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Go forward to O Céu do Mês de Novembro

EDITORIAL

Retomamos aqui a temática do último Editorial: a necessidade de se apoiar não só a divulgação mas também a criação de Ciência no nosso País. Efectivamente, embora relativamente invisíveis para o público, os astrónomos profissionais desempenham um papel crucial, pois são eles que criam a ciência que é depois divulgada pelos astrónomos amadores. Acreditamos por isso, que todas as entidades que se ocupam da divulgaçãoda Ciência estão muito gratos aos profissionais investigadores, pois a eles devem a possibilidade de existir e de servir o público.

A tarefa desempenhada por muitos astrónomos amadores, organizados em associações locais, tem sido preciosa pelo apoio que têm dado aos grupos de astronomia de escolas básicas e secundárias. Muito adequadamente, têm contribuído para manter vivo o interesse pelos fenómenos celestes, apresentando descrições do que se vê no céu e como observá-lo. Já a tarefa de explicar os porquês do que se vê, cabe ao astrónomo profissional, ou investigador em Astronomia.

É possível dar um exemplo simples que ilustra a necessidade de se apoiar a investigação para se obter uma divulgação mais profunda da Astronomia. Nos locais onde se faz a divulgação da Astronomia (por exemplo, nas praias ou museus), verifica-se que os responsáveis pelas palestras e cursos oferecidos não são doutorados e até não licenciados, e que nunca fizeram investigação. Por esta razão, fazem uma boa descrição do que podem ver no céu, cumprem com gosto a sua tarefa dando o seu melhor, mas não foram preparados para dar uma explicação que responda às perguntas mais profundas. Quantos não saíram já desses locais, deslumbrados pelas descrições de distâncias fabulosas, de objectos enigmáticos, mas com uma insatisfação básica por não terem conseguido perceber os porquês do que viram ou ouviram?

"Observem a nebulosa do anel... Vejam como é bonita. É uma estrela que ejectou as camadas externas no final da sua vida..." - certamente ouviram frases como estas em sessões de divulgação. Mas... porque ejecta a estrela essas camadas no final da sua vida? E qual a sua composição química? E como se sabe que é essa a composição química? E quanto tempo leva isso a acontecer? E se a massa da estrela original fosse maior, como afectaria esse tempo ou a composição química? E como se pode saber a distância e a idade desse objecto? - As perguntas são intermináveis e só um astrónomo com uma formaçãocientífica em Astronomia e Astrofísica ou que desenvolva trabalho de investigação as podem esclarecer convenientemente. Por isso se percebe que, nos países desenvolvidos, só são aceites para fazer divulgação da Astronomia, as pessoas com uma formaçãocientífica adequada e que normalmente participam na criação de ciência.

Sem dúvida que mais não se pode pedir dos astrónomos amadores que com tanto gosto cumprem o seu papel. Contudo, hátambém que reconhecer o papel dos que, nos bastidores, permitem que o espectáculo tenha lugar no palco.

Acabamos com uma pergunta: será que o público português em geral, e os nossos jovens estudantes em particular, podem estar tranquilos confiando em que os responsáveis pela educação e pela ciência, estão conscientes de que a qualidade da divulgação implica um apoio forte e saudável na formação de investigadores? E os meios de comunicação social? Que tipo de informação fornecem? Serão eles os primeiros a não distinguir a qualidade das explicaçõese comentários feitos por um astrónomo investigador daqueles feitos por não-investigadores?

À laia de pista para uma resposta, informamos que uma universidade pública portuguesa convidou um astrónomo amador não licenciado (passando-o por "Professor Doutorado") para dar formação em Astronomia aos seus estudantes!

Felizmente, existem profissionais de Astronomia em instituições de investigação que desenvolvem acções de formação e de divulgação para o público.



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