Editorial

Este é o primeiro número do novo "O Observatório", a publicação periódica de Astronomia do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), em língua portuguesa e em linguagem acessível a estudantes, professores e público não-especializado.

A publicação mantém a garantia de qualidade e excelência dos investigadores do OAL, aliada à experiência de produção deste boletim nos últimos oito anos. Com a introdução de cor e de complementos electrónicos (on-line), acreditamos que "O Observatório" se torna ainda mais uma publicação ímpar, cheia de actualidade, vida e de uma qualidade excelente. Poderá assim, a partir de agora, reforçar a sua função de deslumbrar as mentes jovens com as maravilhas desta bela ciência que é a Astronomia e, mais importante ainda, poderá contribuir para a promoção da cultura científica em Portugal.

Vivemos tempos excitantes com descobertas astronómicas que se sucedem a um ritmo acelerado. Descobertas de extensas áreas de gelo em Marte aumentam ainda mais as expectativas de que possa existir (ou os indícios de que existiu) vida microbiana no planeta vermelho. A presença de gelo na Lua abre a possibilidade do estabelecimento de uma colónia humana na Lua.

A exploração do Espaço, associada à procura do conhecimento do Universo, tem despertado um interesse crescente em todos os sectores da população. Por essa razão e em nome de todos os colaboradores desta publicação, renovo a nossa firme intenção de manter vivo o fascínio dos céus e desta ciência que é de todos nós: a Astronomia.

João Lin Yun, Director do OAL



O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do endereço electrónico:
consultorio@oal.ul.pt

 


MAIOR TAMANHO APARENTE DOS OBJECTOS CELESTES JUNTO AO HORIZONTE

Questão:

Porque é que a Lua quando se encontra perto do horizonte, parece ter maior tamanho do que quando se encontra noutros locais do céu?

O maior tamanho dos objectos celestes, quando se encontram perto do horizonte, é um efeito da nossa percepção. Quando a Lua Cheia, por exemplo, surge rente ao horizonte, observamo-la conjuntamente com objectos que nos são familiares (edifícios, árvores, etc.); quando a observamos numa posição mais alta no céu, deixamos de ver esses objectos, não existindo então no nosso campo de visão corpos de referência familiares que estejam mais próximos de nós que a Lua. No primeiro caso, a proximidade aparente com os tais objectos familiares dá-nos a sensação de que o tamanho da Lua é maior do que realmente é. No segundo caso, o cérebro constrói uma imagem aparente da Lua independente de posições, distâncias e tamanhos relativos, e apresenta--nos o seu tamanho mais "real". No entanto, em ambos os casos, o seu diâmetro angular é o mesmo (aproximadamente 0.5 º).

Sugerimos-lhe que faça as seguintes experiências:

1- Experimente ocultar a Lua Cheia em ambas as situações, esticando o braço e erguendo o dedo "mindinho" na direcção do astro. Verá que, apesar da diferença aparente de tamanhos, tão facilmente ocultará o nosso satélite natural num caso como no outro.

2- Espere que a Lua cheia se encontre perto do horizonte e veja quão grande ela parece ser. Pegue então numa folha de papel e faça-lhe um buraco de modo a ver apenas a Lua, coloque-a à sua frente de modo a tapar tudo o resto. Reparará que a Lua agora parece diminuir de tamanho, ficando com o seu tamanho "normal".

3- Com a Lua cheia no horizonte, segure um papel com o braço estendido e tape metade da Lua. Com uma caneta marque no papel o diâmetro da Lua. Repita esta experiência umas horas mais tarde, com a Lua numa posição mais alta no céu. Compare as respectivas marcas do diâmetro lunar e verá que são idênticas (dentro dos seus erros de medição) em vez de uma ser quase o dobro da outra, como os olhos lhe faziam crer.

4- Se ainda não está convencido e quer eliminar todo o factor humano envolvido nestas medições, então, tire duas fotografias à Lua cheia, usando as mesmas condições fotográficas (zoom, tempo de pose), uma quando a Lua está no horizonte e outra quando se encontra na altura máxima. Mande revelar, compare e depois mande-nos a sua resposta...!

 


 

Ficha Técnica

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun e Maarten Roos-Serote. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão Tecla 3, Artes Gráficas. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.

A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO. 

 


 

Urano: o senhor dos anéis ?

Doutor Nuno Santos
CAAUL/OAL

Na foto ao lado podemos ver uma imagem de um planeta. Mas qual? O leitor inadvertido pode pensar que se trata de Saturno. No entanto, esta refere-se a Urano, o sétimo planeta do Sistema Solar.

Esta imagem foi obtida por uma equipe de astrónomos europeus com o auxílio da câmara de infravermelho ISAAC do Very Large Telescope (VLT), no deserto do Atacama, Chile. Obtida através de um filtro especial (que só deixa passar a luz com comprimentos de onda em torno de 2.2 mm) permite ver com grande claridade os anéis que rodeiam Urano, bem como algumas das luas deste planeta.

Desde o tempo de Galileu que se sabe que Saturno tem "anéis". Visíveis mesmo através de um pequeno telescópio, fazem as delícias dos astrónomos amadores e conferem a Saturno um "toque especial". No entanto, este planeta não está só no que toca a esta característica. Embora se desconheça precisamente qual a sua origem, hoje sabe-se que todos os planetas gigantes do Sistema Solar têm um sistema de anéis.

Os anéis de Urano foram descobertos acidentalmente em 1977. Enquanto observavam a ocultação de uma estrela por este  planeta (quando o planeta, mais próximo de nós, passa exactamente em "frente" à estrela) os astrónomos detectaram uma diminuição anormal da intensidade da luz vinda da estrela.

Este facto levou os astrónomos a perceber que Urano tem também um conjunto de anéis. No entanto, foi só em 1986, com a passagem por este planeta da sonda da NASA Voyager-2, que o sistema de anéis de Urano foi estudado de forma mais precisa.

Contrariamente ao caso de Saturno, os anéis de Urano são quase invisíveis a partir da Terra com observações em comprimentos de onda visíveis pelo olho humano, e são completamente ofuscados pela luz vinda do planeta central. Pelo contrário, no infravermelho (e em particular na banda usada para obter a imagem) Urano é muito pouco brilhante, já que o metano na sua atmosfera absorve quase toda a luz desta banda que lhe chega do Sol. Os anéis, por seu lado, são constituídos principalmente por gelos, que reflectem facilmente a luz.

Desta forma foi possível obter esta imagem de grande contraste e beleza do sistema de anéis deste planeta. 

Imagem de Urano, dos seus anéis, e de alguns dos seus satélites, obtida com o auxílio da câmara de infra-vermelho ISAAC (do VLT).

Os satélites visíveis são o Titãnia, Oberon, Ariel, Umbriel, e Miranda. Cortesia do ESO

 

 

 

As visões mais profundas do Universo

Doutor José Afonso

CAAUL/OAL

Como se formaram e evoluíram as primeiras galáxias? Quando é que se formaram os primeiros objectos a emitir luz no Universo primitivo? Estas são perguntas chave na astronomia moderna e, graças aos avanços tecnológicos dos últimos anos, a resposta começa a ser revelada.

Com telescópios cada vez mais poderosos, é possível visualizar um Universo cada vez mais distante e, como a luz demora tempo a chegar até nós, cada vez mais primitivo. Eis-nos na era dos "campos profundos" em astronomia.

Na capa deste número, mostramos diversas galáxias no Chandra Deep Field South, um campo profundo originalmente observado nos raios-X com o observatório espacial Chandra. Do conjunto de observações deste campo obtidas posteriormente, destacamos as novas imagens ópticas obtidas com o Wide Field Imager, no telescópio de 2.2 m do ESO (Chile).

Nesta página apresentamos o resultado das observações com o Very Large Telescope, no infravermelho próximo, de outro campo profundo: o Hubble Deep Field South.

A observação na banda Ks (comprimento de onda de 2.2 mm) do VLT é a mais profunda até hoje obtida, revelando galáxias extremamente distantes, invisíveis mesmo nas imagens ópticas do telescópio espacial Hubble. Devido à velocidade finita da luz, estamos a ver estas galáxias num Universo com menos de 15% da sua idade actual.

O primeiro resultado destas observações é a descoberta de que galáxias aparentemente "adultas", algumas apresentando uma estrutura espiral semelhante à observada em galáxias próximas, já existiam num Universo com menos de 2 mil milhões de anos. Além disso, parece que estas galáxias se encontram em aglomerados, e não isoladas. Estes resultados, embora preliminares, estão já a ser usados para testar modelos de formação e evolução de galáxias.

Com "campos profundos" a serem obtidos quase diariamente, é de esperar um rápido desenvolvimento do nosso conhecimento do Universo primitivo.

Uma imagem de cor falsa construída a partir das observações do telescópio espacial Hubble (banda I, 0.814 mm , a componente azul da imagem), e do instrumento ISAAC no VLT (bandas Js e Ks, 1.2 e 2.2mm , as componentes verde e vermelha da imagem, respectivamente). A imagem na banda Ks constitui a mais profunda obtida até hoje nesta banda. As galáxias mais vermelhas na imagem são identificadas apenas nas observações nesta banda e representam galáxias "adultas" no Universo distante. Cortesia do ESO.

 

 

Debates públicos no OAL

O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) organiza debates públicos de entrada livre. Os debates contam com a presença de investigadores do OAL/FCUL. Para mais informações, contacte o número 21 361 67 39 ou consulte: http://www.oal.ul.pt.

 

Terrestres e Extra-terrestres: realidades, mitos e esperanças

1. SETI: Pesquisa de vida extraterrestre inteligente - 21 Fevereiro 2003, 21h30

Há quarenta anos que decorre um projecto, intitulado SETI, dedicado à procura de sinais de vida extraterrestre inteligente. Não foi até agora encontrado nenhum sinal credível. Significará este resultado que não existem outras civilizações no Universo e que este projecto deve ser terminado? Estaremos mesmo sós no Universo? Venha conhecer os argumentos a favor e os argumentos contra a continuação deste projecto.

2. Astronomia e Astrologia - 21 Março 2003, 21h30

Já ouviu falar de Astronomia? E de Astrologia? Sabe o que é a Astronomia? E sabe o que é a Astrologia? Acha que a Astrologia é uma ciência? Porque procuram as pessoas um astrólogo? Venha dizer o que pensa deste assunto e ouvir opiniões gerais, científicas e sociológicas.

3. Afinal o que é um planeta...? - 11 Abril 2003, 21h30

Sabe o que é um planeta? Tem a certeza? É o que pensavam os astrónomos e outros especialistas de ciências planetárias até há cerca de dez anos atrás... Venha conhecer as dúvidas, controvérsias e complicações que as descobertas astronómicas dos últimos anos produziram neste campo. Conheça propostas de solução deste problema.

4. As conquistas da Ciência nos próximos cem anos - 23 Maio 2003, 21h30

A origem do Universo? A viagem no tempo? A teletransportação? A cura para todas as doenças? A vida eterna? Ou mais simplesmente a solução para os nossos problemas energéticos, para a fome ou para a contaminação dos recursos naturais? Venha partilhar connosco quais as conquistas científicas que gostaria de ver conseguidas durante o século XXI. Conheça algumas perspectivas dos cientistas.

 

 Palestra Pública de Março

O Observatório Astronómico de Lisboa oferece palestras públicas mensais, de entrada livre, no Edifício Central, sobre temas de Astronomia e Astrofísica, normalmente na última 6.ª feira de cada mês às 21h30. No final de cada palestra e caso o estado do tempo o permita, fazem-se observações de corpos celestes com telescópio. Para mais informações, consulte: http://www.oal.ul.pt/palestras/ ou contacte o n.º 21 361 67 39.

 

 

Viagem no Tempo e outros Paradoxos da Relatividade

pelo Prof. Doutor Paulo Crawford
28 de Março de 2003, 21h30