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O mundo maravilhoso da Rádio-Astronomia

(Resumo da palestra de Fevereiro)

Quando falamos em Astronomia, imaginamos o Espaço imenso repleto de estrelas e de outros astros longínquos e enigmáticos. As imagens que nos invadem a mente são as do céu nocturno visto a olho nú num local longe da poluição luminosa das grandes cidades, ou as fotografias espantosas, cheias de côr, obtidas por telescópios que captam a luz visível, isto é, a radiação electromagnética que os nossos olhos detectam. Contudo, uma grande parte do que sabemos hoje sobre o Universo provém da análise de luz invisível, isto é, de radiação electromagnética que, por ter um comprimento de onda diferente do da luz visível, não é detectado pelos nossos olhos. Salientamos aqui um tipo particular de "luz" invisível: as ondas de rádio. Estas constituem a zona do espectro electromagnético de frequências mais baixas, ou seja, de comprimentos de onda mais elevados.

O estudo do Universo feito através da análise das ondas de rádio emitidas pelos astros constitui a Rádio-Astronomia. Para se ter uma ideia da sua importância, recuemos no tempo para o início dos anos trinta do século XX. Nessa altura, não existia Rádio-Astronomia e o estudo do céu era feito exclusivamente com telescópios ópticos comuns destinados a captar a luz visível. Ora sem Rádio-Astronomia não eram conhecidos os pulsares nem a radiação de fundo (eco do Big Bang). As centenas de moléculas orgânicas no Espaço Interestelar e as grandes nuvens de hidrogénio na Galáxia não podiam ser descobertas. Por sua vez, o programa SETI (pesquisa de inteligência extra-terrestre) também não era viável.

O retrato do Universo visto em ondas de rádio é bem diferente do Universo visto à luz visível. Esta última mostra-nos, na sua maior parte, um Universo calmo, quiescente, dito térmico. Os seus processos são de quase-equilíbrio, de longa duração, ocorrendo em escalas de tempo muito grandes, habituais quando pensamos em Astronomia, de milhões ou de milhares de milhões de anos. Exemplos deste Universo calmo (térmico) são os planetas e as estrelas que tranquilamente emitem a sua luz pelo simples facto de estarem quentes, de possuirem uma temperatura diferente do zero absoluto. Já a Rádio-Astronomia (bem como outras "astronomias": de raios-X, de raios-gama revela-nos um Universo violento, explosivo, em transição rápida, não-térmico. Alguns destes processos podem ocorrer em segundos. Outros, embora ocorrendo em tempos que se assemelham aos processos do Universo calmo, são acompanhados de emissão de quantidades de energia prodigiosas. A maior parte dos processos estudados pela Rádio-Astronomia revelam estruturas e componentes que não podem ser estudadas na luz visível.

Fig. 1 Imagem rádio de uma galáxia activa (Cisne A). Os lóbulos escuros resultam da propagação de jactos de electrões emitidos pelo núcleo da galáxia. A imagem óptica da galáxia cabe no ponto brilhante no centro da imagem!
As ondas de rádio, tal como a luz visível, são recolhidas por telescópios (vulgarmente designados por "antenas"). A sua detecção baseia-se não num efeito químico (como numa fotografia de luz visível) mas num efeito electrónico, na detecção da corrente eléctrica produzida pelas ondas. A tecnologia actual permite a obtenção de espectros e de imagens produzidas pelas ondas de rádio emitidas pelos objectos celestes. O seu estudo detalhado tem conduzido às grandes descobertas escondidas na luz invisível destes objectos. Estes resultados constituem "o mundo maravilhoso da Rádio-Astronomia".

Fig. 2 Telescópio SEST, de 15 m, localizado no Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, muito utilizado pelos membros do CAAUL para estudar as nuvens de gás onde ocorre o nascimento de novas estrelas.

Doutor João Lin Yun
CAAUL, Centro de Astronomia e Astrofísica da Univerdidade de Lisboa


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