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(Versão do Boletim em PDF)

Ao encontro de Vénus

Após quase meio ano a vaguear pelo espaço interplanetário, a sonda "Vénus Express" da Agência Espacial Europeia (ESA) chegou ao seu destino. Uma viagem de mais de 400 milhões de quilómetros que promete ajudar a desvendar alguns dos mistérios do planeta.


Composição de imagens obtidas pela sonda "Venus Express" do Pólo Sul de Vénus, pouco depois de ter chegado ao planeta (ainda a uma distância de mais de 200 mil quilómetros). A imagem mostra o lado diurno do planeta (à esquerda) e o lado nocturno (à direita). O turbilhão observado está ainda a intrigar os astrofísicos. Cortesia:ESA/INAFIASF, Roma, Itália, e Observatoire de Paris, França.

De todos os planetas do Sistema Solar, Vénus é para muitos o mais parecido com a Terra. Com um raio apenas 5% menor do que o do nosso planeta, tem uma massa que é aproximadamente 0,8 vezes a massa da Terra. Infelizmente, o constituinte principal da sua espessa atmosfera, 90 vezes mais densa do que a da Terra, é o dióxido de carbono (CO2), e nas altas camadas da atmosfera existem nuvens de ácido sulfúrico. Para completar o cenário, o efeito de estufa provocado pelo CO2 é de tal forma elevado que a temperatura à superfície de Vénus ultrapassa os 400 graus centígrados.

Nestas condições, nenhuma sonda enviada até hoje, entre as quais constam as famosas sondas russas Venera (nos anos 70), pôde sobreviver por mais do que uma escassa hora até ser destruída.

A única forma "razoável" de estudar Vénus é assim observando-o do exterior. No início da década de 90, a sonda Magalhães (da NASA) colocou-se em sua órbita, e usando imagens de radar construiu um mapa tridimencional do planeta. No entanto, muitos mistérios ficaram por resolver, em particular no que respeita à origem, dinâmica e química da espessa atmosfera.

Para resolver alguns destes mistérios, a ESA lançou a 9 de Novembro de 2005 a sonda "Vénus Express". Esta sonda chegou no passado dia 11 de Abril ao planeta. Viajando a uma velocidade de aproximadamente 29.000 km/h, teve então de ligar o seu motor principal durante 50 minutos para poder travar até uns "modestos" 25.000 km/h, suficientes para que a acção gravitacional de Vénus "capturasse" a sonda.

Durante as próximas semanas, a "Vénus Express" vai efectuar uma série de manobras para se colocar numa órbita polar (que passa pelos pólos) em torno do planeta. De uma altura de cerca de 66.000 km vai então estudar a atmosfera de Vénus, usando vários instrumentos.

Em particular, vai medir a temperatura e composição química da atmosfera e das nuvens em grande detalhe. Entre os mistérios a desvendar, está o facto de os ventos na atmosfera de Vénus se deslocarem a uma velocidade estonteante (cerca de 300-400 km/h), dando uma volta ao planeta a cada quatro dias. Mais ainda, a sonda será a primeira a utilizar sensores ópticos para observar a superfície de Vénus. Para tal, vai observar em certos comprimentos de onda de infra-vermelho para os quais a atmosfera é relativamente transparente. Um dos objectivos passa por tentar descobrir zonas mais quentes, que possam indiciar a existência de actividade vulcânica. Finalmente, dado que Vénus não possui um campo magnético como a Terra, o vento solar interage directamente com as altas camadas da atmosfera do planeta. A sonda vai recolher dados para os cientistas tentarem perceber, entre outras coisas, a quantidade de atmosfera que é "arrancada" ao planeta devido a esta interacção.

Nuno Santos
CAAUL/OAL
 

Um buraco negro... binário

Uma equipa internacional de astrónomos acaba de revelar a descoberta de um sistema binário de buracos negros em formação. Através de imagens obtidas com o Observatório de raios-X Chandra, os investigadores confirmaram que os dois corpos, já anteriormente revelados no rádio, se encontram gravitacionalmente ligados, no processo de formação de um sistema binário.

Esta imagem revela a emissão em raios - X (azul) e rádio (rosa) proveniente do centro do enxame de galáxias Abell 400. A emissão difusa em raios-X provém do gás quente (a milhões de graus) abundante no espaço intergaláctico do enxame. Os jactos visíveis no rádio são formados no ambiente energético em torno de dois buracos negros supermassivos ligados gravitacionalmente (os pontos mais brilhantes na imagem). Cortesia: Raios-X: NASA/CXC/AIfA/D.Hudson e T.Reiprich (Universidade de Bona); Rádio: NRAO/ VLA/NRL.

Os enxames de galáxias podem albergar inúmeros exemplos de interacções e colisões entre galáxias, como já tem sido notícia neste boletim. O enxame Abell 400 possui no seu centro uma fonte de rádio bastante intensa e complexa, sendo aparentes jactos de material reveladores da existência de um (ou mais) buracos negros activos.

As observações de raios-X agora anunciadas distinguem claramente duas fontes muito energéticas no centro desta actividade - dois buracos negros de grande massa. A comparação com o óptico revela que cada um destes buracos negros se encontra no centro de uma galáxia, e que estas galáxias se encontram em colisão.

Os novos dados mostram que os dois buracos negros (e respectivas galáxias) se encontram em movimento através do enxame, a mais de 1200 km/s. É devido a este movimento que o plasma responsável pela emissão no rádio, ejectado devido à actividade dos buracos negros, vai sendo deixado para trás, originando a estrutura extensa observada naqueles comprimentos de onda (ver imagem).

O movimento conjunto dos dois buracos negros deixa poucas dúvidas sobre o estado ligado destes corpos, cuja "união" se terá dado aquando da colisão entre as galáxias que os albergam. Este sistema está contudo a perder energia, pelo que dentro de alguns milhões de anos os dois buracos negros coalescerão, formando um único buraco negro gigantesco. Tal evento originará perturbações gravitacionais, que se propagarão pelo Universo. Para a próxima década encontra-se já prevista a colocação de detectores destas ondas gravitacionais em órbita solar, autênticos telescópios que nos ajudarão a compreender este tipo de fenómenos.

José Afonso
CAAUL/OAL
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