Cronologia da vida e obra de Campos Rodrigues

 

Vice-Almirante Campos Rodrigues

Vice-Almirante Campos Rodrigues (OAL)

1836 — Nasceu em Lisboa, a 9 de Agosto.

1851 — Assentou praça na companhia dos guardas-marinhas, como aspirante de 3ª classe, em 29 de Agosto.

1853 — Promovido a aspirante de 2ª classe, em 30 de Julho. Em 4 de Agosto, foi nomeado para uma viagem de instrução ao Mediterrâneo, na corveta Porto, que duraria até 7 de Outubro.

1854 — Completou o curso preparatório de Marinha na Escola Politécnica, em 20 de Fevereiro. Foi promovido a aspirante de 1ª classe, em 14 de Julho.

1855 — Completou o curso da Escola Naval, em 3 de Julho. Nomeado, em 11 de Julho, para fazer estação naval em Macau, a bordo do brigue Mondego, até 22 de Janeiro de 1860. A caminho de Macau, começou, juntamente com José Feliciano de Castilho, a elaborar um diário naútico em conformidade com as Cartas Meteorológicas de Matthews Fountaine Maury, super-intendente do Observatório Naval de Washington.

1856 — Promovido a guarda-marinha em 4 de Outubro.

1857 — Em 6 de Maio, M. Maury acusou a recepção do diário náutico do brigue Mondego, considerando-o uma preciosidade e comentando que este trabalho colocara Portugal na vanguarda da ciência.

1858 — Prosseguindo a estação em Macau, recebeu um louvor pelo bom serviço prestado a bordo do brigue Mondego, e pelo desempenho manifestado na retoma de duas lorchas portuguesas e no aprisionamento de piratas. Foi promovido a 2º tenente, em 22 de Dezembro.

1859 — A bordo da lancha Amazona, assistiu ao bombardeamento de Cantão pela esquadra inglesa. Em 1 de Dezembro, partiu de regresso a Lisboa, a bordo do brigue Mondego.

1860 — O brigue Mondego naufragou a 20 de Janeiro de 1860, no Oceano Índico. Parte da tripulação foi salva pela barca americana Uriel, que a conduziu à ilha Maurícia. Os sobreviventes vieram dali para Lisboa na galera inglesa West Derby, que chegou à capital lisboeta em 26 de Abril. Em 15 de Maio, C. Rodrigues foi nomeado para servir no registo do Porto de Lisboa, no vapor infante D. Luiz, até 30 de Junho. Em 1 de Julho, recebeu ordem para efectuar serviço de pilotagem fora da barra de Lisboa, no iate Cª de Penha Firme, até 30 Julho, na qualidade de comandante. Em 31 de Julho, recebeu nova ordem para servir no registo do Porto de Lisboa, no vapor infante D. Luiz, até 25 de Setembro. Obteve licença para completar o curso da Escola Politécnica, matriculando-se no curso de engenheiros hidrógrafos juntamente com o seu amigo José Feliciano de Castilho.

1863 — Terminou o curso de engenheiro hidrógrafo, em 20 de Julho. Por portaria de 12 de Agosto, foi nomeado para efectuar tirocínio em hidrografia.

1865 — Terminou o tirocínio de hidrografia, em 11 de Agosto. Por despacho de 9 de Setembro de 1865, foi mandado admitir, como engenheiro hidrógrafo, no pessoal flutuante do Instituto Geográfico. Por esta altura terá sido abordado por Filipe Folque e Frederico Augusto Oom no sentido de passar a integrar o pessoal do novo observatório astronómico que estava a ser construído na Tapada da Ajuda, mas foi para Caminha trabalhar no levantamento da barra e porto dessa localidade.

1868 — Concluiu os trabalhos de levantamento da barra e porto de Caminha. Vários métodos e dispositivos que desenvolveu nesse âmbito vieram a ser descritos no Curso de Topografia de Rudolfo Guimarães e Mendes de Almeida (publicado em 1899 e 1900). Numerosos dados sobre marés e declinação magnética ficaram arquivados na Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos.

1869 — Em 11 de Janeiro foi nomeado adido ao quadro da Marinha. Passou a integrar, como adjunto da secção astronómica, o pessoal do Real Observatório Astronómico de Lisboa, que depois de uma breve inclusão no Depósito Geral da Guerra passaria a fazer parte da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos do Reino. Foi promovido a 1º tenente, em 13 de Outubro.

1874 — Criou um revólver fotográfico para o registo do trânsito de Vénus de 9 de Dezembro. Uma descrição desse aparato foi publicada por J. C. de Brito Capello (Instituto Geofísico D. Luís) nas Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (XXXIV, p. 54). Por falta de financiamento, não se efectuou uma expedição a Macau, com o propósito de observar o trânsito de Vénus, e para a qual C. Rodrigues chegou a ser nomeado observador, juntamente com Frederico Augusto Oom e Alves do Rio.

1876 — Ordenado Cavaleiro da Ordem Militar de S. Bento de Aviz.

1878 — Em 6 de Maio foi aprovada a Lei Orgânica do Real Observatório Astronómico de Lisboa (ROAL), que o consagrou instituição científica autónoma, sob a tutela directa do Ministério do Reino. Campos Rodrigues foi promovido a capitão-tenente, em 14 de Junho, e, por decreto de 10 de Julho de 1878, nomeado segundo astrónomo de 1ª classe e sub-director do ROAL.

1882 — Nomeado adido ao corpo de engenheiros hidrógrafos, em 17 de Julho de 1882. Procurou-se organizar uma expedição portuguesa a Lourenço Marques, para a observação do trânsito de Vénus de 6 de Dezembro. À semelhança do que sucedera em 1874, não chegou a ser realizada.

1885 — Foi inaugurado, em Lisboa, um novo sistema de indicação da hora à navegação por meio de um balão, em substituição de um sistema análogo mas rudimentar que existia desde 1855 e que era conhecido pela sua imprecisão, assinalada em almanaques náuticos franceses e ingleses. O novo sistema contava com a contribuição de C. Rodrigues e os seus erros passaram a ser publicados regularmente, até aos centésimos de segundo.

1886 — Promovido a capitão-de-fragata, em 8 de Julho.

1887 — Começou a efectuar observações regulares no instrumento de passagens, que utilizou para introduzir correcções às ascensões rectas de algumas estrelas referidas no almanaque Berliner Jahrbuch.

1890 — Promovido a capitão-de-mar-e-guerra, em 27 de Fevereiro. Por Decreto de 7 de Agosto, foi nomeado primeiro astrónomo e director do Real Observatório Astronómico de Lisboa. Foi ainda ordenado Comendador da Ordem Militar de S. Bento de Aviz.

1892 — Foram efectuadas, no ROAL, observações meridianas de Marte, no âmbito de uma campanha promovida pelo Observatório Naval de Washington no sentido de aproveitar a oposição favorável do planeta, em Agosto desse ano, para se proceder a uma nova determinação da paralaxe solar.

1894 — Ordenado Grande Oficial da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz.

1895 — O ROAL publicou a obra Observations méridiennes de la planète Mars pendant l’opposition de 1892, em que são reunidas as observações de Marte efectuadas no âmbito da campanha de 1892 e apresentadas descrições minuciosas dos instrumentos e técnicas empregues nesse trabalho.

Relatório completo da Oposição de Marte em 1892 (OAL)

Relatório completo da Oposição de Marte em 1892 (OAL).

1900 — Por portaria de 31 de Março, foi nomeado vogal de uma comissão presidida por Mariano Cyrillo de Carvalho, que se encarregaria de gerir os vários serviços extraordinários requeridos pelo eclipse total do Sol de 28 de Maio, nomeadamente por força da aguardada vinda de astrónomos estrangeiros a Portugal. Chefiou um missão à Serra da Estrela, com a finalidade de estudar as circunstâncias locais do referido eclipse. Várias expedições estrangeiras acorreram a Portugal a propósito deste fenómeno, uma das quais incluía o então Astronomer Royal, William Christie, que aproveitou a ocasião para visitar o ROAL. Em resposta ao apelo lançado na Conferência Astrofotográfica Internacional, decorrida em Julho por iniciativa do Observatório de Paris, C. Rodrigues deu início, no Real Observatório de Lisboa, aos trabalhos de determinação das coordenadas das estrelas de referência para a observação do asteróide Eros, com vista a uma nova determinação da paralaxe solar.

1901 — Prosseguiram, no Real Observatório de Lisboa, as observações no âmbito da campanha de observação de Eros, cuja recepção ia sendo acusada pelo Observatório de Paris com rasgados elogios à quantidade e qualidade do trabalho efectuado. Dissolvida a comissão do eclipse de 28 de Maio de 1900, C. Rodrigues recebeu um elogio do rei, pelo seu desempenho no âmbito da mesma.

1902 — Por decreto de 13 de Agosto, foi colocado com o posto de vice-almirante no quadro auxiliar, por ter atingido o limite de idade para reforma, e não haver sido julgado incapaz de serviço pela junta de saúde naval. Foram publicados 2 artigos de sua autoria na Deustsche Mechaniker-Zeitung fur Instrumentenkunde (DMZI): “Kurvenlineal fur kreisbogen” (DMZI 17, 1902) e “Bewegliche leitern zur beobachtung des nadirs” (DMZI 18, 1902). Em Berlim foi publicado o trabalho “Einfache einrichtung zur beleuchtung der faden eines kollimators” (Julius Springer, 1902), que havia aparecido em Maio deste ano na Zeitschrift fur instrumentenkunde. Foi ainda publicado o artigo “Personal Equation”, no The Observatory (XXV, 314).

1904 — Em Fevereiro, assinou um artigo intitulado “Le problème de Pothenot”, que apareceria na Rivista di Topografia e Catasto (XVI), e como separata impressa pelo Stabilimento Tipográfico Vinzenzo Bona (Torino). Por essa altura viu-se envolvido numa polémica com António Cabreira, por ter considerado um trabalho deste último, intitulado “Sobre os corpos poligonais”, indigna de publicação pela Academia das Ciências, de que ambos eram membros. C. Rodrigues recebeu apoio inequívoco da Academia na sua posição. Em 19 de Dezembro, teve lugar a sessão de encerramento do ano na Academia das Ciências de Paris; o júri do prémio Valz decidiu, por unanimidade, atribuí-lo a Rodrigues, realçando a excepcional qualidade dos trabalhos efectuados no ROAL, no âmbito da campanha de observação do asteróide Eros. Ainda neste ano foi publicado, por Druck von C. Schaidt (Kiel), o trabalho Observations d’eclipses de lune à l’Observatiore Royal de Lisbonne (Tapada), de autoria conjunta com Frederico Oom e Artur Teixeira Bastos, que também apareceu no Astronomische Nachrichten (AN).

1906 — Inaugurou-se o retrato de C. Rodrigues no Club Militar Naval, em 12 de Março. Em 22 de Outubro, sob a supervisão de Frederico Oom (na parte astronómica), tiveram oficialmente início, em Lourenço Marques, os trabalhos de edificação de um observatório que se encarregaria de calcular e transmitir a hora ao porto dessa cidade, bem como de efectuar estudos meteorológicos e de magnetismo. Por decisão da Comissão de Melhoramentos do Porto de Lourenço Marques, foi denominado Observatório Astronómico Campos Rodrigues.

Construção do Observatório Astronómico de Lourenço Marques, Moçambique.

Construção do Observatório Astronómico de Lourenço Marques, Moçambique.

1908 — Agraciado com a grã-cruz da Ordem de Santiago.

1910 — Publicada a 1ª edição do catálogo de estrelas compilado por Lewis Boss (Observatório de Dudley, E.U.A). Foram aí empregue determinações de ascensões rectas efectuadas por C. Rodrigues, que, segundo Frederico Oom, terão merecido o seguinte comentário de Boss: “the best work ever done“.

1911 — Publicado o artigo “Portuguese Standard Time”, no The Observatory (XXXIV, 438).

1912 — Publicadas observações de ascensão recta efectuadas com o instrumento de passagens, no AN (Bd. 159), e em separata por Druck von C. Schaidt de Kiel. No AN (Nr. 4574) foi também publicado o trabalho “Observation de l’eclipse de Soleil 1912 Avril 16-17 à l’Observatoire de Lisbonne (Tapada)“.

1919 — No dia 24 de Dezembro, assinou um pedido de licença para efectuar exames médicos. Faleceu na madrugada do dia seguinte. O funeral realizou-se no dia 26, pelas 15:00, no Cemitério da Ajuda.

(texto de Pedro Raposo)

 

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