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Editorial  

O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do
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NOVOS PLANETAS

Questão:

É verdade que se descobriu mais um planeta no Sistema Solar?

  O número de planetas conhecidos no Sistema Solar continua inalterado, ou seja, são os mesmos nove de "sempre", de Mercúrio a Plutão.
  Por outro lado, hoje estamos mais perto de diminuir o número de planetas conhecidos no Sistema Solar para oito do que de o aumentar para dez. Isto porque recentemente a natureza de Plutão tem sido posta em causa: será um planeta ou um grande asteróide? A resposta a esta pergunta não é ainda clara, e prende-se com o facto de Plutão ter uma série de características (sobretudo no que respeita à sua órbita e tamanho) que se assemelham às de outros objectos conhecidos, os chamados "asteróides" da cintura de Kuiper, ou objectos trans-neptunianos. Esta cintura é uma espécie de anel de asteróides que existe para lá da órbita de Neptuno (entre aproximadamente as 30 e as 50 Unidades Astronómicas de distância ao Sol - uma Unidade astronómica (UA) é a distância média da Terra ao Sol), e que foi descoberta há cerca de 10 anos. Se Plutão fosse encontrado hoje, seria com certeza classificado como um grande objecto da cintura de Kuiper.
  Um bom exemplo de um destes corpos é o asteróide Quaoar, descoberto em 2002. Este asteróide tem mais de metade do diâmetro de Plutão (ver figura), e é o maior dos objectos da cintura de Kuiper hoje conhecidos. No entanto, existem outros capazes de rivalizar em tamanho, tal como o Varuna, o Ixion, e o 2002 AW197. Hoje pensa-se existirem mais de 70.000 asteróides na cintura de Kuiper com diâmetro superior a 100 km.
  O estudo destes corpos reveste-se de enorme importância, já que se pensa que na cintura de Kuiper se encontram os restos de material que sobrou da formação dos planetas no Sistema Solar. Por outro lado, existem muitas evidências que apontam para que esta região seja uma fonte de cometas de curto período, da mesma forma que a nuvem de Oort (uma grande nuvem esférica de corpos cometários que existe nos confins do Sistema Solar) é o reservatório de cometas de longo período.
  Nos últimos tempos os astrofísicos têm, isso sim, descoberto vários planetas a orbitar outras estrelas: os chamados planetas extra-solares. Mas não existe ainda nenhuma fotografia destes corpos, já que são detectados indirectamente, pela influência gravitacional que exercem sobre as "suas" estrelas.
Esquema compa-rativo do diâmetro de 4 corpos do Sistema Solar: a Terra, a Lua, Plutão, e o asteróide da cintura de Kuiper Quaoar. Cortesia da NASA e A. Feild (STSci)

ENSINAR CIÊNCIA

   cerca de vinte e cinco anos que ensino Ciência, primeiro no Ensino Básico, depois no Ensino Secundário e finalmente no Ensino Superior. Em todos os casos, tornou-se claro para mim que o ensino é uma profissão de vocação, que se tem ou não tem. Todos nos recordamos de excelentes professores, mas infelizmente também de professores que apesar de muito saberem, sabiam-no para si próprios, a sua capacidade de comunicação era baixa. Depois havia aqueles professores que se esforçavam, davam o seu melhor, com maior ou menor sucesso, e por estes nós sentíamos uma grande simpatia. E havia também os que acreditavam estar a fazer o seu melhor mas cujas aulas não nos motivavam nem um bocadinho.
  O sentido etimológico da palavra "vocação" é apelo, chamamento. Os que têm vocação para ensinar partem para esta tarefa com vantagem. Após obterem uma formação científica tão sólida quanto possível, têm um jeito natural para motivar os alunos para a aprendizagem das matérias. Podem beneficiar da formação pedagógica que normalmente lhes é fornecida, mas o principal está dentro deles: a sua vocação, o seu chamamento para ensinar.
  Aos professores universitários, porém, não é facultada nenhuma espécie de formação pedagógica. Parte-se do princípio (errado) de que ao nível do ensino superior a parte pedagógica é de menor importância face ao conhecimento científico. Contudo, sem boa capacidade de comunicação não é possível ensinar nada, e isto é verdade a qualquer nível de ensino, incluindo o superior. A situação no ensino superior é agravada pelo facto da progressão na carreira não ser baseada na dedicação ao ensino mas quase exclusivamente na competência científica ao nível da investigação. Temos todos de reflectir um pouco na forma como poderemos desempenhar melhor a nossa função. Há que ouvir os alunos e perceber como chegar até eles. Argumentos de autoridade só servem para denunciar o falhanço daqueles que os usam. Revelam assim que não sabem a que mais recorrer. E a todos os professores lembro a pergunta fundamental: "como gostaria de ser recordado pelos seus estudantes?"
  Para que o desenvolvimento do País se possa processar eficazmente, o ensino da Ciência tem que ser bem sucedido e a responsabilidade que todos nós professores temos é enorme e tem de ser aceite como tal. Por outro lado, ensinar é um serviço à comunidade de grande dignidade, que tem de ser apoiado fortemente por toda a sociedade pois perder esta batalha significa o sub-desenvolvimento científico, económico e social para Portugal.
  Nos tempos que correm são cada vez mais precisas pessoas de grande visão e horizontes alargados. Há que evitar orientações meramente economicistas dos investimentos a efectuar. Investir na educação é assegurar o futuro. Há que ousar, inovar, desenvolver...

João Lin Yun, Director do OAL

 

Ficha Técnica
O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun, Maarten Roos-Serote e Pedro Raposo. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.