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EDITORIAL

Sorte

Partimos, todos preparados, para o Observatório de Calar Alto no sul da Espanha, a 140 km de Granada, 3 observadores (P. Lacerda, N. Peixinho e eu). Foram-nos atribuídas 6 noites de observação com um telescópio de 1,52 metros de diâmetro para um projecto de determinação de períodos de rotação de alguns Centauros. Os Centauros são pequenos corpos, tipo asteróides, com órbitas para além da órbita de Júpiter, que se pensa terem tido origem na cintura de Kuiper. Conhecer o seu estado de rotação pode-nos elucidar sobre a sua história colisional, permitindo assim saber em que medida são vestígios da formação do Sistema Solar. Um colega sugeriu que observássemos também os núcleos de 2 cometas longínquos, já que sobre estes objectos ainda pouco se conhecia. Ao observar este tipo de corpos não se vê mais do que uma "estrelinha" que se move no decorrer de um breve espaço de tempo (por exemplo uma hora). Foi o que aconteceu no caso do primeiro cometa: não tivemos qualquer dificuldade em identificá-lo. Porém, a primeira observação do segundo cometa, denominado Larsen 1998M3, deixou-nos em dúvida se estaríamos a apontar para o sítio certo no céu: não aparecia nenhum objecto onde esperávamos. Na imagem seguinte, obtida uma hora depois, também não constava nada. No entanto, segundo as previsões, o objecto era bastante brilhante, sendo o nosso telescópio perfeitamente capaz de o captar. Um de nós começou então a comparar mais atentamente as duas imagens e viu, na zona onde se deveria observar o cometa, uma mancha. Este cometa estava afinal activo e tinha uma coma !! (ver http://www.oal.ul.pt/  placerda/ Isto é algo raro porque, à distância a que se encontra - 7 vezes mais distante do Sol que a Terra, entre as órbitas de Júpiter e Saturno - não seria de esperar qualquer actividade. Na verdade, os cometas, em geral, só se tornam activos quando se aproximam bastante do Sol, i.e. a uma distância menor do que a de Júpiter. Duas noites depois confirmámos a nossa observação com novas imagens. Pena é que o brilho do cometa fosse demasiado fraco para que a nossa instrumentação pudesse determinar mais do que a sua presença. Outros telescópios mais potentes seriam capazes de obter imagens melhores. Comunicámos esta descoberta à International Astronomical Union (IAU). Entre várias actividades, a IAU ocupa-se de distribuir informação sobre novas descobertas (como a nova de que falámos na edição de Janeiro) o mais rapidamente possível. Deste modo, outros observatórios podem observar também o mesmo objecto, permitindo um estudo mais completo e detalhado. A nossa observação não foi bem uma descoberta de um novo objecto: este cometa foi observado pela primeira vez em 1998. Mesmo assim, valeu a pena informar a IAU: a nossa observação será publicada, ajudando outros observadores a seguir este cometa no futuro.

MRS

Na noite de 25 para 26 de Março a hora vai mudar. Os ponteiros do relógio vão avançar de uma hora, da uma da manhã para as duas, começando assim o horário de Verão.

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MRS & CL



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