Crédito: Event Horizon Telescope Collaboration

A 10 de Abril de 2019 o consórcio Event Horizon Telescope (EHT) (em português, telescópio do horizonte de acontecimentos) fez o anúncio histórico da obtenção da primeira imagem de um buraco negro.

Um buraco negro é um corpo celeste com grande atração gravítica. Toda a luz ou objeto que entre no chamado horizonte de acontecimentos nunca mais conseguirá reemergir. Por causa destas propriedades um buraco negro não pode ser visto diretamente. No entanto, existe um disco quente de matéria a orbitar em torno dos buracos negros que pode ajudar nas observações. Raios luminosos emitidos por este disco de acreção na nossa direção vão-se encurvando ao passar junto ao buraco negro. Os que passarem demasiado próximos do horizonte perdem-se no buraco negro, mas os que passem mais longe conseguem contornar o buraco negro sem cair nele e continuam a sua viagem pelo espaço chegando até nós. A imagem formada por todos os raios que contornam o buraco negro por todos os lados será como que “a sombra do buraco negro”, ou seja, o buraco negro visto em contra-luz. Foi esta sombra, juntamente com a imagem do disco de acreção altamente distorcido pelo forte campo gravítico (ou seja, sofrendo o efeito de lente gravitacional) que foi agora observada pelo EHT.

O EHT é uma rede internacional de 8 radiotelescópios distribuídos ao longo da Terra. Os dados dos vários telescópios são combinados com técnicas de interferometria, formando como que um único telescópio do tamanho do nosso planeta, o que permite obter imagens de grande resolução. A impressionante imagem histórica agora obtida mostra a sombra do buraco negro supermassivo que existe no centro da galáxia M87, uma galáxia elíptica a cerca de 55 milhões de anos-luz da Terra. A esta distância, a sombra do buraco negro tem um diâmetro muito pequeno de cerca de 40 microssegundos de arco.

“Esta é uma conquista incrível da equipa do EHT” disse Paul Hertz, diretor da divisão de astrofísica da sede da NASA em Washington. “Anos atrás achávamos que teríamos que construir um telescópio espacial muito grande para fazer a imagem de um buraco negro. Ao colocar radiotelescópios em todo o mundo para trabalhar em conjunto como um só instrumento, a equipa do EHT conseguiu isso décadas antes do tempo”.

Crédito: NASA/CXC/Villanova University/J. Neilsen

Estes resultados permitiram inferir que a massa deste buraco negro é de 6,5 mil milhões massas solares. Permitiu também confirmar a existência de buracos negros como previsto pela teoria da relatividade geral. Depois de em 2015 se terem detetado ondas gravitacionais, uma das previsões da teoria da relatividade geral de Einstein, comprova-se agora outra das suas mais famosas previsões: o buraco negro. E isto no ano em que se comemora o centenário do primeiro teste à relatividade geral, que foi a comprovação da previsão da deflexão da luz através das observações de Eddington durante o eclipse solar total de 1919.