Editorial
"Astrónomo Educacional": uma Nova Profissão?
Nunca é demais recordar o papel extremamente importante que a Astronomia pode ter no esforço nacional de formarmos cidadãos qualificados em Ciência e Tecnologia. O fascínio da Astronomia e Astrofísica permite contrariar eficazmente a desertificação pelos estudantes das áreas de Ciência que envolvem matemática e raciocínio abstracto.
A atestar esta importância, a NASA acaba de tomar um conjunto de medidas que, na prática, institucionalizam uma nova profissão: a de "Astrónomo Educacional" . Em inglês, a designação adoptada é a de "EPO professional" ("Education and Public Outreach profissional" ). Um profissional EPO, ou "astrónomo educacional", é alguém que desenvolve, testa e dissemina materiais e programas educacionais, que posteriormente alguém (sobretudo professores) utilizam numa aula ou audiência pública, a maior parte das vezes para alunos de escolas básicas e secundárias, no ensino dito formal. Desta forma, o seu trabalho serve centenas de professores e milhares de estudantes.
A necessidade destes profissionais está bem comprovada. Professores que desejam desenvolver actividades para os seus alunos de modo a melhorar a qualidade do seu ensino, sentem grandes dificuldades em obter apoio para essa tarefa. Na situação actual das comunidades universitárias, a maioria dos investigadores e professores não têm apetência natural para dedicar uma parcela importante do seu tempo para este fim. Os que o fazem são claramente insuficientes. São assim necessários uma espécie de intermediários entre os investigadores e os agentes de ensino e de divulgação, que dedicando-se a tempo inteiro ao seu trabalho, facilitam a tarefa de educar cientificamente a população. Note-se porém que não devem ser normalmente os "astrónomos educacionais", eles próprios, os agentes de ensino ou de divulgação.
Em inquéritos realizados na Europa e nos Estados Unidos da América, uma larga maioria de pessoas dizem que a Ciência e a Tecnologia tornaram as suas vidas melhores e o seu trabalho mais interessante. Contudo, poucos afirmam estar bem esclarecidos em questões de Ciência e Tecnologia, mesmo em assuntos que têm impacto directo nas suas vidas, tais como problemas de alimentação e saúde pública, energia, tecnologia para uso doméstico, etc. A maioria apoia um maior investimento, público e privado, em investigação científica de modo a que possa haver também maior acesso ao conhecimento científico, seja através do ensino formal, seja através de formas mais informais de divulgação do conhecimento, dirigidas a miúdos e a graúdos, em instituições várias como museus, bibliotecas, associações, etc.
As medidas que a NASA tomou incluem um financiamento específico para que os astrónomos educacionais possam exercer o seu trabalho. Teve já como resultado a formalização desta profissão nos Estados Unidos da América, cujos profissionais acabam de realizar uma conferência de grande envergadura. No nosso País, a necessidade de astrónomos educacionais é muito grande e pode fazer toda a diferença. A sua existência pode evitar que professores, desanimados por não encontrarem apoio, desistam de fazer mais e melhor para tornarem a Ciência apetecível aos olhos e mentes dos nossos alunos.
Na situação de atraso do nosso País, somos todos poucos nesta tarefa de instruir, ensinar, trazer a Ciência até aos estudantes e ao público em geral. Infelizmente, como foi anunciado no mês passado, o OAL não tem condições para continuar a dar a sua contribuição para esta tarefa de forma eficiente. Continuamos sem saber se o bom-senso, a visão, a inteligência, prevalecerão naqueles que têm autoridade e poder de decisão (a FCUL e a UL) sobre a importância de instituições quase sesquicentenárias como o OAL. Quando o que está em questão são instituições como estas, ou saímos todos a ganhar ou todos a perder. Todos: universidade, faculdade, departamentos, professores, estudantes e população em geral. Pois é este o âmbito da nossa acção! São do Norte ao Sul do País, incluindo as Ilhas, os participantes das nossas iniciativas. Bem hajam todos eles pelo seu interesse pela Ciência, por quererem saber mais, por quererem enriquecer os seus espíritos e alargar os seus horizontes.
João Lin Yun, Director do OAL
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Ficha Técnica
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Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun, João Retrê. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Tecla 3, Artes Gráficas, Av. Almirante Reis, 45A, 1150-010 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
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