http://www.klima-luft.de/steinicke/ngcic/persons/alsufi.htm

Possível figura de Al-Sufi, ou dum contemporâneo, usando um báculo de Jacob, ou balestilha.

Esta é a história resumida da primeira referência a duas das galáxias que fazem o Grupo Local, no qual a Via Láctea se encontra, visíveis a olho nu: a gigante espiral Andrómeda (M31) e a Grande Nuvem de Magalhães, uma satélite da Via Láctea com 1010 massas solares, considerada irregular mas  que  tem uma estrutura espiral barrada.

No dia 7 de Dezembro de 903 DC nascia o astrónomo Abd al-Rahman al-Sufi (também conhecido na Europa por Azofi) em Shahi-e-Ray na Pérsia, hoje absorvida na grande Teerão (Irão). Na corte do Emir Adud ad-Daula em Isfahan (Pérsia) trabalhou na tradução dos clássicos gregos, em particular o Almagesto de Cláudio Ptolomeu (séc. II DC). Al-Sufi é reconhecido como um dos nove importantes astrónomos islâmicos da idade média.

Ptolomeu, no Almagesto, incluiu os saberes de oito séculos de observações astronómicas, entre os quais as técnicas numéricas da astronomia babilónica que previam – por exemplo – eclipses, assim como um modelo geométrico da máquina do mundo, para o cálculo das posições futuras dos planetas, baseado em movimentos com órbitas circulares, epiciclos, deferentes e o ponto equante.

A obra magna de Al-Sufi é o “Livro das Estrelas Fixas” (ou Kitab al-Kawatib al-Thabit al-Musawwar, cuja tradução francesa de Hans Schjellerup de 1874 existe na biblioteca do OAL) publicado em 964 DC, onde contribuiu com novas estimativas da magnitude de 1018 estrelas, suas posições relativas e comentários sobre as cores. estrelasUMaiorAno964alSufi_webA obra constitui a primeira tentativa de juntar as designações gregas com as árabes tradicionais para as estrelas e constelações, situação complicada pois nem sempre havia correlação e a sobreposição era confusa.  Ainda hoje é uma fonte de informação valiosa para o estudo de estrelas variáveis e movimentos próprios estelares.

Esta imagem da Ursa Maior representa-a como vista por cima da esfera celeste, a “vista de Deus”. Usando a tradução desta imagem, de Omar Al-Faqih, como fidedigna:

O título em árabe indica: “Imagem da Ursa Maior no céu”.

O texto em baixo à direita: “Pontos vermelhos com letras pretas são parte da Ursa Maior. Pontos pretos com letras vermelhas estão na área adjacente, fora da Ursa Maior (significando que não são parte da constelação). Pontos pretos sem qualquer letra próxima não são mencionados por Ptolomeu.”

Al-Sufi anotou a presença de alguns astros nebulosos que não apareciam no Almagesto, notavelmente:

  • A galáxia de Andrómeda (M31) como “uma pequena nuvem” em frente da boca do Peixe (constelação árabe), provavelmente conhecida dos astrónomos de Isfahan antes de 905 DC. Foi observada ao telescópio pela primeira vez por Simon Marius a 15-Dez-1612, pouco depois do trabalho de Galileu com este aparelho.
  • A sul da península arábica, no estreito de Babd al Mandab (no final do Mar Vermelho, latitude= +12,6°), é possível vislumbrar a Grande Nuvem de Magalhães (GNM, declinação = -70°) perto do horizonte. Al-Sufin terá incluído a descrição dum grupo de estrelas denominadas al-bakar (as Vacas na tradução francesa de 1874, ou al-bakr o Boi Branco na tradução inglesa), depois dos relatórios de navegantes árabes, descrição que se pode identificar com a “Nubecula Major“. A GNM será depois identificada por Américo Vespúcio numa carta escrita na sua terceira viagem em 1503-4. Porém, é com o nome de Fernão de Magalhães (1519) que esta pequena galáxia fica conhecida no mundo ocidental.
  • Al-Sufi Também catalogou o enxame Omicron Velorum (hoje IC 2391) como uma “estrela nebulosa“, e outro “objecto nebuloso” na Vulpecula (Raposinho), um enxame conhecido como ‘de Brocchi’, ou Collinder 399.