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Trânsito de Vénus
Portugal no Programa VT2004

  Na manhã do passado dia 8 de Junho, todos os olhares (com as devidas precauções, esperamos nós) se viraram para o Sol. Com uns óculos apropriados, ou através de equipamento astronómico adequado, foi possível testemunhar um trânsito de Vénus, fenómeno que não acontecia desde 1882. A passagem do planeta em frente do Sol durou umas escassas horas, mas houve quem, muito antes dessa inesquecível manhã, já envidasse os seus melhores esforços para transformar este raro acontecimento astronómico, que outrora teve grande relevância na medição do Sistema Solar (v. edições de Maio e Junho de O Observatório), numa excepcional ocasião de promoção da Ciência entre os estudantes e o público em geral.

Observação do trânsito de Vénus no OAL

  Associando-se ao Instituto de Mecânica Celeste de Paris, ao Observatório Astronómico de Paris, à Associação Europeia para o Ensino da Astronomia e ao Instituto Astronómico da Academia das Ciências da República Checa, o Observatório Europeu do Sul (ESO) lançou o Programa VT2004 (Venus Transit 2004; website: www.vt-2004.org), disponibilizando ampla informação acerca do fenómeno, da sua observação e convidando todos os interessados a efectuar e submeter o resultado das observações, participando num esforço conjunto de determinação de um parâmetro fundamental em Astronomia: a paralaxe solar, que permite conhecer a distância média Terra-Sol, ou Unidade Astronómica, e, por extensão, calibrar todas as distâncias no Sistema Solar e no Universo. Não que se esperasse obter um valor mais rigoroso do que o actual, que se encontra estabelecido com a precisão do metro (o valor aceite é de 149 597 870 691 metros). Mas imagine-se pôr o estudante, desde o do 1º ciclo ao universitário, o astrónomo amador, o simples cidadão interessado pelas questões científicas, a medirem o Universo em conjunto com uma miríade de observadores espalhados pela Europa!
  Pois foi isso mesmo que aconteceu. Em Portugal, o nodo nacional do programa VT2004 foi constituído pelo Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) e pela Astro - Associação Portuguesa para o Ensino da Astronomia. As duas instituições entregaram-se a um esforço conjunto que se traduziu na elaboração e manutenção de um website em português (http://www.oal.ul.pt/vt2004) com conteúdos abrangentes e diferenciados, na realização de diversas actividades que incluíram sessões de esclarecimento (desde Faro até ao Porto) para professores, astrónomos amadores e público em geral, e na prestação de todo o apoio solicitado pelos participantes na campanha de observação, desde o esclarecimento de dúvidas quanto à melhor maneira de utilizar um telescópio na observação solar até à cedência de um aparelho de GPS para determinação das coordenadas do local de observação (o conhecimento dessas coordenadas era exigido aos participantes). Em colaboração com a ASTRO/OAL estiveram presentes escolas e grupos amadores em Setúbal, Almada, Queluz, Alcabideche, Alcochete, Lisboa, Braga, Fundão, Vendas Novas, Odivelas, Casa Pia de Lisboa, Bragança, Cascais, entre outros. Num programa mundial que contou com um total de 2763 observadores (a grande maioria na Europa, mas também com participações vindas de outras regiões) e com muitas outras contribuições (desenhos, fotografias de actividades públicas, vídeos, etc.), verificou-se uma substancial participação portuguesa, com 18 instituições (para além das que fizeram parte do nodo nacional), nomeadamente escolas e grupos amadores, a aderirem à rede oficial VT2004. No quadro (ver em baixo) apresentamos alguns valores da Unidade Astronómica obtidos por alguns participantes portugueses que contribuíram com as suas próprias observações. Não que o mérito esteja nos valores obtidos - que até são muito próximos do valor oficial - mas sim na participação em si, sendo de fazer especial menção aos professores que se empenharam no envolvimento dos seus alunos neste grande projecto científico-pedagógico.
  Ciente do interesse e expectativa habitualmente gerados por estes fenómenos, e prevendo uma grande afluência de público às suas instalações, o OAL dinamizou um vasto aparato em que colaboraram os seus funcionários e astrónomos, bem como investigadores do Centro de Astronomia e Astrofísica e estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL). Isto permitiu aos muitos visitantes não só a observação segura do trânsito de Vénus, como também o esclarecimento de dúvidas com os cientistas presentes. Além disso, o OAL/FCUL fez parceria com a Direcção Geral de Saúde, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e a Associação Nacional de Farmácias, que envolveu: primeiro, alertar antecipadamente e facultar toda a informação científica acerca do fenómeno em si e sobre os perigos da observação à vista desarmada do trânsito de Vénus. Posteriormente,incluiu a formação dos técnicos de saúde para esclarecimentos ao público, e a colaboração na produção dos três milhões de filtros-visuais para observação solar distribuídos pelo país.


Pedro Raposo
Rui Agostinho
OAL
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