O que são?
Os Centauros são pequenos corpos do Sistema Solar, compostos essencialmente por gelos, (com diâmetros que vão desde 1-20 Km até aos 200 Km), que orbitam entre Júpiter e Saturno. Crê-se que são objectos de transição da Cintura de Kuiper para o Sistema Solar Interior, onde eventualmente se tornam cometas de curto-período; o seu tempo de vida dinâmico é de cerca de a anos.
A origem dos Centauros
Em 1977, no Observatório de Palomar (EUA), C. Kowall observou o primeiro objecto candidato a Centauro, o 2060 Chiron. Estudos dinâmicos indicaram que a sua órbita era altamente instável devido a perturbações dos planetas gigantes e assim o seu tempo de vida entre estes planetas era muito baixo, concluíndo-se que a sua origem deveria ser um reservatório estável, ou na Cintura de Asteróides ou numa zona para além dos planetas gigantes como, por exemplo, a Nuvem de Oort.
Por outro lado, a descoberta da coma que rodeava Chiron, nos anos 80, indicava a presença de elementos voláteis que não poderiam ter sobrevivido por toda a idade do Sistema Solar na Cintura de Asteróides (como esta é razoavelmente quente, os elementos já se teriam evaporado), o que sugere que Chiron se tivesse formado para lá dos planetas gigantes.
Outro elemento importante para a origem dos Centauros foi também o estudo dos cometas de curto-período, os chamados JFC (Jupiter-Family Comets). Estes têm órbitas pouco inclinadas que não podem ser produzidas na Nuvem de Oort, uma vez que os objectos desta nuvem têm órbitas inicialmente aleatórias que não podem resultar nas órbitas dos JFC apenas por perturbações planetárias. Ora, uma região que satisfaz todos estes critérios é a região para além da órbita de Neptuno (30 UA), onde se situa a Cintura de Edgeworth-Kuiper; nesta zona as perturbações de Neptuno e dos outros planetas gigantes faz com que se alterem as excentricidades orbitais dos objectos da Cintura; se estes cruzarem a órbita de Neptuno, poderão ficar temporariamente com órbitas equivalentes às dos Centauros, entre os planetas gigantes. Outros objectos vão adquirir órbitas que passam a 1-2 UA do Sol, desenvolvendo coma e sendo facilmente identificáveis.
Algumas propriedades físicas
Alguns Centauros, quando estão mais próximo do Sol, tornam-se 100 a 600 vezes mais brilhantes que os outros objectos da Cintura de Kuiper (cometas, por exemplo), sendo então mais facilmente identificáveis. Estando mais próximos do Sol, os Centauros atingem temperaturas de superfície da ordem dos 120-150 K, enquanto que os restantes objectos da Cintura nunca ultrapassam os 60-70 K; embora este aquecimento faça com que a superfície dos Centauros se transforme bastante física e quimicamente, também faz com que os gelos à superfície sublimem, revelando a composição interna destes objectos. Crê-se que a maior parte deles tenha 60 Km de diâmetro, excepto Chiron e Pholus, com 180 Km. Espectros no infravermelho indicam, em Pholus, a presença de sólidos orgânicos misturados com os gelos e, quer em Chiron ou em Pholus, foi detectado gelo de água. Os objectos apresentam também cores diferentes: Chiron é intrinsecamente mais cinzento (neutro) enquanto que Pholus (na mesma órbita e aproximadamente do mesmo tamanho) é muito vermelho; esta característica pode ser explicada por mecanismos evolucionários (se um objecto sofreu mais impactos é mais vermelho) ou por composições químicas diferentes.
Porquê estudá-los?
A existência destes objectos e da Cintura de Kuiper veio revolucionar o conhecimento do Sistema Solar Exterior, que se pensava apenas formado pelos planetas exteriores e pela Nuvem de Oort; os Centauros servem de "laboratórios" para o estudo de cometas distantes, nomeadamente para conhecer os processos que ocorrem nas superfícies destes. Por tudo isto se torna tão importante o estudo de Centauros e objectos de Kuiper em geral, uma vez que nos poderão levar a entender a origem e a relação entre os corpos gelados do Sistema Solar Exterior e a sua formação.
Dra. Elsa Alexandrino
CAAUL