Página - 1- Titã 2 - "Investir em conhecimento é o que traz maior rentabilidade"
- O Universo à distância
3 4 - Ciência Viva: motivação e empenho 5 - Explorar o Céu...
  Como desfazer uma ilusão e calcular a distância Terra-Lua
6 - Para Observar em Fevereiro
  VISIBILIDADE DOS PLANETAS
  Alguns Fenómenos Astronómicos
  Fases da Lua
  Nascimento, Passagem Meridiana e Ocaso dos Planetas
- Visitas Guiadas ao OAL
- Próxima Palestra Pública no OAL
7- O Céu de Fevereiro

Huygens chega a Titã

Primeira imagem a cores da superfície de Titã. Esta fotografia mostra pequenos blocos de gelo com dimensões de cerca de 15 cm. Um dos blocos (em baixo à esquerda) está fracturado e todos mostram sinais de erosão na base, o que pode indicar uma zona de actividade fluvial. A cor alaranjada deve-se a partículas microscópicas em suspensão na atmosfera, as quais se depositam continuamente à superfície. Cortesia: ESA/NASA/JPL/University of Arizona.
  O passado dia 14 de Janeiro ficou para a história da conquista espacial. A sonda Huygens, da Agência Espacial Europeia (ESA), mergulhou na atmosfera de Titã para recolher dados únicos que nos vão permitir compreender melhor os processos físicos e químicos que ocorrem na maior lua de Saturno.
  Envolta em espessas nuvens de metano, que não deixam ver a sua superfície, Titã é desde há muito um mistério. A composição da sua atmosfera, bem como a temperatura a que se encontra (cerca de -179 graus Celsius), levaram os astrofísicos a pensar que esta poderia ter grandes oceanos de metano na sua superfície. A composição química desta lua parece ser semelhante à que existia na Terra logo após a sua formação, e poderá dar pistas importantíssimas sobre o aparecimento da vida no nosso planeta. O envio de uma sonda que pudesse penetrar na densa atmosfera deste satélite era assim uma prioridade.
  Este objectivo foi agora conseguido. Após cerca de 7 anos a vaguear pelo espaço interplanetário, a sonda Cassini-Huygens (ESA/NASA) chegou em Julho de 2004 ao sistema de Saturno. No passado dia 25 de Dezembro, a Huygens separou-se da Cassini para ir de encontro ao seu objectivo: Titã. Às 10h13 (hora de Lisboa) de 14 de Janeiro, a sonda iniciou finalmente o mergulho na sua atmosfera, atingido o solo perto das 12h34.
  Cerca de 4 minutos mais tarde a Huygens começou a transmitir para a Terra as primeiras imagens de Titã. Algumas destas foram obtidas enquanto a sonda caía para a superfície da lua de Saturno, e mostram uma grande diversidade de terrenos, com ravinas e canais, provavelmente criados por hidrocarbonetos líquidos, que se pensam cobrir uma parte significativa da superfície. Estes canais convergem para uma região que parece ser um "mar" ou lago.
  Estas imagens, bem como a ausência de crateras visíveis nas imagens obtidas pela sonda Cassini durante os recentes sobrevoos do satélite, indicam igualmente que a superfície de Titã está, ou esteve num passado geológico recente, sujeita a processos erosivos. A natureza destes processos está ainda por estabelecer, embora haja fortes indícios da existência de fluidos à superfície (metano e etano líquidos). A hipótese de água líquida à superfície está posta de parte. Já no solo, a sonda enviou as primeiras imagens detalhadas da superfície do satélite. Estas mostram a presença de "rochas", possivelmente constituídas por àgua e hidrocarbonetos gelados.
  Durante os próximos meses os astrofísicos vão analisar as imagens e dados recolhidos pela sonda, para tentar desvendar os mistérios de Titã. A sua composição química vai ser estudada ao pormenor. Vamos ficar a perceber qual a dinâmica da atmosfera deste satélite, bem como se na sua superfície chove metano. Os próximos meses serão assim de grande entusiasmo, à medida que o ser humano descobre este mundo longínquo.


Nuno Santos
CAAUL/OAL
 

A formação das galáxias espirais

  Uma pesquisa recente sobre galáxias no Universo distante, revela que grandes galáxias espirais como a galáxia de Andrómeda, foram completamente "re-formadas" num período muito activo do Universo, entre 4 e 8 mil milhões de anos no passado. Esta "re-construção" deu-se através de colisões com galáxias próximas, que originaram episódios de formação estelar intensa.
Representação esquemática do novo cenário para a formação de muitas galáxias espirais que observamos hoje: uma colisão entre galáxias (1) resulta na sua aglomeração (2), acompanhada de uma formação estelar intensa. Este processo resulta na formação de uma galáxia com uma estrutura compacta (3) que, ao longo dos milhares de milhões de anos seguintes desenvolverá um disco e uma estrutura espiral (4 e 5). Cortesia ESO e François Hammer (Obs. de Paris) e colaboradores.
  As galáxias, aglomerados de estrelas, gás, poeira e outras entidades menos conhecidas (buracos negros e matéria escura, por exemplo), vão lentamente revelando os segredos da sua formação e evolução. Desta vez, uma equipa de astrónomos utilizou uma série de telescópios, entre os quais o VLT, o Hubble, o telescópio espacial de infravermelhos ISO e o rádio-telescópio Very Large Array, para observar galáxias situadas a mais de 4 mil milhões de anos- -luz, caracterizando aquilo que se pode chamar a "Idade Média" do Universo (que possui cerca de 13.7 mil milhões de anos). Os dados obtidos revelaram que uma fracção considerável das galáxias nesta época, são muito brilhantes no infravermelho - no Universo local, hoje, estas galáxias são extremamente raras. A emissão abundante no infravermelho revela uma formação estelar muito intensa, correspondendo a um duplicar da massa na forma de estrelas em menos de mil milhões de anos. Ou seja, estas galáxias encontram-se em evolução extremamente rápida, mudando completamente o seu visual num intervalo de tempo muito curto (em termos astronómicos). Ora, como tais fases de formação estelar intensa são frequentemente originadas por colisões com galáxias vizinhas, estas observações apontam para a existência de interacções frequentes entre galáxias há menos de 8 mil milhões de anos. Tal contradiz os modelos actuais de evolução de galáxias, que sugerem um Universo relativamente "pacífico" na última metade da sua evolução. Assim, muitas galáxias terão atravessado uma fase de colisão com uma galáxia vizinha entre 8 e 4 mil milhões de anos no passado (ver figura), a que se seguiu uma fase de galáxia compacta (agregando a matéria das duas galáxias iniciais) onde terá crescido, durante os últimos milhares de milhões de anos, um disco apresentando os braços espirais que tão bem conhecemos hoje. Este cenário pode explicar 75% das galáxias espirais que observamos hoje, aquelas que possuem uma parte interior (o bojo) de maior massa - tal como a galáxia de Andrómeda.
  As outras espirais que observamos, como a nossa própria Via--Láctea, não terão atravessado nenhuma grande colisão nos últimos milhares de milhões de anos... será motivo para nos felicitarmos?


José Afonso
CAAUL/OAL
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