Foram publicados, no mês passado, os resultados de um estudo realizado na Europa destinado a averiguar a relação existente entre os europeus e a Ciência. O documento "Os Europeus, a Ciência e a Tecnologia", apresentado em Bruxelas pelo comissário europeu responsável pela pasta da investigação, põe a claro um afastamento real entre a Ciência e os cidadãos da Europa. Os resultados deste estudo revelaram, ainda, que os portugueses estão, mais uma vez, e a par do que acontece noutras áreas, na cauda da tabela europeia. De facto, os portugueses são aqueles que se consideram menos informados sobre questões de Ciência e Tecnologia. Num país onde os hábitos de leitura são extremamente reduzidos, não surpreende que 79% dos inquiridos declare que raramente lê artigos sobre temas científicos. Este resultado é ainda menos surpreendente se considerarmos que são poucas as publicações nesta área em língua portuguesa. Além disso, o meio privilegiado e eleito pela maioria dos inquiridos para a divulgação destes assuntos, a televisão, não aposta em temas científicos e tecnológicos, deixando uma grande lacuna no panorama audiovisual nacional.
A imagem que a população tem sobre os cientistas é, também, reveladora dos poucos laços de comunicação que se estabelecem entre os cidadãos e os investigadores profissionais. Neste ponto, a responsabilidade é, em larga escala, dos "fazedores de Ciência" que, por incapacidade ou por falta de vontade de divulgarem o seu trabalho, impedem que a Ciência tenha uma visibilidade mais alargada. Iniciativas como a Semana da Ciência e da Tecnologia, aqui referida no número anterior, são exemplo daquilo que se deve fazer a fim de estabelecer pontos de comunicação entre os cientistas e o resto da população.
A "crise de vocações" científicas que se regista a nível europeu é, igualmente, tema preocupante para cerca de 60% dos inquiridos. As causas avançadas para esta crise residem, segundo a opinião das pessoas questionadas, no facto de o ensino das ciências não ser interessante, e de se reconhecer que as carreiras científicas não oferecerem boas perspectivas profissionais. Neste ponto, cabe aos governos promoverem uma cultura científica de excelência e providenciarem as condições necessárias para a dignificação da actividade científica.
Da nossa parte, e neste novo ano que começa, é nosso propósito continuar a contribuir para contrariar este panorama preocupante, quer através da publicação deste boletim mensal, quer através da promoção das já conhecidas "Palestras Públicas no OAL" e da edição de notícias de Astronomia e Astrofísica em português ("Astronovas. "). Um pequeno contributo que esperamos que continue a chegar a um número cada vez maior de pessoas.
Doutor José Carlos Correia