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Notícias

O "rei" da Cintura de Kuiper

Astrónomos do instituto Caltech (EUA) descobriram recentemente um novo corpo gelado nos confins do nosso Sistema Solar. Este novo objecto, que parece ter mais de metade do diâmetro de Plutão, encontra-se situado na chamada "Cintura de Kuiper", e junta-se aos mais de 500 objectos do mesmo tipo descobertos na última década.

A "Cintura de Kuiper" (CK) é constituída por inúmeros pequenos corpos gelados que orbitam o Sol a distâncias superiores à descrita pela órbita de Neptuno (estes corpos são também designados por objectos trans-neptunianos). Na realidade, esta região não é mais do que um enorme reservatório de corpos cometários. Pensa-se que a maior parte dos cometas de curto período sejam provenientes da CK.

Imagem em que foi descoberto o novo objecto da cintura de Kuiper "Quaoar". Cortesia de C. Trujillo e M. Brown (Caltech).
Embora a existência destes corpos já estivesse prevista há algum tempo, o primeiro objecto catalogado como pertencente `a CK foi descoberto apenas em 1992. Desde então já foram descobertos centenas de outros corpos.

A nova descoberta tem no entanto consequências mais importantes. O novo corpo, que tem o nome de 2002LM60 (e é apelidado informalmente de "Quaoar", um deus dos índios da América do Norte), foi descoberto em Junho passado em imagens obtidas pelo telescópio Oschin de 1,2 metros, no Observatório do monte Palomar (EUA). Depois da descoberta, os astrónomos pesquisaram os arquivos de vários observatórios e encontraram o Quaoar em imagens que datam de 1982. A determinação da posição do objecto nestas duas épocas permitiu então determinar que este corpo efectua uma órbita quase circular em torno do Sol, à distância de 43 unidades astronómicas (6,5 mil milhões de km), isto é, a uma distância da nossa estrela que não é muito maior do que a distância média de Plutão do Sol (cerca de 39,5 unidades astronómicas).

Estes estudos foram em seguida complementados com imagens obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble, que permitiram determinar o diâmetro do Quaoar: cerca de 1300km. Este valor corresponde a aproximadamente metade do tamanho de Plutão. Por outras palavras, o Quaoar é o maior objecto encontrado na CK, e um claro rival para Plutão.

Figura comparando o tamanho da Lua, Plutão e Caronte, e o novo objecto da cintura de Kuiper, Quaoar.
Cortesia de NASA, A. Feild e G. Bacon (STScI).
A descoberta de objectos trans-neptunianos de grandes dimensões (dos quais o Quaoar é o melhor exemplo) acontece numa altura em que a comunidade astronómica reconsidera a definição de Plutão como planeta. As características deste assemelham-se em muito às observadas nos mais de 500 objectos da CK até agora descobertos. Plutão parece ser apenas o maior objecto da CK detectado até aos nossos dias. Na realidade, é claramente aceite que se o "nono planeta" do Sistema Solar fosse descoberto hoje, seria com certeza classificado como Objecto da Cintura de Kuiper.
 

Um buraco negro no centro da Via Láctea

Desde há vários anos que uma quantidade de evidências tem vindo a ser acumulada sobre a existência de um buraco negro no centro da Via Láctea. No entanto, até agora, a grande maioria dessas evidências, provenientes da medição do movimento de estrelas próximas do centro da Galáxia ou de estudos da radiação-X provenientes da mesma zona, não permitia excluir outras explicações, tais como a simples existência de uma concentração de estrelas muito elevada.

Uma equipa de astrónomos europeus parece ter agora encontrado provas claras sobre a existência de um buraco negro no centro da Via Láctea. Usando o telescópio NTT (New Technology Telescope) do ESO, em La Silla (Chile), a equipa de astrónomos liderada por um grupo do Max-Planck Institute for Extra-terrestrial Physics (Alemanha) mediu, durante um período de 10 anos, o movimento das estrelas que estão próximas do centro da Galáxia. Observando o seu movimento, os astrónomos constataram que a região central da Galáxia contém uma zona extremamente densa, com uma massa de cerca de 3 milhões de vezes a massa do nosso Sol espalhada por apenas 10dias-luz (para comparação, a distância entre o Sol e a estrela mais próxima é de cerca de 4 anos-luz) em torno da fonte de rádio e raios-X SgrA*.

Estas observações, não sendo ainda suficientemente precisas, foram complementadas recentemente com imagens obtidas através do telescópio VLT, usando o NACO, um instrumento que possibilita a obtenção de imagens extremamente nítidas do céu, já que permite corrigir os efeitos da turbulência atmosférica.

Imagem da zona central da Galáxia obtida com o instrumento NACO, no Very Large Telescope (ESO, Chile). As setas denotam a posição do buraco negro central. Cortesia ESO.
A resolução conseguida com este instrumento, juntamente com imagens de alta resolução obtidas com radio-telescópios, permitiu determinar o movimento orbital de uma estrela que se encontra particularmente próxima do centro da Galáxia. O resultado é espantoso: a estrela, denominada S2, orbita SgrA* numa órbita elíptica perfeita (ver figura). A análise desta órbita permitiu determinar os parâmetros orbitais desta estrela com grande precisão, bem como a massa do objecto central (SgrA*).
 

Imagem que reproduz a órbita da estrela designada por "S2´´ (ver imagem à esquerda) em torno de SgrA*, no centro Galáctico. Cortesia ESO.
As observações mostram que a SgrA* se encontra realmente no centro da Galáxia. Mas mais importante, estas observações provam que toda a massa existente no centro da Via Láctea se encontra num volume ainda mais pequeno do que o previamente imaginado. Estes resultados parecem excluir outras explicações previamente discutidas, tais como a existência de um enxame compacto de estrelas de neutrões ou de estrelas de pequena massa. A única explicação que agora parece possível passa pela existência de um buraco negro com cerca de 2,6 milhões de vezes a massa do Sol.

Estes resultados têm inúmeras implicações. Desde há várias décadas que se pensa que existem buracos negros supermassivos no centro de outras galáxias. Estes foram teorizados para explicar as enormes quantidades de energia provenientes dos quasares (que se encontram no centro dessas galáxias), e que se pensam ser provenientes da queda de matéria no buraco negro central. No entanto, até agora não tinha sido possível provar a existência de buracos negros com massa suficiente para explicar o observado. A descoberta agora anunciada colmata exactamente essa lacuna.
 

Doutor Nuno C. Santos 



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