Página - 1* A Galáxia NGC 5866, uma pose de perfil para a foto. 2* Ensinar Astronomia
* Agenda
3* Um problema cosmológico resolvido?
* A génese da Via-Láctea
4* Observar "chuvas de estrelas" 5 6* Para Observar em Outubro
  VISIBILIDADE DOS PLANETAS
  Alguns Fenómenos Astronómicos
  Fases da Lua
* Astro Sudoku
7* O Céu de Outubro
* Nascimento, Passagem Meridiana e Ocaso dos Planetas
(Versão do Boletim em PDF)

Plutão o planeta anão

Durante séculos a única ferramenta que a Humanidade possuiu para observar o céu foi a sua visãos. Desprovidos de qualquer instrumento tecnológico que os auxiliasse na compreensão dos fenómenos que presenciavam, atribuíam a corpos celestes designações baseadas naquilo que observavam. Numa noite de boa visibilidade e num local longe de poluição luminosa, é possível observar sem o auxílio de qualquer instrumento, miríades de objectos celestes. Embora se possa claramente ver que os objectos que mais sobressaem são as estrelas, existem no entanto outros corpos que aparentam mover-se no céu em relação ao "pano de fundo" de estrelas. Foram precisamente estes corpos que despertaram a curiosidade nas pessoas da Antiguidade, que observavam o seu "movimento" acabando por atribuir a estes objectos a designação de "planetas", expressão proveniente da palavra grega "errantes".

Ilustração artística dos oito planetas e três planetas anões do Sistema Solar. Créditos: União Internacional de Astronomia / Martin Kornmesser.

O desenvolvimento lado a lado da Ciência e Tecnologia veio proporcionar uma compreensão mais aprofundada do Universo que nos rodeia. Métodos de observação e de análise continuam a ser melhorados, fornecendo muitos mais dados acerca dos corpos celestes.

Será de esperar então, que este desenvolvimento da Ciência/Tecnologia venha consequentemente colocar em causa alguns conceitos centenários. No caso dos "planetas", hoje possuímos muito mais conhecimento acerca destes objectos do que o simples facto de estes se "moverem" em relação ao "pano de fundo das estrelas".

A descoberta de novos objectos, nas regiões exteriores do Sistema Solar, com dimensões comparáveis e mesmo superiores às de Plutão, vieram colocar em causa o significado da palavra que tantas vezes usamos no quotidiano - "planeta".

Na 26ª Assembleia Geral da União Astronómica Internacional, realizada em Praga, na qual participaram mais de 2500 astrónomos, foi votada uma resolução que visou a criação de uma definição científica de "planeta". Tendo esta resolução sido aprovada, a palavra "planeta" passou a ter um novo significado. Todos os corpos no nosso Sistema Solar, com a excepção dos satélites naturais, foram integrados em três categorias: Planeta, Planeta Anão e Pequenos Corpos do Sistema Solar. Para se enquadrarem em qualquer uma destas três categorias, os corpos celestes têm de obedecer aos seguintes requisitos:


1- Um Planeta é um objecto celeste que:


a) se encontra em órbita em torno do Sol;

b) se encontra em órbita em torno do Sol;possui massa suficiente para se manter em equilíbrio hidrostático (possuindo assim uma forma aproximadamente esférica);

c) tenha a vizinhança da sua órbita "livre" de outros objectos.


2- Um Planeta Anão é um objecto celeste que:


a) se encontra em órbita em torno do Sol;

b) possui massa suficiente para se manter em equilíbrio hidrostático (possuindo assim uma forma aproximadamente esférica);

c) não tenha a vizinhança da sua órbita "livre" de outros objectos;

d) não seja um satélite.


3- Todos os outros objectos que não se enquadram nas categorias acima descritas, serão designados colectivamente como Pequenos Corpos do Sistema Solar.


As definições acima referidas são feitas no contexto do Sistema Solar. Para generalizar as definições de Planeta e de Planeta Anão, basta acrescentar que estes dois tipos de objectos orbitam uma estrela (no caso do Sistema Solar, o Sol) sem que eles próprios sejam estrelas. É que existem no Universo muitos sistemas binários, em que duas estrelas se orbitam mutuamente e obviamente nem uma nem outra é um planeta.

Segundo esta resolução, Plutão, historicamente reconhecido como o nono planeta do Sistema Solar, passou a ser um planeta anão. A sua despromoção tem origem no facto de a órbita deste corpo residir numa zona conhecida por albergar muitos outros objectos e designada como Cintura de Kuiper. Com este facto, a vizinhança da órbita de Plutão não se encontra "livre" de outros corpos e consequentemente Plutão não obedece a um dos requisitos da nova definição de planeta. No entanto, Plutão não se encontra sozinho na sua nova categoria. Em 2003, foi descoberto em órbita do Sol, também na Cintura de Kuiper, um corpo com dimensões iguais ou mesmo superiores à do novo planeta anão, ao qual foi atribuído o nome provisório de 2003 UB 313. Devido ao facto de este se encontrar nas mesmas condições que Plutão, face aos requisitos da definição de planeta anão, o 2003 UB 313, popularmente conhecido como Xena foi também enquadrado na categoria de Plutão, assim como Ceres - o maior asteróide da Cintura de Asteróides. Corpos como os cometas e a maioria dos asteróides e objectos Trans-Neptunianos, passaram a ser classificados como Pequenos Corpos do Sistema Solar.

É provável que sejam anunciados mais planetas anões nos próximos meses, como é o caso de alguns dos maiores asteróides, e talvez hajam ainda dezenas à espera de serem descobertos.

O Sistema Solar pode ter "perdido" um planeta, mas "ganhou" três novos planetas anões.

João Retrê
OAL
© 2006 - Observatório Astronómico de Lisboa