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Uma super Terra

  Uma equipa europeia de astrofísicos anunciou no final de Agosto a descoberta do primeiro planeta rochoso a orbitar uma outra estrela semelhante ao Sol, mostrando pela primeira vez que planetas como a Terra podem ser comuns no Universo.
  A descoberta de planetas a orbitar outras estrelas tornou-se uma realidade a partir de 1995, altura em que uma equipa de astrofísicos suíços descobriu um primeiro mundo a orbitar a estrela 51 Peg. Desde então, mais de 120 outros planetas extra-solares foram detectados. No entanto, e até há pouco tempo, só tinha sido possível descobrir planetas gigantes gasosos com uma massa semelhante à de Júpiter ou Saturno.

Ilustração de um dos novos exoplanetas rochosos a orbitar a sua estrela.

  Esta limitação prendia-se com o facto de a técnica utilizada para detectar planetas extra-solares, o chamado método das velocidades radiais, ser particularmente sensível à massa do planeta: quanto maior esta for, maior será a influência gravitacional que o planeta tem na estrela e mais provável será a sua detecção.
  Agora, uma equipa europeia de astrofísicos, que inclui investigadores do Observatório Astronómico de Lisboa, anunciou a descoberta do que parece ser o primeiro planeta extra-solar rochoso. Este mundo orbita a estrela mu da constelação da Ara (Altar), uma estrela semelhante ao Sol, e que é visível a olho nu a partir do hemisfério Sul da Terra.
  Esta detecção só foi possível graças ao salto quantitativo obtido com a construção do novo espectrógrafo HARPS, acoplado ao telescópio de 3.6-m do ESO, no observatório de La Silla, Chile. Este espectrógrafo é sensível a variações de menos de 1m/s na velocidade de uma estrela, o que lhe permite detectar o seu movimento periódico causado pela perturbação gravitacional de um pequeno corpo em órbita.
  O planeta agora detectado parece ter uma massa de cerca de 14 vezes a massa da Terra, e orbita a estrela mu Arae em cerca de 10 dias terrestres. A pequena distância que o separa da estrela torna-o um verdadeiro inferno, com temperaturas à superfície que devem rondar os 700 graus centígrados. No entanto, este parece ser o planeta extra-solar conhecido mais parecido com a Terra, já que deverá ser maioritariamente constituído por rochas e metais. Dada a sua dimensão, este mundo será uma espécie de "super-Terra''.
  Uma semana depois do anúncio da descoberta do planeta que orbita a estrela mu Arae, duas outras equipas de astrofísicos norte- -americanos anunciaram a descoberta de mais dois pequenos planetas extra-solares. Um deles orbita a estrela 55 Cnc, tem cerca de 18 vezes a massa da Terra, e é o quarto planeta que se descobriu a orbitar esta estrela (os outros três são gigantes gasosos). O outro, descoberto em torno da estrela GJ436, uma estrela anã vermelha, tem pelo menos 21 vezes a massa do da Terra. Ambos os corpos orbitam a suas estrelas em menos de três dias terrestres.
  A descoberta destes três novos mundos mostra que os planetas do tipo rochoso parecem ser relativamente comuns no Universo, e abre grandes perspectivas para a descoberta de vida extra-terrestre.


Nuno Santos
CAAUL/OAL
 

A Genesis sobrevive

  Após mais de dois anos recolhendo partículas do vento solar, a sonda Ge-nesis regressou à Terra no início de Setembro passado. Uma mediática missão de salvamento (envolvendo helicópteros e muitos jornalistas) foi montada para apanhar, em pleno voo, a pequena cápsula espacial mas, infelizmente, sem sucesso. Os pára-quedas da Genesis não abriram e a sonda acabou por se despenhar no deserto do Utah (o local escolhido) a mais de 300 km/h. Após a desilusão inicial, contudo, a análise da sonda nos dias posteriores revelou que os estragos não haviam sido completos. Parece ser ainda possível recuperar grande parte das amostras de vento solar e, assim, atingir muitos dos objectivos iniciais.

Imagem: Após a falha nos seus pára-quedas, a sonda Genesis despenhou-se a mais de 300 km/h no deserto do Utah. Apesar da queda, muitas das amostras de vento solar que transportava parecem estar intactas. Cortesia: USAF.

  Sabemos hoje, em traços muito gerais, como se processou a formação e evolução do Sistema Solar, desde a nuvem inicial de gás e poeira, até ao que observamos hoje, uma estrela rodeada de uma diversidade de planetas, luas, asteróides e cometas. Mas a forma exacta como esta transformação se deu é ainda desconhecida, e o seu conhecimento constitui um dos grandes desafios da Astronomia moderna.
  Uma das formas de investigar a origem do Sistema Solar consiste na comparação do material (elementos químicos e seus isótopos) que formavam a nebulosa original com o que observamos hoje nos corpos do Sistema Solar. Mas como medir a constituição da nebulosa original pré-Sistema Solar? A resposta está no vento solar. Tal como outras estrelas semelhantes, o Sol tem uma "atmosfera" exterior onde a composição química da nebulosa original foi preservada, e que é lentamente "soprada" para o Espaço, formando o chamado vento solar. A sua interacção com o campo magnético terrestre e a nossa atmosfera provoca as auroras; a recolha de uma amostra "pura" do vento solar requer pois sondas que viajem para além da influência do nosso planeta, como foi o caso da Genesis.
  Lançada em Agosto de 2001, a Ge-nesis esteve desde Novembro de 2001 num ponto entre o Sol e a Terra, onde a força gravitacional dos dois corpos na sonda é semelhante - o ponto de Lagrange L1. Foi aqui que passou mais de dois anos a recolher as partículas do vento solar, em placas muito puras de safira, diamante, ouro e outros materiais. Com o desastre no seu retorno à Terra, pensou-se que estas placas teriam sido destruídas, ou pelo menos contaminadas com material terrestre. Mas as primeiras análises aos destroços da Genesis mostraram que pelo menos uma parte das amostras sobreviveu ao impacto, aparentemente sem ter havido contaminação por material terrestre, o que possibilitará alcançar muitos dos objectivos científicos iniciais.
  Durante os próximos meses saberemos ao certo o quanto ainda poderemos esperar da Genesis e da sua exploração às origens do Sistema Solar...


José Afonso
CAAUL/OAL
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