Os levantamentos recentes feitos em Las Campanas, a sua continuação no Sloan, no ESO, e mais recentemente o Canadá-França Redshift Survey elevam o número conhecido de medições e redshifts (até aos 50.000 km/s ou distâncias de cerca de 600 Mpc) a mais de 28.000 galáxias.
Prólogo ao Terceiro Milénio
O Universo parece ter uma estrutura esponjosa na distribuição da matéria bariónica. As calibrações fundamentais das distâncias executadas pelo satélite Hiparco nos anos 90 reduziram as escalas de distâncias e idades em cerca de 10%. As novas tabelas de opacidades atómicas e nucleares e os novos supercomputadores permitem calcular com maior exactidão as magnitudes absolutas de estrelas e calcular os ciclos de evolução das galáxias.
Em finais da década passada, concretiza-se o que ninguém acreditaria há 20 anos: a calibração da magnitude absoluta de supernovas de tipo Ia demonstra que o Universo está em expansão acelerada em vez da desaceleração por todos procurada durante décadas. A existência de um Universo de matéria só bariónica (a matéria escura, num factor de 10 para 1), transforma-se em apenas 5%, a adicionar a 30% de massa/energia escura exótica e a até 65% de energia cósmica (vácuo) de natureza desconhecida. O Universo que todos esperavam ter curvatura, afinal apresenta-se globalmente plano. A inflação e o Big-Bang continuam a ser a melhor teoria em campo.
A nova geração de telescópios Muito Grandes (os nomes nunca mudam...) ópticos com detectores para interferometria, será capaz de ver a formação das galáxias até aos primeiros momentos após o Big-Bang. Poderemos medir a nucleosíntese primordial, a sua evolução em galáxias primitivas até aos dias de hoje. Poderemos seguir a formação de estrelas e planetas em directo, qual programa que se assiste em televisão ao vivo. Os novos interferómetros gigantes no milímetro (ALMA) permitirão observar coisas nunca antes vistas por olhos humanos. Saberemos se a expansão acelerada é apenas um efeito local ou global. Se o Universo é fractal, perfeitamente uniforme, ou assimétrico. Poderemos medir e calcular o tempo atmosférico em Marte e Júpiter. Esperamos finalmente entender o Tempo e a Energia.
A porta do Universo abre-se de par em par. Entre por ela quem não tem medo, mas sede de conhecimento... Os dados estão lançados!
- Bibliografia:
- "O Nascimento de uma Nova Física", Bernard Cohen, Gradiva, Julho 1988
- "The Race to Measure the Cosmos", Alan Hirshfeld, Sky & Telescope, Novembro 2001
- "Medir Estrelas", António dos Reis, Edições CTT, Correios de Portugal, Fevereiro 1997
- "Galactic Astronomy", D. Mihalas e J. Binney, W.H. Freeman and Company, 1981
- "The Cosmological Distance Ladder", Michael Rowan-Robinson, W.H. Freeman and Company, 1985
- "Principles of Stellar Evolution and Nucleosynthesis", Donald Clayton, Univ. Of Chicago Press, 1983
- "Large Scale Structures in the Universe", Anthony Fairall, John Wiley and Sons, Wiley-Praxis Series in A&A, 1998
- "Universe, 6th edition", W. Kaufmann e R. Freedman, W.H. Freeman and Company, 2000.
Prof. Doutor Rui Jorge Agostinho
Centro de Astronomia e Astrofísica
da Universidade de Lisboa (CAAUL)
Departamento de Física da FCUL