Ao olhar para os projectos de observatórios a desenvolver nas próximas décadas, assiste-se a uma verdadeira "explosão" de novos conceitos e tecnologias. O Atacama Large Millimetre Array (ALMA), em comprimentos de onda do milímetro/sub-milímetro, o Square Kilometre Array (SKA), em rádio-frequências, o New Generation Space Telescope (NGST), no infravermelho próximo, são exemplos de telescópios desenhados para observar os limites do próprio Universo. O nosso conhecimento actual (ou a falta dele) permite apenas imaginar algumas das descobertas que os próximos anos trarão.
Contudo, a concretização desta revolução do conhecimento exige o desenvolvimento de uma nova geração de ferramentas informáticas, capazes de "filtrar" as quantidades gigantescas de dados que os observatórios do novo século originarão.
Imagine-se o leitor numa biblioteca de tamanho considerável, com alguns milhares de obras, todas elas interessantes e todas elas com o potencial de alterar a sua visão do mundo neste ou naquele domínio do conhecimento (nem precisa de imaginar muito...). Se num determinado dia decidir aprender, digamos, sobre a história de Portugal no século XV, eventualmente sobre os descobrimentos, o que faz? Nada mais fácil, pode-se dirigir ao terminal de computador mais próximo e procurar a localização das obras sobre "História Portuguesa do Século XV". Depois selecciona o autor que mais lhe agrada e requisita um par de livros para ocupar o seu serão na hora daquela telenovela mais irritante. Mas suponha que aquele terminal de computador está avariado... e que, por falta de mão de obra, os diversos volumes nunca chegaram a ser organizados por temas... percorrer a biblioteca para escolher uma obra relevante pode afastar mesmo o mais interessado. E para complicar ainda mais o cenário, imagine que todos os dias uma nova biblioteca é construída e milhares de novas obras são lá colocadas... Seria completamente impossível aprender sobre um qualquer tema nesta selva de informação.
É este o cenário que se antevê para a Astronomia do novo século. As observações serão capazes de revelar os segredos mais profundos do Universo, mas é urgente desenvolver formas de seleccionar a informação e associar as diversas "bibliotecas" (os dados gerados pelos diferentes observatórios). É os Com estas iniciativas tenta-se preparar o futuro, desenvolvendo conceitos mais eficientes para a manipulação das gigantescas bases de dados que já hoje começam a existir. A descoberta de novos tipos de galáxias, por exemplo, pode surgir a partir da aplicação de um "autómato informático", capaz de, sem a intervenção do investigador, decidir acerca da importância de cada um dos milhões de objectos detectados num levantamento do céu em vários comprimentos de onda.
Os segredos do Universo não surgirão simplesmente a partir dos novos telescópios e instrumentos, mas também da capacidade do investigador em criar as ferramentas informáticas capazes do o auxiliar a seleccionar os dados mais relevantes. A implementação de novos métodos estatísticos, de técnicas de prospecção de dados e de pesquisa inteligente, são as facetas mais recentes da Astronomia do novo século.
Doutor José Afonso
Centro de Astronomia e Astrofísica
da Universidade de Lisboa (CAAUL)