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À descoberta das galáxias

O Resto do Universo (cont.)

O despertar dos homens para as galáxias que nos rodeiam começa na antiguidade. Hipparcos (130 anos antes de Cristo) imaginava outras "Vias Lácteas". Em 1755, o filósofo E. Kant dizia que a Via Láctea não é um sistema único e que outros mundos estelares análogos aos quais ele chama ilhas de universo existem para além da nossa Galáxia. Este era um pensamento bastante inovador, já que nessa época a Via Láctea era sinónimo de Universo.

A natureza independente das galáxias como objectos existindo para além da nossa Via Láctea e com características muito próprias só foi identificada no princípio deste século, entre os anos 20 e 30.

A observação, mesmo a olho nu, revela que o universo que nos rodeia contém astros que não são pontuais como as estrelas mas que aparecem com um certo diâmetro aparente, formando uma imagem difusa e extensa, aos quais se deu o nome de nebulosas. É o caso de, por exemplo, o enxame das Pleiades ou da "nebulosa" de Andrómeda. Os antigos conheciam alguns destes sistemas mas para se detectar um número grande destes objectos é necessário recorrer a lunetas ou telescópios.

O primeiro inventário destas nebulosas foi feito por Charles Messier que, em 1771, publica um catálogo de 45 nebulosas e em 1784 um segundo composto de 103 objectos (ver boletins de "O Observatório", Dezembro 1997, Janeiro 1998 e Fevereiro 1998). Um pouco mais tarde William Herschel e o seu filho John Herschel continuam o inventário das nebulosas no céu com a ajuda de um pequeno telescópio de 1.22 m e constatam que enquanto umas nebulosas são resolvidas em estrelas (os chamados enxames estelares) outras não se resolvem. A questão sobre se estas nebulosas não resolvidas poderem ser outras " Vias Lácteas " foi imediatamente levantada.

Em 1850, Lord Rosse, graças ao seu telescópio de 183 cm descobre que algumas nebulosas, como por exemplo a M 51 e a M 33, apresentam uma estrutura espiral, aparecendo estas então com o nome de nebulosas espirais. Resta então resolver o problema crucial da distância a estes objectos para se poder compreender a sua verdadeira natureza.

Com efeito, tendo em conta o diâmetro aparente observado, poder-se-iam tratar ou de nebulosas espirais próximas intrinsecamente pequenas ou de sistemas longínquos fora da nossa Via Láctea e de grandes dimensões. Criam-se assim dois grupos de pensamento que levam ao chamado "Grande Debate" nos anos 20. Um grupo liderado por H. Shapley coloca as pequenas nebulosas espirais e elipticas em torno da nossa Galáxia enquanto que outro liderado por H.D. Curtis defende a ideia de ilhas de universo e considera as grandes nebulosas espirais e elipticas análogas à nossa Gálaxia e situadas a grandes distâncias desta.

Em 1924 E. Hubble observa com o telescópio de 2.54 m do Monte Wilson, estrelas cefeides (variáveis) em várias "nebulosas" (M 31, M 33, NGC 6822). Através da relação periodo-luminosidade estabelecida por H. Leavitt em 1912, Hubble deduz uma distância à "nebulosa" de Andrómeda, M 31, de 900000 anos-luz. Embora hoje se saiba que este valor é 2 vezes e meia maior, , este resultado foi suficiente para colocar Andrómeda bem fora da Via Láctea. Hubble determinou outras distâncias a várias nebulosas.

Nos anos 30, os trabalhos de Trumpler sobre a absorção interestelar deram o "Grande Debate" por concluido. Com efeito, um dos argumentos de Shapley era sobre a "zona a evitar", isto é, uma zona no plano galáctico onde não se observava nenhuma nebulosa. Ele atribuia este facto a uma estreita ligação entre estes objectos e a Via Láctea. Com a descoberta de Trumpler de que a poeira se encontra essencialmente no plano galáctico e por isso nos limita a visão nessa direcção, o que já não acontece se olharmos para cima deste plano, levou a que estes argumentos deixassem de ser válidos.

Hubble chamou a estas nebulosas distantes "nebulosas extragalácticas" e assim nasceu a astronomia extragaláctica. No entanto, outros astrónomos favoreciam mais o nome de galáxias para estes objectos no intuito de não haver confusão possível entre as nebulosas na nossa Galáxia, enormes nuvens de gás, e os novos objectos. Galáxias foi assim o nome adoptado.

MSR



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