Este mês, para além do eclipse solar de 20/03/2015 há dois outros fenómenos astronómicos que concorrem para a formação de marés da maior amplitude, que se designam por supermarés!

As marés oceânicas são provocadas pela diferença de força gravítica entre a superfície e o eixo de rotação terrestre (grosso modo), tanto devido à Lua δfL, como ao Sol, δfS. Mas a força lunar δfL ≈ 2,3 δfS devido à sua proximidade. Esta força provoca a movimentação da massa oceânica e todos os meses há marés vivas sempre que o Sol e a Lua estão razoavelmente alinhados na Lua Cheia e na Lua Nova. Nesses dias surgem a maré cheia mais alta e a maré vazia mais baixa do mês. Pelo contrário, quando a Lua está nos Quartos Minguante e Crescente as marés (cheia e vazia) têm a menor amplitude do mês, pois a força gravítica diferencial da Lua δfestá a 90° com a δfS do Sol. São as marés mortas,  com a menor diferença entre cheia e vazia.

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Fig. 1 – Altura das marés no mês de março. (Prof. Dr. Carlos Antunes, FCUL)

Um eclipse solar corresponde ao alinhamento Sol-Lua-Terra (quase) perfeito, o que apenas acontece em duas alturas do ano, separadas em média de 173,3 dias. Nesta situação, os 3 astros ficam no plano da eclíptica com a Lua (Nova) a passar num dos seus nodos orbitais. Assim, em época de eclipses as acelerações gravíticas diferenciais do Sol e da Lua têm a mesma direcção e as marés vivas são mais fortes do que o normal. A figura 1 permite comparar a amplitude das marés a 21 de Março com as verificadas ao longo do mês.

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Fig. 2 – Alinhamento Sol-Lua-Terra (não está à escala), para ilustrar o conceito das marés vivas.

Para além do eclipse solar de 20/03/2015 há dois outros fenómenos astronómicos que concorrem para a formação de supermarés. No dia anterior ao eclipse a Lua estará no ponto orbital mais próximo da Terra, o perigeu, o que aumenta a força diferencial δfL que exerce à superfície da Terra. Por outro lado, o eclipse é no dia do equinócio da Primavera, quando o Sol e a Lua estão no equador celeste e ambos δfL e δfS aumentam, pois a distância ao eixo de rotação do planeta é máxima nas localidades no equador.

No dia 19 de março às 19h38m a Lua estará no perigeu, no dia 20 de março há máximo do eclipse às 9h01m com a Lua Nova às 9h36m e o instante do equinócio às 22h45m. Esta coincidência acontecerá novamente no eclipse total do Sol a 20 de Março de 2034, no equinócio e próximo do perigeu lunar.

Com esta conjunção de fatores, a amplitude das marés será a maior do ano: uma supermaré. A situação de supermarés manter-se-á durante o período de 19 a 23 de março. Note-se que as marés ocorrem no ciclo habitual e naturalmente a preia-mar não é simultânea em toda a Terra no instante do eclipse. A maré oceânica propaga-se como uma onda balizada pelas costas continentais e relevos submarinos locais. A tabela 1 tem as amplitudes e instantes da preia-mar e baixa-mar para este período de supermarés, em Lisboa. Note como a maré cheia em Lisboa é superior à de Cascais (fig. 1) indicativo da acumulação da água no rio.

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Tab. 1 – Previsão das amplitudes e instantes da preia-mar e baixa-mar para o período de supermarés, em Lisboa.