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Notícias de Marte

  Quem já se esqueceu do Spirit e do Opportunity, os robôs da NASA que há mais de um ano "aterraram" em Marte e começaram a explorar, no solo, o planeta vermelho? Incrivelmente, após 15 meses de pesquisa, quase cinco vezes o tempo inicialmente previsto para as missões, ambos os robôs continuam a funcionar bem, enviando imagens e resultados de análises ao solo marciano para a Terra.
  O Spirit foi o primeiro a chegar a Marte, no dia 4 de Janeiro de 2004, seguido três semanas depois pelo Opportunity, no lado oposto do planeta. As primeiras imagens, do Spirit, revelaram uma planície cheia de rochas, com alguns montes e crateras no horizonte (veja a capa deste boletim para uma visão espectacular de Marte). Para o Spirit, o primeiro objectivo foi uma cratera a cerca de 300 metros do local de aterragem, já que poderia possibilitar o acesso a camadas de rochas no sub-solo.

Nesta imagem paronâmica, o Spirit detectou dois pequenos remoinhos de areia (as manchas ténues indicadas pelas setas vermelhas). É a primeira vez que o fenómeno é fotografado com este detalhe, em Marte. Cortesia: NASA/JPL
  O Opportunity, por seu lado, acertou em cheio numa pequena cratera de 22 metros de diâmetro, a qual foi objecto de um estudo minucioso durante as primeiras seis semanas. Aí descobriu evidências de que a rocha havia estado, num passado distante, exposta a água salgada, podendo mesmo ter sido em parte formada pela movimentação desta água. Após estes primeiros estudos, os robôs começaram as suas viagens em solo marciano, viagens essas que ainda prosseguem.
  Até hoje, as sondas percorreram mais de sete quilómetros (quatro para o Spirit, três para o Opportunity), obtendo e enviando para a Terra cerca de 72 mil imagens e resultados de análises a rochas encontradas nos seus percursos. Os painéis solares, que providenciam a energia necessária para as actividades dos robôs, mantêm-se operacionais - nalguns dias, com menos eficiência, noutros com mais, possivelmente devido a ventos que limpam a areia acumulada na sua superfície. Aliás, o Spirit acaba de obter imagens de pequenos remoinhos de areia que ocasionalmente varrem a superfície do planeta...
  Até quando o Spirit e o Opportunity vão funcionar não sabemos, mas as descobertas por eles efectuadas ultrapassam já em muito as melhores previsões dos seus construtores. Continuaremos atentos ao seu progresso...


José Afonso
CAAUL/OAL
 

Spitzer revela galáxias invisíveis

  O telescópio espacial Spitzer acaba de confirmar a existência de galáxias poderosas, extremamente ricas em poeira, no Universo distante. Apesar de brilharem intensamente no infravermelho, sendo mesmo dos objectos mais brilhantes no Universo, estas galáxias são invisíveis no óptico, obscurecidas pela poeira que contêm.
Para as galáxias ultraluminosas no infravermelho agora detectadas pelo Spitzer, a espectroscopia revela a assinatura inconfundível da poeira. A diminuição de brilho evidente à direita neste espectro é causada pela presença de silicatos. A localização específica desta absorção revela a distância a estas galáxias: 11 mil milhões de anos-luz. Cortesia: NASA/JPL-Caltech/J. Houck (Un. de Cornell).
  A Astronomia de infravermelho atingiu a maioridade apenas na década de 80, com o telescópio espacial IRAS (Infrared Astronomical Satellite). Um dos seus maiores resultados científicos foi a descoberta de galáxias no Universo Local que, apesar de parecerem normais no óptico, brilham extraordinariamente no infravermelho. Os estudos efectuados primeiro com o IRAS, e posteriormente com o ISO (Infrared Astronomical Observatory), revelaram que estas galáxias possuem uma quantidade de poeira extremamente elevada. Aquecida por uma formação explosiva de estrelas ou, nalguns casos, um buraco negro supermassivo, esta poeira emite abundantemente nos infravermelhos. Mais ainda: a actividade nestas galáxias parece ter origem numa colisão com galáxias vizinhas num passado não muito distante.
  Um dos objectivos do novo telescópio de infravermelhos Spitzer era o de descobrir se estas galáxias, cuja quantidade de poeira pode ser tão elevada que a emissão no óptico é completamente obscurecida, existem no Universo distante. Para tal, uma equipa de astrónomos usou o Spitzer para observar uma região do céu que possuia já imagens muito sensíveis no óptico. Comparando as imagens no óptico e no infravermelho, onde milhares de galáxias são evidentes, os investigadores identificaram 31 galáxias que são apenas detectadas com o Spitzer. O passo seguinte consistiu em observar estas galáxias com o espectrógrafo de infravermelhos do Spitzer, de modo a identificar a presença de poeira e a estimar a distância a estas galáxias. Para 17 destes objectos, as observações não deixaram dúvidas. Tratam-se de galáxias com quantidades apreciáveis de poeira (silicatos) a cerca de 11 mil milhões de anos-luz de distância - estamos pois a observar objectos nos primeiros 25% da idade do Universo.
  Estas galáxias estão entre os objectos mais luminosos do Universo, se bem que essa luminosidade esteja principalmente no infravermelho. Os astrónomos pensam que no meio desta poeira, aquecendo-a e fazendo-a brilhar, possam estar quasares, que devem a sua actividade a buracos negros supermassivos no centro de galáxias. Que estas galáxias existam no Universo longínquo, primitivo, constitui um dado fundamental para compreender a formação e evolução de galáxias no Universo, algo que os modelos agora devem considerar.


José Afonso
CAAUL/OAL
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