Um novo dia começa a raiar e as numerosas estrelas visíveis no
céu nocturno do Observatório do Isaac Newton Group (ING) vão
desaparecendo, ofuscadas pelo brilho do Sol nascente. Aproxima-se o
final de mais uma noite de observações astronómicas nos três
telescópios do ING, o Jacobus Kapteyn (JKT) com um espelho primário
de 1 metro de diâmetro, o Isaac Newton (INT) de 2.5 metros e o William
Herschel (WHT) de 4.2 metros. Localizados na ilha de
La Palma, no
arquipélago das Canárias, a cerca de 2400 metros de altitude, estes
telescópios contribuem para o estudo dos céus e para o avanço do
conhecimento acerca do universo que nos rodeia.
Os astrónomos começam a deixar os telescópios e, após uma noite
de observações, outro tipo de actividade está prestes a iniciar-se. O
dia começa com a reunião da equipa de operações. Esta vai liderar
os trabalhos que terão de ser realizados durante o dia, de modo a
preparar os telescópios para a noite seguinte de observações. A
equipa é constítuida por um elemento do sector de engenharia
mecânica, outro do sector de engenharia electrónica, um outro do
sector responsável pela área de "software" e ainda um outro do
grupo de astrónomos do observatório.
Durante a noite surgiu um problema no JKT. O mecanismo que mantém o
telescópio a apontar na direcção do objecto astronómico a
observar, com grande exactidão, o
"auto-guider", falhou durante várias vezes. Felizmente, para as
observações efectuadas, exposições de apenas cinco minutos de um
grande número de estrelas, o mecanismo do telescópio que acompanha o
movimento nocturno das estrelas no céu, embora com muito menor
exactidão do que o "auto-guider", era suficiente para concretizar os
objectivos da noite de observações. O mesmo não acontecerá na noite
seguinte. Várias galáxias distantes vão ser observadas e será
necessário realizar exposições de, pelo menos, 30 minutos. Ora tais
tempos de exposição necessitam do bom funcionamento do
"auto-guider", caso contrário, a imagem de uma galáxia mover-se-á
durante a exposição e todos os detalhes que se pretendem observar
serão impossíveis de discernir. Após a análise, pela equipa de
operações, do pequeno relatório submetido pelo
observador do JKT, a origem do problema pode estar quer no "software"
quer num dos dispositivos electrónicos que controlam o
"auto-guider". Assim, um especialista em cada uma daquelas
áreas é
destacado para o JKT. No INT e no WHT a noite de observações correu sem
incidentes e nenhum problema foi relatado pelos observadores ou pelos
operadores de telescópio presentes.
Num telescópio de grandes dimensões, como o WHT, existem diversos
instrumentos disponíveis para os observadores. São vários os
espectrógrafos, utilizados para obter espectros dos objectos a
estudar, e as câmaras que permitem realizar imagens astronómicas. As
diferentes estações focais são ocupadas por alguns daqueles
instrumentos, enquanto os restantes ficam armazenados até ser
necessária a
sua utilização. Ora, de acordo com o programa de observações a
realizar, um dos espectrógrafos do WHT tem que ser montado no foco
Nasmyth, substituindo a câmara presentemente montada naquela estaçãofocal. É uma operação que durará aproximadamente um dia e meio e
que deverá ser realizada com todo o cuidado e rigor.
No INT o dia foi calmo. Apenas os procedimentos diários de
manutenção tiveram que ser efectuados. Aproxima-se, agora, o meio da
tarde e um astrónomo do observatório entra na sala de controle do
INT, acompanhado pelos dois observadores que vão utilizar o
telescópio durante as próximas três noites. É a primeira vez que
estes astrónomos vão utilizar o INT e o seu espectrógrafo de
dispersão intermédia, o IDS. Assim sendo, é necessário ser feita
uma apresentação do telescópio e, principalmente, do IDS aos
observadores. Durante a primeira metade da primeira
noite de observações, o astrónomo do observatório estará presente na
sala de controle do telescópio, de modo a garantir que os observadores
utilizem o IDS sem grandes problemas, bem como para esclarecer aqueles
acerca de
detalhes técnicos necessários para uma eficiente utilização do
espectrógrafo. Este é um procedimento levado a cabo sempre que tem
início um período de observações com uma nova equipa de
astrónomos, seja qual for o instrumento a utilizar em qualquer dos
telescópios do ING.
No JKT as coisas não têm corrido muito bem. Apesar dos esforços
desenvolvidos pela equipa destacada para o telescópio, o
"auto-guider" continua a funcionar deficientemente. O início da
noite aproxima-se a passos largos e se, até então, o problema
subsistir, tempo precioso de observação será desperdiçado. O
"stress" é grande! Finalmente, a cerca de uma hora do Sol baixar no
horizonte, a origem do problema foi encontrada e, agora,
tudo parece estar resolvido. O verdadeiro teste só será contudo
Antes do Sol baixar no horizonte todos estarão a postos para o
início de mais uma noite de observações. No WHT os astrónomos que o têm
vindo a utilizar terão a sua última noite de observações, no que
serão acompanhados pelo operador do telescópio. No INT, o operador do
telescópio e os observadores terão, durante algum tempo, a presença
do astrónomo do ING que lhes dará apoio. O mesmo sucederá no
JKT, que será, contudo, operado pelo próprio observador.
De novo as estrelas brilham aos milhares nos céus de La Palma. Os
três telescópios do ING perscrutam, mais uma vez, o universo em
busca de respostas para as questões colocadas pelos astrónomos que
os utilizam. A noite será longa. Após o amanhecer e quando os
astrónomos forem finalmente dormir, uma nova equipa tomará conta
dos telescópios e um novo dia no observatório do ING terá início.
Doutor Daniel F. M. Folha
Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e Isaac Newton Group