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Editorial

Dois mundos...! Que mundo queremos para Portugal?

  Na sequência das eleições regionais e europeias em certo país europeu, que foram uma bofetada valente na face do governo desse país, o governo foi remodelado e decidiu também finalmente dar ouvidos aos investigadores e cientistas do país. Nesse país, os institutos de investigação foram autorizados a preencher 550 novas posições até ao fim do ano e as universidades receberam 1100 novas posições. Onde foi que isto aconteceu? Poderia ter sido em Portugal? Em que mundo tão distante teve lugar tamanha façanha?
  Como calculam não foi em Portugal! Em Portugal, não parece existir no presente nenhum governante com visão alargada e coragem para reconhecer que ao limitar fortemente o desenvolvimento científico e educacional português, está a empenhar o futuro de todos nós e, o que é mais grave, o dos nossos filhos e netos.
  Aqueles acontecimentos tiveram lugar em França, e as decisões foram do Presidente Chirac. A França, um mundo aqui tão perto, mas se calhar, tão longe...! É que mesmo entrando em conta com a razão entre os números da população francesa e da população portuguesa, nem nos últimos vinte anos, Portugal reforçou assim os seus recursos humanos em investigação e ciência. O Presidente Chirac reconheceu que estava errado. Reconhecer que se erra, que não se é perfeito, é sinal de maturidade, tanto pessoal como política. Mas em Portugal, com que frequência ouvimos algum dirigente reconhecer que errou?
  Em Portugal, com consequências infelizes para todos os cidadãos, há dois anos que se tem vindo a prometer grandes investimentos em Ciência sem que nada se concretize. O contraste entre as palavras e as acções é de tal maneira grande que a comunidade científica se interroga como é possível que se continuem a anunciar milhões para a Ciência sem que praticamente nem um cêntimo se tenha materializado? Por isso, a partir de agora, não adianta aos governantes dizerem que em Portugal vão fazer isto e aquilo, ou que gastam milhões no programa científico xpto, pois até agora nada se concretizou, não têm passado de palavras. Assim, da próxima vez que ouvirmos prometer mais milhões para a Ciência, e certamente que se avizinha por aí outro anúncio desses, vamos todos sorrir incredulamente e pensar: "são apenas palavras". E já dizia a famosa canção "Parole, parole, parole...soltanto parole". Ao contrário dessas palavras, o que realmente se tem passado no terreno, é que mesmo os institutos e unidades de investigação consideradas excelentes por avaliadores estrangeiros, são sujeitas a cortes orçamentais e no melhor dos casos, limitadas a apenas sobreviver. Decisões de financiamento deixaram de ser baseadas no mérito científico para passarem a ser tomadas por alguns, muitas vezes sem conhecimento científico das matérias que avaliam. Dirigentes de instituições científicas evitam denunciar a situação de incumprimento de promessas de financiamento temendo as consequências sobre as suas instituições.
  Desta forma, como é possível esperar avanços e progressos importantes na ciência portuguesa? Como é possível convencer os nossos melhores jovens investigadores a permanecer no País? E relembre-se que são os progressos e avanços da ciência e da tecnologia que melhoram a economia e as condições de vida das populações.
  Que mundo queremos para Portugal? O mundo do sub-desenvolvimento e do trabalho não-qualificado, onde todos os empregos são no turismo, a servir os habitantes dos países que esses sim ousaram investir na qualificação das pessoas, no desenvolvimento, na ciência e na tecnologia? Ou o mundo de cidadãos qualificados, produtores de conhecimento e de empregos mais criativos e mais conducentes a uma realização pessoal genuína e humana? Os cidadãos portugueses, com mais de 18 anos serão chamados a dar uma resposta a esta pergunta. Qual dos dois mundos desejam para Portugal?

João Lin Yun, Director do OAL
 

O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do endereço electrónico: consultorio@oal.ul.pt

As Cores das Estrelas

Questão:

Gostaria que me dessem uma informação sobre a observação das estrelas. Nas escolas, quando observamos o céu nocturno com um telescópio, é possível diferenciar as cores das estrelas para podermos avaliar a sua idade e constituição?

  Sim, mas de uma forma muito grosseira. A olho nu (ou mesmo com telescópio) conseguimos distinguir estrelas de várias cores, do avermelhado ao azulado, passando por estrelas amareladas. A cor de uma estrela é indicativa da sua temperatura e, equivalentemente, da sua massa o que, por sua vez, nos indica a sua idade. As estrelas mais quentes (e de maior massa) são as mais azuladas, as mais frias (e de menor massa) apresentam-se mais avermelhadas, sendo o amarelo um caso intermédio (como o Sol). Isto para estrelas na chamada "sequência principal", a fase mais estável na vida de uma estrela: no início ou no fim da vida de uma estrela o caso é mais complicado.
  Estrelas de maior massa, as azuladas, vivem pouco tempo (dezenas ou centenas de milhões de anos), pois consomem o seu material muito rapidamente. Estrelas de menor massa podem durar mais do que a idade presente do Universo (milhares de milhões de anos). O Sol, um caso intermédio, tem cerca de 5 mil milhões de anos e durará ainda outros tantos.
  Quanto à constituição, todas as estrelas são essencialmente Hidrogénio e Hélio. As estrelas mais antigas não terão outros materiais (para os astrónomos chamados "metais"), mas as mais recentes, eventualmente formadas em nuvens de gás e poeira com elementos de gerações anteriores de estrelas, terão mais "metais". Contudo, a cor (no sentido lato usado aqui) não é uma indicação da metalicidade de uma estrela, mas sim da sua temperatura.

 
"A Astronomia tem raízes milenares e é uma parte integrante da nossa cultura.
Constitui uma representação poderosa da nossa curiosidade intrínseca em conhecer e explorar o ambiente que nos rodeia."
 

Ficha Técnica

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.

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