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O Regresso da Chuva de Estrelas "Leónidas"

No passado fim de semana de 17 e 18 de Novembro, as Leónidas estiveram de volta. As Leónidas são uma "chuva de estrelas" que ocorre todos os anos em meados de Novembro. Apesar desta designação popular habitualmente usada, as verdadeiras estrelas não chovem ou caiem do céu. Estas "estrelas cadentes" não são mais do que pedaços de grãos de poeira que, ao entrarem na nossa atmosfera, se incendeiam e se tornam visíveis devido à fricção exercida pela atmosfera terrestre. Por vezes, estes corpos atingem dimensões significativas, constituindo verdadeiros calhaus a viajar a alta velocidade e a entrar na nossa atmosfera. Estes corpos, designados por meteoróides, desfazem-se, normalmente, nas camadas da atmosfera, criando os raios de luz habitualmente observados e designados por meteoros. Quando um destes corpos resiste a esta entrada e chega ao solo estamos, então, na presença de um meteorito.

Este ano o pico de actividade das Leónidas ocorreu, tal como previsto, durante o dia 18 de Novembro. Os observadores na Europa perderam este máximo, dado ter ocorrido durante o dia, mas os habitantes do continente americano, do Pacífico e do Japão puderam assistir a um espectáculo deslumbrante, tendo, em alguns deste locais, se registado a observação de cerca de 3500 meteoros por hora! Uma verdadeira tempestade!! Apesar de se ter sabido, de antemão, que o espectáculo não seria tão interessante em Portugal, alguns cientistas e curiosos juntaram-se pelo país para observar o fenómeno. Aliás, um dos aspectos mais interessantes acerca das "chuvas de estrelas" é a sua imprevisibilidade, pelo que há que estar preparado para eventuais surpresas, umas vezes agradáveis, outras desagradáveis. A "chuva de meteoros" das Leónidas é uma das "chuvas" mais imprevisíveis de todas aquelas que temos oportunidade de presenciar ano após ano. No entanto, este ano as previsões avançadas pela comunidade científica confirmaram-se, e Portugal não pôde presenciar aquela que já foi considerada uma das "chuvas de estrelas" mais excitantes das últimas décadas. As Leónidas, tal como o seu nome indica, devem a sua designação à constelação do Leão, pois é desta região do céu que os meteoros (habitualmente designados por "estrelas cadentes") parecem surgir. Na realidade, estes meteoros provêm de uma faixa ténue de restos de poeiras deixadas, ao longo de séculos, pelo cometa 55P/Temple-Tuttle. Estes restos são deixados ao longo da órbita do cometa e, todos os anos, em Novembro, a Terra atravessa esta faixa de lixo cósmico ou passa muito próximo dela. As partículas de poeira, a maioria do tamanho de grãos de areia, ao entrarem na atmosfera terrestre com velocidades da ordem de 70 km/s (1), tornam-se incandescentes por efeito de fricção dando origem aos rasgos de luz habitualmente designados por "estrelas cadentes". Na verdade, a única estrela envolvida neste tipo de fenómeno é o nosso Sol, que ao longo dos séculos vai vaporizando o material dos cometas que passam junto dele, formando assim as referidas faixas de poeira mais tarde atravessadas pela Terra.

Fig. Fotografia tirada no passado dia 18 de Novembro em West Virginia, USA, com um tempo de exposição de 5 minutos, onde são visíveis três meteoros, sendo o mais brilhante designado por "bola de fogo", dada a sua entensão e brilho intenso. Copyright Jerry Lodriguss.
Quando uma "chuva de estrelas" é extremamente intensa, esta é então designada como sendo uma "tempestade" de meteoros. As tempestades das Leónidas ocorrem, mais ou menos, de 33 em 33 anos, na altura em que a Terra atravessa uma região mais densa de detritos deixados mais junto ao cometa. Um exemplo destas tempestades ocorreu em 1966. Em 1999, antes do amanhecer do dia 18 de Novembro, assistiu-se a uma taxa de cerca de 2700 meteoros por hora. Este ano, em algumas regiões do globo, voltou-se a presenciar mais uma tempestade meteórica.

As últimas previsões têm-se revelado certeiras, e os modelos usados dizem que, quem perdeu esta oportunidade este ano, só voltará a ter outra igual ... em 2033! Nessa altura o Tempel/Tuttle estará novamente de volta com mais poeira cósmica que a Terra terá de atravessar.

(1) O Space Shuttle, por exemplo, na sua reentrada na atmosfera terrestre, atinge velocidades de apenas 8 km/s.

Doutor José Carlos Correia
Centro de Astronomia e Astrofísica da Univ. de Lisboa (CAAUL)



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