No último número falámos da problemática relacionada com a observação no infravermelho e do lançamento do IRAS (Infrared Astronomical Satellite), o satélite que modificou a nossa visão do Universo nestes comprimentos de onda. Prosseguimos neste número descrevendo alguns dos resultados obtidos por esta missão, após uma vida curta (de pouco mais de 10 meses) mas plena de descobertas.
Com 62 detectores sensíveis à radiação no infravermelho em 4 bandas centradas nos 12, 25 60 e 100 (1 é a milésima parte do milímetro), o IRAS detectou muito eficientemente a poeira relativamente fria espalhada pelo meio interestelar. A região da constelação de Orion é bem ilustrativa da visão do IRAS (ver imagens). A primeira imagem é a visão familiar desta constelação, no óptico. A segunda imagem foi obtida a partir das observações do satélite e revela a grande quantidade de poeira existente naquela direcção.
Como referimos no número anterior, as estrelas nascem em zonas muito ricas em poeira, o que dificulta ou impossibilita mesmo a sua observação no óptico. No infravermelho, contudo, as protoestrelas revelam-se muito mais facilmente. Na nebulosa de Orion (visível na parte inferior direita das imagens) e noutras nuvens moleculares onde as estrelas nascem, o IRAS descobriu uma quantidade de estrelas jovens muito superior ao que era esperado. A taxa de formação de estrelas nestas nuvens revelou-se ser cerca de 10 vezes maior do que se supunha a partir das observações realizadas no óptico.
Ainda na Galáxia, o IRAS descobriu que algumas estrelas "adultas" como a Vega e a Pictoris emitem uma quantidade surpreendentemente grande de radiação no infravermelho. Observações posteriores com telescópios terrestres e com o Hubble Space Telescope, no óptico, revelaram que esta radiação é emitida por um disco de poeira em torno da estrela em causa. Possivelmente esta poeira está a formar planetas, tal como sucedeu com a poeira em torno do Sol há cerca de 5 mil milhões de anos. Talvez uma das descobertas mais fascinantes da nova astronomia de infravermelho médio e longínquo tenha sido a identificação de uma classe de galáxias que emitem mais energia no infravermelho do que em todos os outros comprimentos de onda juntos: as chamadas "galáxias ultraluminosas". Entre elas encontram-se os objectos mais brilhantes do Universo. O IRAS realizou o primeiro estudo de todo o céu no infravermelho longínquo e encontrou um grande número destas galáxias. A partir das suas observações, descobriu-se que mais de 90% destes objectos apresentam sinais de interacções fortes com galáxias próximas. É hoje reconhecido que as colisões, relativamente frequentes, entre galáxias representam um papel importante na evolução destes sistemas. Mais ainda, acredita-se na existência de uma ligação estreita entre estes encontros e os quasares.
As observações do IRAS mostraram a grande importância do infravermelho para a Astronomia. As descobertas realizadas levaram rapidamente a planear outras missões que pudessem prosseguir o trabalho do IRAS. O ISO (actualmente em funcionamento), o WIRE e o SIRTF são apenas alguns dos nomes das missões projectadas para continuarem o estudo do Universo no infravermelho, fornecendo novas informações sobre os planetas, as estrelas e as galáxias. Delas vos falaremos em próximos números.
JMA