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Missões Espaciais Astronómicas

Após a incursão pelas missões destinadas à maior parte dos corpos do Sistema Solar, começamos a sentir vontade de olhar para mais além, até zonas tão remotas do Universo que até a imaginação tem dificuldade em ajudar na compreensão das escalas em causa. Porém, devemos ainda esperar um pouco mais. Falta ainda falar do corpo que é a razão da existência do Sistema Solar e que lhe dá o nome: o Sol.

O estudo do Sol está na base de grande parte daquilo que conhecemos no Universo. Em resumo: é a referência para o estudo de todas as atmosferas e interiores de outras estrelas, apesar das diferenças em tamanho, produção de energia, densidades, velocidades de rotação e actividade magnética que existem; a espectroscopia, fundamental para o conhecimento das velocidades, densidades e temperaturas de outros objectos, foi desenvolvida para compreender o espectro solar; e o estudo da atmosfera solar exterior dá-nos uma visão sobre os processos que estão na origem dos ventos estelares e talvez dos jactos que observamos em alguns objectos.

Muitas sondas já foram usadas, durante o estudo de algum corpo, para analisarem a interacção do vento solar com esse corpo. As Voyager são um bom exemplo disso. Em particular, o estudo da interacção do vento solar com a Terra tem merecido especial atenção, quer por ser relativamente acessivel como por ter efeitos directamente experimentados por nós (por exemplo, perturbações nas comunicações rádio e o aparecimento de auroras). Especificamente para o estudo do Sol podemos começar por falar da Solar Maximum Mission (SMM). Lançada em Fevereiro de 1980, a SMM foi desenhada para efectuar observações do Sol durante o seu período de maior actividade, tendo como principal objectivo o estudo de um dos aspectos mais violentos do Sol: as erupções solares. Utilizando espectrómetros de raios-X, raios-γ e ultravioleta, a SMM contribuiu para uma visão mais detalhada deste fenómeno.

As erupções solares consistem em ejecções muito energéticas de matéria e cuja origem não é ainda verdadeiramente conhecida. Sabe- -se que radiam numa larga banda de frequências, desde os raios-X até ao rádio, emitindo partículas de alta energia - protões, electrões e núcleos atómicos - que receberam o nome colectivo de raios cósmicos solares. No auge da actividade solar, as erupções mais intensas podem ocorrer mensalmente e durar algumas horas. Os raios-X e a radiação ultravioleta libertados, devido à sua interacção com a ionosfera da Terra, são os responsáveis pelas perturbações nas comunicações rádio. Por outro lado, as partículas de alta energia ejectadas são mortais para astronautas não especificamente protegidos.

Perto do fim da sua missão, em Março de 1989, a SMM detectou uma erupção solar incrivelmente energética. Foi estimado que, no local da erupção, a matéria ejectada atingiu temperaturas de 10 milhões de graus (comparar com os 6000 graus usuais da superfície solar)! Uma semana mais tarde, interferências nas comunicações rádio e auroras invulgarmente brilhantes foram observadas na Terra. Curiosamente, alguns meses depois, em Outubro, um voo espacial da NASA decorria quando se deu uma outra erupção solar bastante energética. Embora a fuselagem do Space Shuttle fosse suficientemente protectora, os astronautas relataram a observação de alguns flashes de luz, causados quando alguns dos protões mais energéticos penetraram os seus fatos e atingiram os seus olhos (felizmente sem consequências importantes para os astronautas). Se eles estivessem na Lua, uma ordem teria sido emitida para procurarem protecção, eventualmente cobrindo-se com solo lunar.



A SMM manteve-se em funcionamento até Novembro de 1989. Os dados que recolheu ajudaram a compreender um pouco melhor o funcionamento da estrela mais importante do Universo (para nós). No próximo número continuaremos a analisar as missões solares.

JMA



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