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O Resto do Universo (cont.)

Devido à opacidade da atmosfera terrestre, a observação astronómica no infravermelho médio e longínquo não é possível a partir da superfície da Terra. Observatórios em órbita são essenciais para o estudo do Universo nesta região do espectro electromagnético. Em 1983, o satélite IRAS efectuou o primeiro estudo em larga escala do Universo em comprimentos de onda de 12, 25, 60 e 100 micrometros (ver O Observatório de Janeiro e Fevereiro de 1998). A quase totalidade (96%) do céu foi observado e cerca de 250000 fontes de infravermelho foram reveladas, a maior parte delas previamente desconhecidas. Estudos sobre os locais de formação de estrelas, a formação de planetas e a evolução das galáxias foram muito reveladores, mas muito ficou por resolver. Outras missões para observações nestes comprimentos de onda eram necessárias.

Em Novembro de 1995, mais de 12 anos após o lançamento do IRAS, o ISO (Infrared Space Observatory) entrou em funcionamento. Esta missão da Agência Espacial Europeia (ESA), foi concebida para efectuar observações entre 2.4 e 240 micrometros com uma sensibilidade e resolução muito superiores às atingidas pelo seu antecessor (um aumento de 1000 vezes em sensibilidade e 100 em resolução a 12 micrometros).

O telescópio na base do desenho do ISO possuía um espelho primário de 0.6 metros de diâmetro (ver figura). Tanto a obtenção de imagens como de espectros eram possiveis através do uso de quatro detectores. A câmara de infravermelho ISOCAM e o foto-polarímetro ISOPHOT, permitiam a obtenção de imagens em comprimentos de onda, respectivamente, entre 2.5 e 17micrometros e entre 2.5 e 240 micrometros. Os dois restantes instrumentos eram responsáveis pela espectrometria das fontes, operando entre 2.4 e 45 micrometros (o SWS - Short Wavelength Spectrometer) e entre 43 e 197 micrometros (o LWS - Long Wavelength Spectrometer).

O espelho principal do ISO, na fase final de preparação

A observação astronómica no infravermelho requer que o telescópio e os instrumentos se encontrem a temperaturas muito baixas, para que a radiação por eles emitida nestes comprimentos de onda seja a mínima possível e não afecte as observações. No ISO, tal como havia sucedido com o IRAS, uma grande quantidade de hélio líquido (2300 litros aquando do lançamento) mantinha os instrumentos e o telescópio a temperaturas entre os 2 e os 8 K (-271 e -265 oC, respectivamente). À semelhança do que acontece com outras missões desta natureza, é o uso do hélio líquido que limita o tempo de vida da missão. Quando ele se gasta, a temperatura do observatório sobe e a radiação por ele emitida aumenta, "inundando" os detectores e impossibilitando a observação astronómica. No caso do ISO, estava previsto que a missão durasse cerca de 18 meses, mas vários factores permitiram a sua extenção até aos 28 meses (até Maio de 1998). Para além de o consumo do hélio se ter revelado mais lento do que o previsto, os responsáveis pelo ISO conseguiram voltar a encher o reservatório de hélio líquido imediatamente antes do lançamento, durante uma revisão técnica do Ariane (o foguetão que transportou o ISO).

Veremos no próximo número alguns exemplos do contributo do ISO e das suas mais de 26000 observações para a compreensão de questões como a origem dos planetas e das estrelas, a química do Universo e a evolução das galáxias.

Um esboço do Infrared Space Observatory

JMA



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