de estrelas!
No próximo número indicaremos os principais resultados desta missão, o que o Hipparcos trouxe de novo para o conhecimento do Universo em que vivemos.
Uma representação do satélite Hipparcos
JMA