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Missões Espaciais Astronómicas
Nos últimos anos deste milénio tem-se assistido a uma nova
etapa na astronomia de raios-X. Após observatórios como o
Einstein (ver O Observatório de Dezembro de 1997)
ou o Rosat (ver O Observatório de Dezembro de 1998),
que possibilitaram os primeiros estudos detalhados do Universo nesta região
do espectro electromagnético, estamos agora a conhecer os primeiros
resultados do Chandra X-ray Observatory (ver Notícias
neste número), lançado no passado mês de Julho pela
NASA, e prepara-se o lançamento pela Agência Espacial Europeia
(ESA) do XMM (X-ray Multi Mirror), planeado para este mês
de Dezembro. Com sensibilidades e resoluções nunca antes
alcançadas neste domínio do espectro electromagnético,
estes observatórios, que estarão em funcionamento durante
vários anos, prometem revolucionar a astronomia de raios-X.
As áreas de investigação onde se esperam contribuições
significativas destas missões, com as suas capacidades inovadoras
para imagem e espectroscopia, incluem:
-
Radiação de fundo em raios-X: grande parte do fundo
difuso de raios-X observado até hoje é devido a fontes pontuais
compactas no Universo primitivo. A melhoria em resolução
e sensibilidade tornará possível a identificação
de muitas destas fontes, ajudando a conhecer melhor a verdadeira radiação
de fundo nestes comprimentos de onda;
-
Enxames de galáxias: o gás que preenche o espaço inter-galáctico
nos enxames de galáxias encontra-se a temperaturas de milhões
de graus, emitindo profusamente nos raios-X. Além de permitir estudar
as propriedades deste gás (densidade, temperatura, composição
e dinâmica), as observações com o Chandra e
o XMM permitirão quantificar melhor a quantidade de matéria
nos enxames de galáxias;
-
Galáxias Activas e Quasares: pensa-se que os quasares e certas
galáxias devem a sua tremenda actividade (revelada pela existência
de jactos, variabilidade e elevado brilho) à existência de
buracos negros supermassivos no seu interior. A acrecção
de matéria origina temperaturas muito elevadas que resultam na emissão
em raios-X. O estudo destas fontes permitirá melhorar o nosso conhecimento
do "motor" destes objectos;
-
Estrelas de neutrões e binários de raios-X: a acrecção
de matéria resulta, em geral, na emissão de raios-X. Tal
não se aplica apenas a buracos negros supermassivos no centro de
galáxias mas também a estrelas de neutrões e a sistemas
binários nos quais um dos elementos é um buraco negro ou
uma estrela de neutrões e o fluxo de matéria tem origem numa
estrela companheira. A espectroscopia destas fontes (especialmente o estudo
das riscas de emissão de elementos como o ferro) permitirá
conhecer o estado da matéria em acrecção.
Uma das primeiras imagens obtidas pelo Chandra foi a do quasar
PKS 0637-752. As observações anteriores desta fonte indicavam-
-na como uma fonte pontual nos raios-X, esperando-se que ela servisse para
calibrar outras observações. Porém, graças
à melhoria na resolução, é possível
identificar um jacto que se estende por mais de 200.000 anos-luz, uma estrutura
também evidente no rádio.
O quasar PKS 0636-752 em raios-X (em cima), imagem obtida pelo Chandra e no rádio (em baixo), numa imagem do Australian Telescope Compact Array. Créditos: NASA/CXC/SAO e ATCA.
O jacto observado deve ter origem na acrecção de matéria
para um buraco negro supermassivo neste quasar, e é o movimento
das partículas deste jacto no campo magnético gerado que
origina a emissão: nos raios-X para as partículas mais energéticas,
no rádio para as de menor energia. É possível ver
que o jacto no rádio se estende mais que nos raios-X (sendo até
possível identificar uma curva), fruto da perda de energia das partículas
à medida que interagem com o meio envolvente
O XMM, que entrará em funcionamento em breve, terá
uma sensibilidade maior que o Chandra, mas a sua resolução
será pior. Contará com a inovação de possuir,
para além dos instrumentos dedicados à observação
dos raios-X, um telescópio de 30 cm para efectuar observações
simultâneas no óptico e ultravioleta, o que ajudará
a identificar as fontes responsáveis pela emissão em raios-X.
JMA