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A exploração do espaço por estudantes

(Resumo da palestra de Maio)

Espaço... Algo de verdadeiramente fascinante para adultos e crianças. Mas também algo de verdadeiramente inatingível. E em Portugal ainda mais difícil. Nem sequer um astronauta português foi para o espaço. Mas hoje já não é bem assim. A ESA iniciou um projecto espacial exclusivamente para jovens: o SSETI (Students Space Exploration and Technology Initiative).

O SSETI prentende criar uma rede de estudantes (através da internet), que possa projectar, desenhar, construir, testar, integrar e lançar um pequeno satélite. Projectos mais ambiciosos a médio prazo contemplam uma missão à Lua. Neste momento, o SSETI está em vias de finalizar a fase B do projecto do satélite ESEO (European Students Earth Orbiter). A participação portuguesa contempla os seguintes subsistemas: Sistemas de controlo de atitude e órbita, Cablagem, Estações Terrestres, Operações, Propulsor a Plasma e Estruturas. O ESEO será lançado em 2004 numa órbita GTO, ou seja, uma órbita de transferência para a órbita Geostationária, aquela que é utilizada pelos satélites de comunicação de meteorologia. Ao contrário destes, o ESEO terá um período de 10 horas e a sua altitude mais baixa será de 600 km. Todavia, a sua altitude máxima também é de cerca de 36 000 km.

A missão do ESEO é captar fotografias da Terra e testar um pequeno propulsor a plasma. Mas o principal benefício será o de permitir que estudantes participem numa missão real e que possam aprender a fazer satélites.

Em Portugal, coube a uma equipa do Instituto Superior Técnico (em colaboração com alunos da Faculdade de Ciências e Tecnologia) tratar de quatro subsistemas. O controlo de atitude (orientação) e de órbita é particularmente complicado. São necessários vários sensores e actuadores de modo a levar a cabo o objectivo em vista. Sem um bom controlo da orientação do satélite, os painéis solares podem não apontar correctamente para o Sol, o que se pode traduzir por uma falta de energia, algo verdadeiramente catastrófico para o satélite. Do mesmo modo, para manter uma boa comunicação, é necessário apontar as antenas para a Terra. Finalmente, o objectivo é tirar fotografias à Terra e não ao espaço sideral. Mais uma vez, o controlo de atitude é importantíssimo.

Quanto às Estações Terrestres, podemos dizer que sem elas, não existe missão. O satélite pode até desempenhar as suas tarefas de bordo mas se não nos mandar os resultados, é completamente inútil. A estação (que ficará situada em Lisboa no Instituto Superior Técnico) é a ferramenta que faz a ligação entre o satélite e nós. Do mesmo modo, o centro de operações é uma peça fundamental para controlar a missão. Por muito que o ESEO tenha um certo grau de autonomia, caberá sempre ao homem decidir quantas imagens quer tirar, que manobras realizar, etc. Para tal é necessário conhecer muito bem o satélite, interpretar correctamente a telemetria (informação transmitida pelo satélite) e saber exactamente que telecomandos transmitir.

Finalmente, o teste de um pequeno propulsor a plasma é um desafio aliciante para os estudantes de Física. Este componente poderá ser útil no futuro para satélites deste tamanho. Tem a vantagem de permitir poupar combustível e conseguir chegar mais longe. Na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, foi recentemente criada uma equipa responsável pela cablagem do satélite. Embora isso possa parecer simples à primeira vista, a quantidade de componentes a ligar entre si é um verdadeiro pesadelo. E não basta só ligá-los! É de seguida necessário testar um por um, antes e depois do satélite ser submetido a um teste de vibrações.

Falando de vibrações, o lançamento é do ponto de vista estrutural algo de verdadeiramente traumatizante. Não só existem oscilações mecânicas com frequências de várias dezenas de Hertz, como também ondas sonoras, ainda mais perigosas para os componentes do satélite. Para estudar esse problema, Portugal participa através da equipa do Porto. Está no projecto há cerca de um ano e tem vindo a fazer várias simulações que permitiram melhorar a estrutura do satélite. Quem conhece o projecto sabe o quanto ele é fascinante. Muitos são os que, antes de entrar, pensam não ter capacidades e conhecimentos suficientes para tal. Mas na verdade tudo se faz com boa vontade e trabalho. Neste momento, as equipas portuguesas estão bem integradas no projecto, algo que também vem ajudar o país na formação de recursos humanos nesta área. Com a entrada de Portugal na ESA, o SSETI vem dar um pequeno empurrão bem jeitoso. Agora só nos resta continuar a fazer um bom trabalho e esperar pelo lançamento.

Dr. Ives Vieira
Instituto Superior Técnico



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