A definição do ciclo de actividade solar tem a ver com o número de manchas que podem ser observadas na superfície do Sol. O número de manchas solares é variável mas as variações são regulares: os máximos (períodos de maior número de manchas solares) sucedem-se a intervalos de aproximadamente 11 anos. Os anos de máximo solar não são muito diferentes, no que se refere ao brilho total do Sol, dos anos de mínimo solar (períodos em que o Sol se apresenta quase sem manchas solares). Durante um ano de máximo solar a energia emitida pelo Sol é superior àquela emitida durante um ano de mínimo solar, mas a diferença é muito pequena, bastante abaixo de 1%.
A variação na energia total produzida pelo Sol é demasiado pequena para que acarrete, só por si, grandes alterações ao nível da Terra. O modo como se reparte essa energia é, no entanto, bastante mais importante. Com efeito, durante o máximo de actividade solar, há um grande aumento da radiação solar nos comprimentos de onda relativos aos ultravioletas e raios-X.
Fig.1A figura acima (cortesia do Observatório no Ultravioleta Extremo, a bordo da sonda espacial SOHO, missão conjunta da ESA e da NASA), mostra uma imagem do Sol obtida durante o período de mínimo solar, com um detector sensível aos raios ultravioleta, no dia 17 de Fevereiro de 1996. O Sol no ultravioleta é muito diferente durante o período de máximo solar, como se pode ver na imagem abaixo, tirada durante o dia 13 de Setembro de 2000.
Fig.2Nesta imagem podem ver-se muitos arcos brilhantes que correspondem a regiões de temperaturas muito elevadas (acima de 1 milhão de graus Celsius). Estruturas dessas são muito raras durante o período de mínimo solar. Felizmente, a atmosfera da Terra filtra muitas dessas radiações perigosas. Os ultravioletas que são produzidos em abundância durante o máximo do ciclo solar não são os ultravioletas de que se fala a propósito das queimaduras do Sol na praia; esses ultravioletas, que se costuma designar por A e B, variam muito pouco em intensidade durante o ciclo solar. A grande variação ocorre noutro tipo de ultravioletas, muito mais energéticos (e bastante mais perigosos para a saúde humana) e que são chamados ultravioletas extremos.
Os ultravioletas extremos são bastante mais intensos (entre duas a cem vezes) durante o período de máximo solar. Felizmente são todos absorvidos pelo azoto e oxigénio a altitudes elevadas. Na verdade, o acréscimo de ultravioletas extremos é benéfico, pois aumenta ligeiramente a quantidade de ozono na alta atmosfera da Terra. O ozono forma-se quando radiação no ultravioleta extremo incide sobre uma molécula de oxigénio e a separa em dois átomos de oxigénio. Esses átomos combinam-se em seguida com uma molécula de oxigénio para formar ozono (uma molécula formada por três átomos de oxigénio). Acredita-se que a quantidade de ozono aumenta de 1 a 2% durante o máximo solar. Este ligeiro acréscimo no ozono serve para contrabalançar o ligeiro acréscimo nos ultravioletas que atingem o solo e que provocam as queimaduras solares.
Dr. Dalmiro Maia
Faculdade de Ciências da Univ. Lisboa