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Asteróide passa próximo da Terra

No dia 7 de Janeiro de 2002, um asteróide, com cerca de 300m de diâmetro e movendo-se a uma velocidade de cerca de 30Km/s, passou a uma distância de 830000 Km do nosso planeta, isto é, a cerca de 2.2 vezes a distância da Lua à Terra. Este objecto, denominado 2001 YB5, tinha sido detectado menos de duas semanas antes com o telescópio do programa "Near Earth Asteroid Tracking" dedicado à detecção dos objectos que se aproximam da Terra (os chamados "Near Earth Objects" ou NEOs). Estima-se que um NEO de diâmetro superior a 300 m passa a esta distância da Terra uma ou mais vezes por ano. No entanto, a colisão de um objecto destes com o nosso planeta só ocorre, em média, a cada 40 mil anos. Isto significa que o acontecimento do mês passado não é nada raro, embora a maior parte das vezes não sejamos capazes de detectar estes objectos dado ao seu pequeno tamanho. Por outro lado, enquanto que a probabilidade de colisão de um objecto destes com o nosso planeta é pequena(1), os estragos causados pelo impacto de um objecto de apenas 300m seriam já consideráveis. Se o impacto se desse na massa continental, levaria à destruição total numa região de 150Km de raio, além de causar danos consideráveis num raio de 800Km. Um impacto no oceano poderia ser globalmente mais perigoso, devido à criação de tsunamis (ondas gigantes) que levariam à inundação das cidades costeiras. A extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, foi provavelmente causada pelo impacto de um NEO com cerca de 10Km de diâmetro, cuja cratera foi identificada no que é actualmente o golfo do México. Felizmente, impactos deste tipo são muito menos frequentes (ocorrem, em média, a cada 100 milhões de anos).

Em 1998, o governo americano decidiu que era extremamente importante descobrir pelo menos 90dos NEOs de diâmetro superior a 1 Km até 2008 (estes são os objectos que, em caso de colisão com a Terra, causariam uma catástrofe à escala global). À partida será possivel deflectir um NEO que esteja numa rota de colisão, por exemplo usando mísseis nucleares, desde que este seja identificado com pelo menos uma década de antecedência, para permitir os preparativos necessários. Até à data foram identificados mais de metade dos cerca de 1000 NEOs com diâmetro superior a 1Km que se prevêem existir. Os objectos mais pequenos, como o 2001 YB5, são mais numerosos mas também mais difíceis de observar; até a data foram identificados apenas 1300m que se prevêem existir. A descoberta do 2001 YB5, tão pouco tempo antes de este passar bem próximo do nosso planeta, veio lembrar que também é importante melhorar o nosso conhecimento observacional destes NEOs com diâmetros de algumas centenas de metros. O "Large-Aperture Synoptic Survey Telescope", recentemente proposto pelos cientistas americanos, mas cujo financiamento ainda não é certo, seria apropriado a esta tarefa.

Fig. A órbita (alongada) e posição do NEO 2001 YB5 no dia da sua descoberta (26 de Dezembro de 2001) juntamente com as órbitas (circulares) e posições dos planetas Mercúrio, Vénus, Terra e Marte, nesse mesmo dia. A órbita de 2001 YB5 é inclinada em relação ao plano da órbita da Terra (eclíptica) e intersecta este plano em dois pontos (nodos). A parte da órbita desenhada com o traço mais ténue está acima do plano da eclíptica. A órbita do NEO não se mantém estática, mas muda de tamanho, forma e orientação devido às perturbações gravitacionais exercidas pelos planetas e, em particular, devido aos encontros mais ou menos próximos com os planetas terrestres. Cada vez que um novo NEO é identificado, este deve ser seguido pelos telescópios até que seja possível determinar uma órbita inicial com precisão. Depois é necessário fazer simulações da sua evolução para se poder excluir, como no caso de 2001 YB5, a possibilidade de colisão com a Terra nas décadas mais próximas.
(1) Embora impactos de NEOs com diâmetros maiores do que algumas dezenas de metros sejam raros, as suas consequências podem ser devastadoras, produzindo mesmo uma catástrofe à escala global no caso de diâmetros de alguns quilómetros. A probabilidade de um indíviduo morrer devido à colisão com a Terra de um NEO com diâmetro entre as dezenas de metros e as dezenas de quilómetros é próxima da probabilidade de um americano morrer num desastre de avião, isto é de cerca de 1/20000.

Doutora Maria Helena Morais, CAAUL



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