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Trânsitos de Outros Mundos

Trânsitos no Sistema Solar

  Juntamente com os eclipses da Lua e do Sol, os trânsitos de Mercúrio e Vénus estão entre os fenómenos astronómicos mais conhecidos do grande público. No entanto, outros acontecimentos semelhantes ocorrem no nosso Sistema Solar. Em particular, o fantástico bailado das luas de Júpiter em torno deste planeta gigante dá origem a fenómenos de trânsitos, tão deslumbrantes como difíceis de observar.

Imagem da lua Io, numa das suas passagens em frente ao gigante Júpiter. A mancha escura corresponde à sombra de Io. Cortesia da NASA.

  Os quatro grandes satélites galileanos de Júpiter, Io, Europa, Calisto, e Ganimedes, foram descobertos por Galileu Galilei no século XVII. Estas luas podem ser observadas facilmente com o auxílio de um pequeno telescópio ou mesmo de um binóculo. De noite para noite, podemos seguir o seu movimento em torno do planeta: num dado dia podemos ver os quatro ao mesmo tempo, no dia seguinte podem apenas aparecer três, ou mesmo dois. Porquê?
  A resposta reside no facto destes quatro satélites terem a particularidade de possuir órbitas coplanares e equatoriais (no plano do equador) em torno do gigante Júpiter. Assim, e consoante a posição destes em relação ao planeta e à Terra, pode dar-se o caso de um (ou mais) dos satélites estar a passar em frente (ou por trás) do disco de Júpiter. No primeiro destes casos, estaremos justamente diante de um fenómeno de trânsito, neste caso relativo à passagem do satélite em frente ao planeta.
  Dado que os satélites galileanos de Júpiter orbitam o gigante em apenas alguns dias (de 43 horas no caso de Io, o mais próximo de Júpiter, até aos 16,5 dias no caso de Calisto, o mais distante), este tipo de fenómeno ocorre com bastante frequência. Mas embora as quatro luas sejam bastante brilhantes (magnitude cerca de 5), sendo facilmente observáveis contra o céu negro, não é facil observar um destes trânsitos, já que o disco de Júpiter é particularmente brilhante, e ofusca a luz do satélite. Mas caso este passe em frente a uma região mais escura da atmosfera de Júpiter (por exemplo, de uma das bandas do planeta), o fenómeno pode ser observado. Note-se que além do próprio satélite, pode mesmo observar-se a sombra deste no disco do planeta, um fenómeno de grande beleza.

Em busca de outros planetas

Medida do brilho de duas estrelas na altura em que um planeta extra-solar lhe passou em frente, bloqueando parte da luz da estrela. A amplitude da variação permite determinar o raio do planeta. Cortesia do ESO.

  Durante a última década assistimos a uma pequena revolução na astrofísica planetária, com a descoberta de centenas de planetas gigantes a orbitar outras estrelas. A maior parte destes mundos foi descoberta através do efeito gravitacional que o planeta induz na sua estrela, e em particular utilizando a chamada técnica das velocidades radiais (ver O Observatório, Vol.10, n.º 1).
  No entanto, uma outra técnica para detectar planetas extra-solares consiste na detecção de um trânsito planetário, ou seja, da sua passagem em frente à estrela que orbita. Ao contrário do trânsito de Vénus, no caso de um trânsito por um planeta extra-solar não nos é possível observar o disco da estrela. Assim, este fenómeno é observável de uma outra forma: pela diminuição do brilho da estrela (medições de fotometria), já que o planeta bloqueia uma parte da luz proveniente desta, que de outra forma nos chegaria.
  A técnica dos trânsitos para detectar outros mundos teve já alguns grandes sucessos. No entanto, e embora esta nos permita determinar com grande precisão o diâmetro do objecto que passou em frente à estrela, não nos permite estimar a sua massa. Como um planeta gigante e uma estrela de pequena massa podem ter diâmetros semelhantes, a observação de um trânsito não nos permite dizer, por si só, que tipo de corpo passou em frente à estrela.
  Assim, para confirmar que se trata realmente de um planeta, é necessário complementar as medições de fotometria com medidas de velocidade radial. A conjunção das duas técnicas permite mesmo determinar com grande precisão a massa e o raio do planeta, e assim a sua densidade média. Este tipo de estudos possibilita não só a descoberta de outros mundos, mas também o estudo das suas características físicas e até mesmo da sua atmosfera (ver O Observatório, Vol. 10, n.º 3).

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