Go backward to Porque é que a Lua nos mostra sempre a mesma face?
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Adeus Lua?

Nos anos 70, numa conhecida série de aventuras de ficção científica intitulada Espaço 1999, a nossa Lua libertava-se da Terra indo vaguear pelo Universo fora. Felizmente que se tratava apenas de ficção e em 1999 a Lua continuou no lugar a que sempre nos habituou. Mas, será que vai ser sempre assim? Quando os primeiros astronautas viajaram até à Lua deixaram, entre várias outras coisas, alguns espelhos apontados na direcção da Terra. A partir destes espelhos é possível medir, com a ajuda de raios laser, todas as variações na distância Terra - Lua com uma precisão superior aos mm. Assim, pôde-se constatar que, em média, o nosso astro vizinho se afasta de nós cerca de 3,8 cm por ano! À partida pode não parecer muito mas, para dar um termo de comparação, os continentes afastam-se, em média, apenas 1 a 2 cm por ano. Do mesmo modo que estes já formaram um só, também a Lua já se encontrou muito mais perto de nós. Aliás, fazendo o relógio andar para trás verificamos que a Lua e a Terra já se encontraram o que corrobora uma teoria de passado comum. Se se olhar para o futuro, será que a Lua um dia vai mesmo partir? O problema é real: quanto mais a Lua se afasta da Terra, maior é a perturbação que a força de gravidade do Sol exerce sobre ela e menor é o efeito do nosso planeta. Existe um limite de afastamento, a partir do qual a atracção do Sol liberta definitivamente o nosso satélite, que corresponde a cerca de 4.5 vezes a distância Terra - Lua actual. Se a taxa de afastamento se mantiver constante a Lua partirá definitivamente da atracção gravitacional terrestre dentro de 30 biliões de anos. Ora como se pensa que o sistema solar apenas viverá mais 5 biliões de anos aproximadamente, parece que nunca ficaremos sem a nossa companheira. Mas porque é que a Lua se afasta? Tal como no artigo anterior sobre a sincronização dos movimentos de rotação da Lua, a resposta está nos efeitos de maré. Como vimos anteriormente, estes efeitos são responsáveis por uma modificação no período de rotação da Lua. Ora, o mesmo se passa com a Terra (especialmente com os oceanos, daí o nome de efeito de maré): devido à atracção diferencial do nosso planeta por parte da Lua, o seu período aumenta lentamente. Foram encontrados fósseis com cerca de 400 milhões de anos onde havia evidências de um dia com 22 horas, menos duas que actualmente. Medições rigorosas feitas hoje em dia indicam um atraso correspondente a cerca de 2 milésimas de segundo por século.

Fig. O sistema Terra - Lua visto pela sonda Galileo.
Devido à conservação de uma grandeza física muito importante intitulada momento angular - relacionada com uma conservação de simetria nas rotações no espaço - uma vez que o momento angular da Terra e da Lua diminuem, é necessário que o momento angular orbital aumente para que haja conservação no total. Isto resulta no afastamento dos dois corpos. À medida que a rotação da Terra se aproxima da sincronização e que esta se afasta da Lua, o efeito de maré entre elas vai diminuindo. Simulações feitas em computador apontam no sentido de que se a Terra e a Lua resistirem à destruição do sistema solar, nunca se separarão, mesmo após 30 biliões de anos: seria atingida uma estabilização dos períodos de rotação da Terra, Lua e orbital à volta dos 50 dias!!!

Dr. Alexandre Correia
Institute de Mécanique Céleste, Paris, França



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