Página - 1- Titã 2 - "Investir em conhecimento é o que traz maior rentabilidade"
- O Universo à distância
3 - Huygens chega a Titã
- A formação das galáxias espirais
4 5 - Explorar o Céu...
  Como desfazer uma ilusão e calcular a distância Terra-Lua
6 - Para Observar em Fevereiro
  VISIBILIDADE DOS PLANETAS
  Alguns Fenómenos Astronómicos
  Fases da Lua
  Nascimento, Passagem Meridiana e Ocaso dos Planetas
- Visitas Guiadas ao OAL
- Próxima Palestra Pública no OAL
7- O Céu de Fevereiro

Ciência Viva: motivação e empenho

Directora da Agência Ciência Viva desde 1996, Rosália Vargas falou ao "O Observatório" do papel desta instituição de divulgação científica. Formada em Filosofia, não esquece que já na Grécia Antiga, "a Filosofia era entendida como a mãe de todas as ciências".
Da pós-graduação em Comunicação Educacional Multimédia e do Mestrado até ao convite para dirigir a Ciência Viva, foi um passo. Hoje faz um balanço positivo de todas as actividades apesar das dificuldades sentidas nos últimos anos, face aos cortes orçamentais sofridos. No entanto, garante que haverá "cada vez mais Ciência e cada vez mais Viva".




  Está então na Ciência Viva desde a sua criação. Que balanço faz destes oito anos de existência da Ciência Viva?

Rosália Vargas, Directora da Ciência Viva.
  Há oito anos que começámos e é um grande projecto que já tem raízes na sociedade portuguesa e que já passou fronteiras. Temos uma fortíssima relação com os nossos parceiros, instituições que trabalham na área da promoção da cultura científica noutros países e que já começaram muito, muito antes de nós, de uma maneira sistemática e muito exigente, mas que são nossos parceiros e nos vêem também como parceiros importantes neste trabalho que passa fronteiras. É uma actividade muito exigente e os resultados estão à vista. Muitos projectos apoiados, muitas iniciativas organizadas, podemos dizer que, por exemplo, as grandes actividades de divulgação científica, que são dirigidas ao grande público, feitas pela Ciência Viva, têm decorrido de uma forma organizada, sistemática e evolutiva. Recordo que a primeira grande actividade de divulgação científica no Verão foi a Astronomia no Verão. Depois fomos sempre juntando, nos anos seguintes, outras áreas do conhecimento, de interesse para a população. Acrescentámos a Geologia no Verão, a Biologia no Verão, a Ciência Viva nas férias nos Faróis e Engenharia no Verão, este ano. Apesar de cada nova área de conhecimento que é introduzida nestas grandes actividades de divulgação científica nunca abandonámos nenhuma das anteriores. Mantivemos sempre os projectos iniciados e que se revelaram importantes. Mantê-los é também uma virtude e é uma obrigação, porque tem que haver uma continuidade das acções se elas se revelaram como sendo positivas. Há que mantê-las! Com certeza que estamos com energia, dinamismo e motivação para continuar a juntar muitas outras. Aliás temos vindo a receber várias sugestões...

  Qual o principal objectivo da Ciência Viva?
  O principal objectivo é aproximar a Ciência dos cidadãos. É tornar mais próxima essa relação, esse conhecimento, é tornar também mais próxima a relação entre os cientistas e as pessoas que o não são. E de facto a Ciência Viva tem sido referida, mesmo a nível internacional, como tendo conseguido essa aproximação entre a comunidade científica e a população em geral. Por exemplo, a Astronomia no Verão é organizada e é feita realmente no terreno por Observatórios Astronómicos, por astrónomos profissionais e amadores e aqui é preciso dizer que as Associações de Astrónomos amadores do país deram um grande impulso a estas actividades. O objectivo é desmistificar aquela ideia de que a Ciência é algo muito distante e fora das nossas vidas. É cada vez mais relevante perceber a importância que a Ciência e a Tecnologia têm no nosso dia-a-dia. É fundamental que as pessoas sejam convidadas a intervir, a participar numa discussão pública que tem a ver muitas vezes com decisões importantes, na área do ambiente, saúde, economia, por exemplo. Áreas em que as pessoas têm o direito de saber que cientistas temos, que investigação se faz em Portugal... é para isso que servem também as semanas da Ciência e da Tecnologia.

  De que forma se consegue cativar o interesse do público, escolar ou em geral, por essas actividades?
  Aqueles que já estão motivados, já estão conquistados para a causa. Mesmo para esses é preciso continuar a alimentar esse gosto e esse conhecimento. Mas é sobretudo fundamental desenvolver e motivar esse interesse e esse gosto noutras pessoas que habitualmente não têm acesso à Ciência de um modo geral. Fazemo-lo de muitas maneiras. As próprias características das actividades que organizamos são fortemente apelativas para qualquer pessoa, de diferentes formações, de diferentes culturas e de diferentes idades. Por exemplo, a Astronomia no Verão, andar à noite junto às praias e tropeçar num telescópio (e tropeçar é um termo engraçado!) e ver ali um grupo de Astrónomos que estão a observar o céu pelo telescópio e que falam com as pessoas, isso desperta interesse. E é sobretudo este privilégio que as pessoas têm de poder falar com profissionais da Ciência: astrónomos, geólogos, biólogos. Isto é aproximar quem faz Ciência das pessoas que beneficiam dessa Ciência, que somos todos nós. A divulgação das actividades é muito importante, porque nós podemos preparar actividades muitíssimo bem, mas se o público não souber que elas existem, de pouco serve. É evidente que a divulgação é feita de muitas maneiras, com cartazes, com folhetos, nas páginas de internet, com anúncios, com o passa-palavra, também muito importante. E devo dizer que muitas actividades esgotam completamente, foi exemplo disso as sessões dos faróis. Foi extraordinário! Portanto, há público para estas actividades e por isso é preciso continuar a fazer sempre mais, para que seja impossível não acontecer. É preciso fazer sempre para que o público exija que se continue a fazer.

  Qual a situação actual dos concursos para o ensino experimental das ciências nas Escolas?
  Não há concurso aberto para o ensino experimental das ciências nas Escolas. A Ciência Viva fez durante cinco anos, cinco concursos. Eram concursos anuais que tinham como objectivo a melhoria do ensino experimental das ciências nas escolas em todas as áreas do conhecimento científico e para todos os níveis de ensino, desde o pré-primário até ao fim do secundário. E foram apoiados milhares de projectos em diferentes áreas, em todo o país. Estes projectos tinham um mérito muito forte: as parcerias entre as instituições científicas e as escolas. Isso foi um movimento que se criou muito forte, que teve resultados e seria importante continuar, porque nada se muda em pouco tempo e qualquer paragem de um ano ou dois, representa um retrocesso de muitos anos. Agora vai ser preciso algum tempo para recuperar, mas também é verdade que existe uma vontade muito grande na comunidade educativa e na comunidade científica para continuar este trabalho. Houve de facto projectos de geminação entre instituições científicas e escolas e essas geminações derivaram muitas delas desses projectos em conjunto e isso significa uma coisa muito simples: a instituição científica, que por exemplo, está aqui nesta rua, não pode ignorar a escola de ensino básico ou secundário que está do outro lado rua. É preciso haver essa ligação e essa troca de conhecimento.

  Que actividades existem no Pavilhão do Conhecimento que possam interessar aos mais jovens?
  A outra vertente da Ciência Viva também importante são os centros Ciência Viva. O primeiro contacto com a Ciência é nas escolas e esse contacto é determinante, mas depois muitas pessoas "desligam" da Ciência porque seguem outras vertentes. Por isso os Museus e os Centros Ciência Viva são meios de apropriação da cultura científica, de forma contínua. O Pavilhão do Conhecimento é um desses espaços e para além das exposições que temos, permanentes e temporárias, temos um cuidado muito grande com a programação das actividades. Claro que os jovens e os mais pequeninos são um público preferencial para nós, porque é preciso investir nessas faixas etárias, mas temos actividades que vão desde os mais pequeninos até aos seniores. Por exemplo, com a construção de páginas web, para acesso às novas tecnologias, temos o "Cibersenior", temos "A Minha Primeira Página", para os mais pequenos. Apostamos nas visitas guiadas às exposições, um trabalho mais organizado e mais criativo, mas organizamos também na altura das férias, actividades para os jovens, de ocupação de tempos livres. São as "Férias com a Ciência". Também a "Noite no Museu", a "Escola de Feiticeiros", entre outros exemplos, já entraram nos hábitos mas há outras actividades novas que vão ser divulgadas em breve.

  Há alguma área científica mais apoiada pela Ciência Viva?
  Não, não há áreas prioritárias, mas é evidente que, por exemplo, sendo 2005 o Ano Internacional da Física, é natural que sejam organizadas actividades mais relacionadas com a Física, mas não quer dizer que não se façam outras. Continuamos com as "Tardes da Matemática", fazemos actividades em todas as áreas do conhecimento. Estabelecer áreas prioritárias pode ter consequências menos boas a curto ou a médio prazo. Isto porque todas as áreas do conhecimento são importantes e principalmente, para o público jovem das escolas, a formação na escola é geral, por isso não podemos descurar nenhuma área de formação. Se a todas for dada uma grande importância e uma grande exigência, os resultados serão seguramente bons. Não podemos ignorar que há áreas que são críticas, porque são essenciais e porque os resultados obtidos não são os exigidos, mas aí há que perceber o que é que está mal.

  Fala-se muito dos cortes orçamentais para a Ciência. Como é que se consegue divulgar Ciência com cortes orçamentais na ordem dos 40%, como foi o caso do Ciência Viva?
  A Educação é um bem essencial e uma sociedade que não cuida da educação dos mais novos, da cultura científica, é uma sociedade doente, vai ter graves lacunas difíceis de ultrapassar. É preciso apoiar de uma forma clara essas áreas e o conhecimento em geral. Claro que a Ciência Viva não parou o seu trabalho, apesar de termos tido cortes orçamentais. Mas as coisas não se esgotam na questão orçamental. É muito pior a hostilidade que se sente relativamente a um trabalho que devemos fazer e que é considerado importante continuar a fazer. Portanto, há diferentes tipos de dificuldades e as financeiras nem sempre são as mais decisivas. Existem outras que são muito difíceis de ultrapassar e que perturbam muitíssimo o funcionamento das instituições. Falo de dificuldades políticas que interferem demasiado na vida das instituições, como se o exercício da Democracia não fosse um processo normal e com regras de exigência e cumprimento muito claras. Os cortes orçamentais são importantes e prejudicam muitíssimo, mas devo dizer que o Pavilhão do Conhecimento esteve sem qualquer financiamento do projecto POCTI, durante 6 meses e nós não fechámos as portas... É certo que contámos com o apoio e a compreensão de muitas pessoas, de muitas instituições que trabalham connosco. Contámos com a compreensão de empresas, que não tinham obrigação directa de o fazer, mas que nos reconhecem enfim o mérito e a justeza de um projecto deste tipo e que connosco trabalham há uns anos e por isso nos respeitam, que esperaram e acreditaram que era possível continuarmos. Isso foi um voto de confiança que nos deu ainda uma maior responsabilidade e força para continuarmos e hoje já conseguimos honrar os nossos compromissos. Contamos com uma equipa muito boa, pequena, mas dedicada e que gosta de desafios, não desistindo de fazer aquilo em que acredita.

  Que futuro deseja para a Ciência Viva?
  É preciso fazer mais e diferente, há muitas áreas e actividades que não foram ainda exploradas. Por isso, vejo cada vez mais Ciência e cada vez mais Viva... há ainda muito por fazer, e todos, somos poucos para o fazer.


Eugénia Carvalho
OAL
© 2005 - Observatório Astronómico de Lisboa