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À PROCURA DE OUTRAS TERRAS

Representação artística de uma "lua" a orbitar um planeta extra-solar gigante. Se um planeta orbitar à distância "certa" do seu "sol", as condições numa lua rochosa podem ser tais que a vida se tenha desenvolvido. Cortesia da ESA e Medialab.

  Durante a última década pudemos assistir a uma pequena revolução na astrofísica planetária, com a descoberta de centenas de planetas gigantes a orbitar outras estrelas. Agora, a Agência Espacial Europeia (ESA) está a planear uma missão que pretende ir ainda mais longe, e descobrir planetas semelhantes à "nossa" Terra.
  A existência de outros sistemas solares tornou-se numa realidade a partir do momento em que em 1995 os astrónomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz detectaram pela primeira vez um planeta a orbitar outra estrela. Após esta descoberta, o número de exoplanetas detectados não parou de aumentar (ver O Observatório, Vol.9, nº3), sendo hoje conhecidos cerca de 115 planetas gigantes a orbitar outros "sóis".
  No entanto, as técnicas actuais, baseadas principalmente na medição do movimento periódico que uma estrela apresenta se tiver um planeta em órbita (O Observatório, Vol.5, nº3,4,5), permitem apenas descobrir planetas gigantes como Júpiter. Mundos mais parecidos com a Terra são demasiado pequenos e pouco massivos, estando fora do alcance dos instrumentos actualmente ao dispor dos astrofísicos.
  Agora, a ESA prepara-se para lançar o Eddington, um satélite que vai revolucionar o estudo e a procura de outros sistemas solares. Este satélite estará equipado com um sensor que permitirá medir o brilho de centenas de milhar de estrelas com uma precisão nunca antes conseguida (equivalente a observar uma variação no brilho de uma estrela de apenas 1/10000). Esta precisão, dá ao Eddington a possibilidade de descobrir planetas pelo denominado método dos trânsitos planetários: medindo a pequeníssima diminuição de brilho que uma estrela apresenta sempre que um planeta passa em frente ao seu disco.
  Os instrumentos do Eddington são de tal forma sensíveis que vão permitir aos astrofísicos detectar planetas com o tamanho de Marte, ou seja, com cerca de 1/3 do tamanho da Terra. Deste modo, poderemos mesmo descobrir dezenas de "luas" em torno de exoplanetas, supondo que à semelhança do que acontece no Sistema Solar, planetas gigantes, tais como os agora descobertos em torno de outras estrelas, possuem também os seus próprios satélites.
  O avanço científico e tecnológico a que temos assistido nas últimas décadas está assim a abrir caminho para a detecção de planetas semelhantes ao nosso. Temos agora de aguardar impacientemente até 2008, altura em que o Eddington será lançado, e esperar pelos primeiros resultados de mais esta aventura da Astronomia. Depois, "resta-nos" estudar esses mundos, e talvez descobrir que a vida é comum no Universo.


Nuno Santos

CAAUL/OAL

 
O SUCESSOR DO HUBBLE TOMA FORMA

Optimizado para o estudo das origens de estrelas, dos planetas e das galáxias, o Telescópio Espacial James Webb, na imagem numa concepção artística, fornecerá aos astrónomos uma visão ímpar do Universo... Programado para iniciar as observações em 2011, o sucessor do Telescópio Espacial Hubble vai lentamente ganhando forma. Cortesia de Northrop Grumman

  O Telescópio Espacial James Webb, com o lançamento programado para 2011, toma lentamente forma. Um passo importante aconteceu no passado mês de Setembro quando a NASA (a agência espacial norte-americana) escolheu a tecnologia para o espelho principal do telescópio. Com um diâmetro de 6,5 metros, e optimizado para observar no infravermelho próximo e médio, o James Webb representará um avanço significativo relativamente às capacidades do Hubble.
  Os resultados quase diários do Telescópio Espacial Hubble marcaram o avanço da Astronomia nos últimos anos. Tais foram as capacidades demonstradas e o sucesso atingido, que rapidamente se começou a planear o seu sucessor, hoje conhecido por Telescópio Espacial James Webb. Uma grande discussão foi então iniciada sobre qual deveria ser o desenho deste novo telescópio, que se pretende ainda mais poderoso que o Hubble.
  Obviamente, a primeira característica a considerar é o tamanho. O Hubble possui um espelho principal de 2,4 metros, "pequeno" em relação aos maiores telescópios existentes hoje à superfície da Terra, mas um grande desafio considerando a complexidade de colocar um telescópio no espaço.
  Precisamente por isso o Telescópio Espacial James Webb terá um espelho de 6,5 metros formado por 18 segmentos hexagonais distintos. Tal permitirá que o espelho, além de mais leve (pesa apenas um terço do espelho do Hubble), seja enviado para o espaço dobrado (cabendo assim nos lançadores existentes actualmente), sendo apenas "reconstruído" já na sua posição espacial final. A construção destes espelhos, num material à base de berílio, terá início já no próximo ano.
  Uma segunda questão considerada foi o comprimento de onda para o qual este telescópio deveria estar optimizado. A procura das primeiras galáxias e estrelas no Universo (que, devido à expansão do Universo, não deverão poder ser detectadas no óptico), e a formação de estrelas e planetas na Galáxia (que acontecem em ambientes ricos em poeira, invisíveis no óptico), temas "quentes" no pano-rama astrofísico actual, justificam a decisão final de optar por um desenho optimizado para observações no infravermelho próximo e médio (entre cerca de 0,6 e 28 mm). As observações nestes comprimentos de onda requerem uma localização para o telescópio longe de quaisquer fontes de radiação térmica (vulgo "calor"). Assim, e ao contrário do Telescópio Espacial Hubble (que se encontra em órbita terrestre), o James Webb será enviado para o chamado ponto de Lagrange L2 do sistema Terra-Sol, um ponto semi-estável a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra, no sentido oposto ao do Sol. Uma vez lá, nenhuma missão humana o poderá atingir, para reparações, por exemplo...
  Com tantas revoluções tecnológicas, o futuro do Telescópio Espacial James Webb parece destinado ao sucesso...


José Afonso

CAAUL/OAL