Sucedendo ao Einstein Observatory (ver O Observatório de Dezembro de 1997) e ao EXOSAT (ver O Observatório de Março de 1998) na observação do Universo em raios-X, foi lançado em Junho de 1990 o ROSAT, fruto de uma colaboração entre a Alemanha, os Estados Unidos da América e o Reino Unido. Possuía a capacidade de detectar fontes de raios-X 3 vezes mais fracas que o Einstein e podia ainda efectuar observações na região entre o ultravioleta e os raios-X (o ultravioleta longínquo; a viabilidade da observação astronómica neste intervalo de comprimentos de onda envolve situações físicas muito interessantes que desenvolveremos no próximo número, quando falarmos de uma missão concebida especificamente para estes comprimentos de onda).
Durante os primeiros seis meses o ROSAT efectuou um levantamento das fontes de raios-X em todo o céu, tendo detectado cerca de 60000 (70 vezes o número de objectos anteriormente observados), com uma precisão posicional nunca antes alcançada. Com o ROSAT a astronomia de raios-X atingiu a maturidade, já que agora os astrónomos possuem um número suficiente de fontes para investigar com rigor os fenómenos responsáveis pela emissão de raios-X no Universo.
Tal como o Einstein Observatory, o ROSAT detectou raios-X provenientes das coroas das estrelas. Com 20000 estrelas observadas, os astrónomos verificaram que a estrelas jovens e com uma rotação mais rápida são as mais profusas na emissão desta radiação. Pensa-se que a rotação rápida intensifica o campo magnético da estrela, o que por sua vez aquece a respectiva coroa e cria as condições (uma temperatura elevada aliada a uma baixa densidade) para uma maior emissão de radiação nestes comprimentos de onda.
A duração desta missão (8 anos, estando neste momento à beira de ser terminada) permitiu também investigar o ciclo magnético de muitas estrelas. Um dos objectivos é a comparação com o ciclo magnético solar, permitindo porventura compreender melhor o próprio comportamento da nossa estrela.
Entre os muitos objectos emissores de raios-X (sistemas binários de raios-X, remanescentes de supernova e galáxias activas, por exemplo), podemos destacar o estudo efectuado dos enxames de galáxias. O gás extremamente quente que preenche o espaço entre as galáxias nestes enxames emite uma quantidade imensa de radiação nos raios-X (ver figura abaixo). Com as observações detalhadas efectuadas pelo ROSAT foi possível verificar que a atracção gravitacional a que este gás está sujeito é muito maior do que a atracção esperada considerando unicamente as galáxias do enxame. Esta descoberta vem ao encontro de outros indícios que sugerem que 90% da massa do Universo está na forma de matéria escura, matéria que não emite radiação e que apenas pode ser detectada pelos efeitos gravitacionais que provoca.
O Enxame da Virgem observado pelo ROSAT em Raios-X
O ROSAT efectuou também um estudo detalhado do "fundo" de raios-X que tem sido um mistério desde as primeiras observações em 1962. Foi possível verificar que pelo menos metade deste fundo provém de quasares muito distantes e de galáxias de starburst. Pensa-se que o resto desta radiação terá origem em objectos semelhantes a maiores distâncias ainda, o seu número elevado mascarando o carácter individual da emissão e fazendo o céu brilhar mais ou menos uniformemente nos raios-X.
Após oito anos de observações o ROSAT está prestes a deixar de funcionar. Desde o mês de Abril vários problemas têm vindo a afectar os sistemas de orientação do satélite culminando, em Setembro último, com o telescópio a apontar directamente para o Sol. As consequências para os detectores foram desastrosas e irreversíveis. Contudo, esta foi uma missão com um sucesso enorme e a ciência já obtida faz esperar com ansiedade a entrada em actividade dos próximos telescópios de raios-X.
JMA