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Go forward to Para observar em Abril

Vinte e quatro horas num observatório astronómico (I)

Um novo dia começa a raiar e as numerosas estrelas visíveis no céu nocturno do Observatório do Isaac Newton Group (ING) vão desaparecendo, ofuscadas pelo brilho do Sol nascente. Aproxima-se o final de mais uma noite de observações astronómicas nos três telescópios do ING, o Jacobus Kapteyn (JKT) com um espelho primário de 1 metro de diâmetro, o Isaac Newton (INT) de 2.5 metros e o William Herschel (WHT) de 4.2 metros. Localizados na ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias, a cerca de 2400 metros de altitude, estes telescópios contribuem para o estudo dos céus e para o avanço do conhecimento acerca do universo que nos rodeia. Os astrónomos começam a deixar os telescópios e, após uma noite de observações, outro tipo de actividade está prestes a iniciar-se. O dia começa com a reunião da equipa de operações. Esta vai liderar os trabalhos que terão de ser realizados durante o dia, de modo a preparar os telescópios para a noite seguinte de observações. A equipa é constítuida por um elemento do sector de engenharia mecânica, outro do sector de engenharia electrónica, um outro do sector responsável pela área de "software" e ainda um outro do grupo de astrónomos do observatório. Durante a noite surgiu um problema no JKT. O mecanismo que mantém o telescópio a apontar na direcção do objecto astronómico a observar, com grande exactidão, o "auto-guider", falhou durante várias vezes. Felizmente, para as observações efectuadas, exposições de apenas cinco minutos de um grande número de estrelas, o mecanismo do telescópio que acompanha o movimento nocturno das estrelas no céu, embora com muito menor exactidão do que o "auto-guider", era suficiente para concretizar os objectivos da noite de observações. O mesmo não acontecerá na noite seguinte. Várias galáxias distantes vão ser observadas e será necessário realizar exposições de, pelo menos, 30 minutos. Ora tais tempos de exposição necessitam do bom funcionamento do "auto-guider", caso contrário, a imagem de uma galáxia mover-se-á durante a exposição e todos os detalhes que se pretendem observar serão impossíveis de discernir. Após a análise, pela equipa de operações, do pequeno relatório submetido pelo observador do JKT, a origem do problema pode estar quer no "software" quer num dos dispositivos electrónicos que controlam o "auto-guider". Assim, um especialista em cada uma daquelas áreas é destacado para o JKT. No INT e no WHT a noite de observações correu sem incidentes e nenhum problema foi relatado pelos observadores ou pelos operadores de telescópio presentes. Num telescópio de grandes dimensões, como o WHT, existem diversos instrumentos disponíveis para os observadores. São vários os espectrógrafos, utilizados para obter espectros dos objectos a estudar, e as câmaras que permitem realizar imagens astronómicas. As diferentes estações focais são ocupadas por alguns daqueles instrumentos, enquanto os restantes ficam armazenados até ser necessária a sua utilização. Ora, de acordo com o programa de observações a realizar, um dos espectrógrafos do WHT tem que ser montado no foco Nasmyth, substituindo a câmara presentemente montada naquela estaçãofocal. É uma operação que durará aproximadamente um dia e meio e que deverá ser realizada com todo o cuidado e rigor. No INT o dia foi calmo. Apenas os procedimentos diários de manutenção tiveram que ser efectuados. Aproxima-se, agora, o meio da tarde e um astrónomo do observatório entra na sala de controle do INT, acompanhado pelos dois observadores que vão utilizar o telescópio durante as próximas três noites. É a primeira vez que estes astrónomos vão utilizar o INT e o seu espectrógrafo de dispersão intermédia, o IDS. Assim sendo, é necessário ser feita uma apresentação do telescópio e, principalmente, do IDS aos observadores. Durante a primeira metade da primeira noite de observações, o astrónomo do observatório estará presente na sala de controle do telescópio, de modo a garantir que os observadores utilizem o IDS sem grandes problemas, bem como para esclarecer aqueles acerca de detalhes técnicos necessários para uma eficiente utilização do espectrógrafo. Este é um procedimento levado a cabo sempre que tem início um período de observações com uma nova equipa de astrónomos, seja qual for o instrumento a utilizar em qualquer dos telescópios do ING. No JKT as coisas não têm corrido muito bem. Apesar dos esforços desenvolvidos pela equipa destacada para o telescópio, o "auto-guider" continua a funcionar deficientemente. O início da noite aproxima-se a passos largos e se, até então, o problema subsistir, tempo precioso de observação será desperdiçado. O "stress" é grande! Finalmente, a cerca de uma hora do Sol baixar no horizonte, a origem do problema foi encontrada e, agora, tudo parece estar resolvido. O verdadeiro teste só será contudo Antes do Sol baixar no horizonte todos estarão a postos para o início de mais uma noite de observações. No WHT os astrónomos que o têm vindo a utilizar terão a sua última noite de observações, no que serão acompanhados pelo operador do telescópio. No INT, o operador do telescópio e os observadores terão, durante algum tempo, a presença do astrónomo do ING que lhes dará apoio. O mesmo sucederá no JKT, que será, contudo, operado pelo próprio observador. De novo as estrelas brilham aos milhares nos céus de La Palma. Os três telescópios do ING perscrutam, mais uma vez, o universo em busca de respostas para as questões colocadas pelos astrónomos que os utilizam. A noite será longa. Após o amanhecer e quando os astrónomos forem finalmente dormir, uma nova equipa tomará conta dos telescópios e um novo dia no observatório do ING terá início.

Doutor Daniel F. M. Folha

Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e Isaac Newton Group



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