Go backward to O Catálogo de Messier I
Go up to Top
Go forward to Próximas Palestras

Missões Espaciais Astronómicas ( O Resto do Universo (cont.)

José Manuel Afonso jafonso@astro.cc.fc.ul.pt

Um pouco antes da meia-noite de 18 de Junho de 1962, um pequeno foguete foi disparado no Novo México. A bordo transportava três contadores Geiger, que tinham como objectivo detectar emissões de raios-X da Lua. Durante alguns minutos, os novos "olhos" da astronomia abriram-se para o Universo. Ao contrário de todas as expectativas, não viram a Lua. Também não viram as estrelas mais brilhantes nem a Via Láctea. Apenas detectaram um brilho fraco e uniforme por todo o céu e, ainda mais inesperadamente, uma fonte muito brilhante em raios-X na constelação do Escorpião (Scorpius X-1), numa posição onde anteriormente não era conhecida nenhuma estrela ou fonte de rádio.

Este voo marcou o início da astronomia de raios-X. A partir deste momento, esta "nova" astronomia teve um avanço tecnológico incrivelmente rápido. Em apenas 3 décadas, a astronomia de raios-X percorreu um caminho que demorou ao óptico mais de 300 anos. Um dos marcos deste percurso foi a colocação em órbita do Einstein Observatory, em Novembro de 1978. Da responsabilidade da NASA, as observações deste observatório espacial constituíram, literalmente, uma nova janela para o Universo.

Na astronomia, os raios-X são a marca de gás muito quente, a temperaturas superiores ao milhão de graus. Este gás pode ter sido ejectado numa explosão de supernova, ou estar em queda para um objecto compacto, como uma estrela-de-neutrões ou um buraco negro (o que se pensa acontecer na Scorpius X-1), ou ainda ser o gás pouco denso que ocupa o espaço inter-galáctico nos aglomerados de galáxias. As observações do Einstein Observatory revelaram precisamente um pouco de todas estas fontes.

As coroas das estrelas são formadas por gás muito pouco denso e a temperaturas que atingem vários milhões de graus, sendo pois fortes emissoras de raios-X. Tal é observado no Sol e o Einstein descobriu que muitas estrelas normais têm coroas ainda mais quentes que a nossa estrela, ao que parece por possuírem uma rotação mais rápida. Também o gás ejectado por uma explosão de supernova emite raios-X (ver figura). Acelerado até velocidades de milhares de quilómetros por segundo, embate com o gás interestelar e aquece, atingindo os 50 milhões de graus.

Os restos da supernova de Tycho , na Cassiopeia.

Para além da Via-Láctea, o Einstein Observatory mostrou uma imagem muito diferente do Universo. A galáxia de Andrómeda, conhecida como uma espiral brilhando difusamente pela luz conjunta de estrelas demasiado fracas para serem detectadas individualmente, aparece em raios-X como um aglomerado extenso de algumas dezenas de pontos luminosos. Estas fontes de raios-X são originadas pelo fluxo de gás de uma estrela para uma estrela-de-neutrões companheira ou para um buraco negro próximo, e é a fricção que o gás sofre nesta queda que o aquece a 100 milhões de graus ou mais.

A parte central da Galáxia de Andrómeda observada em raios-X (em cima) e a visão mais familiar da mesma, em óptico (em baixo).

Mais longe ainda, encontram-se diversos tipos de galáxias activas e quasares, em cujos centros o Einstein observou emissão intensa de raios-X. Nalgumas destas fontes, o fluxo de radiação variou em apenas algumas horas, indicando que as nuvens de gás que produzem a radiação são necessariamente pequenas. Isto veio fortalecer a convicção de muitos astrónomos de que um quasar é a parte central de uma galáxia onde nuvens de gás caiem para um buraco negro.

O Einstein Observatory realizou milhares de observações de nucleos galácticos activos, binários de raios-X, restos de supernovas, estrelas e aglomerados de galáxias, desde o seu lançamento até deixar de funcionar, em Abril de 1981. Os dados obtidos continuam a ser de extrema utilidade no estudo dos objectos emissores de raios-X. Cada vez mais se constata a importância das observações astronómicas em vários comprimentos de onda, como forma de obter uma visão mais completa do Universo.

JMA



Prev Up Next