Sempre que se observa na Natureza uma tamanha coincidência, somos levados a pensar que talvez não se trate de uma verdadeira obra do acaso, mas sim de algo natural. Tanto mais que quando observamos a maior parte dos satélites dos outros planetas do nosso sistema solar, verificamos que esta formidável relação entre os períodos de rotação e translação também se verifica. Mas então, a que se deverá este curioso fenómeno?
Mais uma vez a resposta está na força de gravidade. Sim, a mesma força que mantém a Lua em órbita da Terra é responsável pelo sincronismo dos seus dois movimentos de rotação principais! No entanto, não podemos pensar na Lua como um ponto que orbita a Terra, temos sim que ter em conta a sua forma e estrutura interna: as zonas da Lua mais próximas da Terra vão sofrer uma atracção maior que as zonas mais afastadas. A esta atracção diferencial das diferentes partes de um corpo chama-se "efeito de maré". O nome provém do facto deste fenómeno ser também o responsável pela existência de marés nos oceanos da Terra. Na Lua não existem oceanos mas todo o planeta sofre a acção desta força que o deforma constantemente. A consequente fricção entre as suas camadas interiores resulta em dissipação de energia interna que nos casos mais violentos pode originar vulcões (como se observa na lua joviana, Io). Aquando da sua formação a Lua possuía, tal como os outros astros, um período de rotação independente e com uma duração inferior a alguns dias. Contudo, sob a acção contínua dos efeitos de maré provocados pela presença da Terra, o seu período de rotação foi aumentando constantemente até atingir o patamar em que hoje se encontra. A situação actual é estável pois corresponde a um mínimo de dissipação de energia. Intuitivamente pode-se tentar compreender a situação actual através do modelo da "bola de rugby". Imagine-se que a Lua é uma esfera perfeita. Na presença do efeito de maré ela deforma-se, transformando-se num elipsoide com a forma aproximada de uma bola de rugby. Ora, enquanto a sincronização não é alcançada, os pontos da Lua vão sofrer constantemente uma modificação da sua posição, oscilando entre a forma esférica e a elipsoide. Quando chegamos à posição de sincronismo, temos permanentemente a Lua com forma elipsoide, com as extremidades colocadas na direcção que a une à Terra. Nesta situação a Lua fica permanentemente deformada, mas nenhum dos seus pontos sofre mais modificação de posição. Na realidade os astrónomos conseguem observar cerca de 60 % da superfície lunar a partir da Terra (em vez da metade prevista pela teoria). Isto não está de forma alguma em contradição com o que acaba de ser explicado nos parágrafos precedentes. O que sucede é que até aqui temos considerado a órbita da Lua circular. Como se sabe isto não é bem verdade: a órbita lunar, embora bastante próxima de um círculo perfeito, é afinal uma elipse. Desta forma, consoante a posição da Lua na sua órbita assim se consegue espreitar um pouco mais além. Só foi possível observar a restante superfície lunar com o auxílio de sondas espaciais. Só em 1993 com a sonda "Clementine", se conseguiu cartografar na totalidade a superfície desconhecida!!!
Fig. O nariz da lua pode ser visto como a deformação permanente que faz com que esta fique sempre virada para a Terra.Dr. Alexandre Correia