Go backward to OS SATÉLITES: DESCOBERTA E NOMENCLATURA
Go up to Top
Go forward to PARA OBSERVAR EM NOVEMBRO

Radiografias do Céu

Por volta de 1800 o astrónomo William Herschel descobriu a radiação infravermelha numa experiência com um prisma, em que colocou um termómetro um pouco além da cor vermelha do arco. O termómetro registou uma subida de temperatura indicando que estava a ser exposto a uma forma de energia invisível. De facto para além das cores que observamos no arco-íris (luz visível) existem outras formas de radiação a que os nossos olhos não são sensíveis, por exemplo as ondas de rádio, as micro-ondas ou os raios ultra-violeta. Foi em 1895, que Wilhelm Rötgen inventou uma máquina que produzia radiação electromagnética de alta energia. As propriedades desta radiação, que permitiam ver através de materiais opacos, eram tão misteriosas que aquela ficou conhecida como raios-X. Versões modernas da máquina inventada por Rötgen são agora usadas em hospitais, dentistas e aeroportos.

Embora a nossa atmosfera nos proteja dos raios-X vindos do espaço, depressa os astrónomos se aperceberam que esta radiação lhes permitiria observar fenómenos até aí invisíveis. Nos anos 60, foram obtidas observações do céu em raios-X, durante breves vôos de foguetes e balões que momentaneamente elevavam os detectores acima da atmosfera terrestre. Os astrónomos ficaram tão intrigados por estas observações que começaram a planear um satélite que pudesse fazer observações 24 horas por dia. Os seus sonhos e esperanças foram concretizados com o lançamento, em 1970, do "Explorer 42", mais tarde rebaptizado de "Uhuru" (que significa liberdade em Swahili). As gerações seguintes de satélites não param de nos surpreender com as suas radiografias do céu.

Todo o sistema solar é constantemente bombardeado por raios-X provenientes do Sol. Apesar da superfície da nossa estrela estar a uma temperatura de cerca de 6000o C, as camadas mais exteriores da sua atmosfera (a coroa solar, que se estende por vários milhões de quilómetros) podem atingir temperaturas de vários milhões de graus. Quando um gás é aquecido a esta temperatura emite raios-X. É nestas regiões que se registam os fenómenos mais explosivos que libertam enormes quantidades de energia.

As estrelas nascem imersas em grandes nuvens de gás e poeira, longe da nossa vista. Podem, no entanto, ser detectadas através dos raios-X associados ao seu violento nascimento. Recentemente foi descoberto que, à semelhança do Sol, quase todas as estrelas têm uma coroa, sendo aí observados fenómenos semelhantes aos do Sol. As mais dramáticas mortes das estrelas estão associadas a enormes libertações de raios-X. Ao contrário do nosso pequeno Sol, as grandes estrelas morrem numa violenta explosão: uma supernova e deixam no seu lugar uma estrela de neutrões. Todas as estrelas rodam, mas uma estrela de neutrões bate todos os recordes, rodando mil vezes por segundo. Esta rápida rotação transforma toda a estrela num gigante iman. O material da superfície da estrela é arrastado para os pólos libertando no seu caminho feixes de energia sob a forma de raios-X. Na verdade as estrelas de neutrões são uma espécie de farol de raios-X.

Estrelas como o nosso Sol têm um fim discreto. Incham várias vezes perdendo o seu gás para o espaço, acabando como uma esfera de carbono quente do tamanho da Terra, uma anã branca. Quando estas estrelas têm uma outra como companheira acontece, por vezes, que parte desta é atraída para a anã branca chocando violentamente na sua superfície, aquecendo-a a temperaturas de dezenas de milhões de graus. Dá-se assim uma tremenda explosão chamada "nova". Deste modo, os raios-X marcam os acontecimentos mais dramáticos do Universo.

O Sol visto em raios-X. As regiões mais claras correspondem a emissão intensa de raios-X.

Dr. Vitor Costa e Dr. Luis Paulo Carrasqueiro Centro de Astrofísica da Universidade do Porto



Prev Up Next