E no entanto... Na verdade, as descobertas astronómicas dos últimos anos levam a prever que, nas próximas décadas, a astrobiologia poderá vir a tornar-se a área da Astronomia mais dinâmica, empolgante e excitante, dominando o panorama astronómico. Após a descoberta de mais de oitenta planetas extra-solares, a convicção de que planetas podem ser muito comuns no Universo ganha força. Embora os planetas descobertos sejam todos planetas gasosos do tipo de Júpiter, tudo leva a crer que planetas como a Terra deverão existir também. Fica assim preenchido um requisito fundamental para a existência de vida extra-terrestre: a existência de um local físico com condições ambientais que possam ser propícias ao aparecimento e desenvolvimento de vida.
Nos últimos anos, tem-se descoberto que a vida pode existir em condições físicas extremas. Existem bactérias que sobrevivem nas calotes polares geladas da Terra. Outras espécies vivem em fontes geotérmicas a temperaturas de mais de 150 graus Celsius. Nas profundidades dos oceanos, bem longe de qualquer réstea de luz do Sol, vivem e desenvolvem-se comunidades completamente independentes da energia solar.
Por outro lado, os estudos do meio interestelar revelam a existência de moléculas orgânicas em grande quantidade, um pouco por todo o Universo. Desde moléculas simples como a água, até moléculas complexas e fundamentais para a vida como os aminoácidos, todas têm sido encontradas em muitos locais do Universo.
A existência ou não de vida microbiana - presente ou passada - em Marte, é uma questão que não está ainda resolvida. Futuras missões ao planeta vermelho, equipadas com instrumentos concebidos para procurar essa evidência de vida, poderão dar uma resposta adequada. Dados os sinais de existência de água líquida no passado de Marte, resta saber se durante esse período "líquido" houve tempo para o aparecimento de alguma forma de vida, que tenha sobrevivido no subsolo de Marte ou tenha deixado fósseis a descobrir.
Também relativamente pertinho de nós, no Sistema Solar, existe outro local onde são elevadas as probabilidades de existir vida. Trata-se de Europa, um dos quatro satélites de Júpiter, muito fácil de ver com o auxílio de binóculos ou de um pequeno telescópio. Esta lua de Júpiter possui uma crosta de gelo, por baixo da qual deverá existir um oceano de água líquida. Este facto, aliado à existência de moléculas orgânicas e de uma fonte de energia, faz com que Europa seja um local muito promissor para a existência de vida.
Num futuro não muito distante, uma missão espacial destinada a procurar sinais de vida em Europa poderá revelar que afinal a Terra não é o único local do Universo onde a vida se desenvolveu. Por muito primitiva que seja alguma forma de vida que se venha a encontrar em Europa, o impacto de uma tal descoberta será muito profundo. Correspoderá ao início de uma era em que passaremos a achar natural a ideia de um Universo que pulula de vida, ao contrário do paradigma de Universo que hoje domina nas nossas consciências (onde somos a única forma de vida). Terminaria assim a revolução coperniana, que retirou a Terra do centro do Universo, à qual se seguiu a descoberta que também o Sol não se encontra no centro da nossa Galáxia, e que esta é apenas uma de entre muitos milhões de galáxias do Universo. Por fim, talvez venhamos a saber que a espécie humana é apenas uma forma de vida e que outras existem que partilham connosco a beleza do céu nocturno.
A placa transportada pelas Pioneer 10 e 11: destinada a ser encontrada por uma civilização extra-terrestre?Prof. Doutor João Lin Yun